quinta-feira, junho 29, 2017

Ribeiro Telles e a floresta


Na sequência dos terríveis incêndios de triste memória no Pinhal Interior, e no meio de todas as críticas e recriminações, surgiram nas redes sociais uns textos a recordar as casas dos guardas florestais construídas no Estado Novo, a passar a ideia de que no Estado Novo quase não havia incêndios por causa das políticas seguidas,  e no fundo a louvar Salazar e a recriminar o regime actual.
É verdade que havia mais vigilância florestal. Mas também havia mais população no interior, que começou a abandoná-lo precisamente nas décadas do Estado Novo, levando ao abandono dos campos e de parte importante do território e à desertificação. E sobretudo iniciou-se nesse período uma política florestal que levou ao abandono de campos e de baldios (como descreve Aquilino Ribeiro no romance Quando os Lobos Uivam), à diminuição drástica da pastorícia e ao avanço de espécies arbóreas que muito contribuiriam para os futuros incêndios, em especial o pinheiro bravo e o eucalipto, por razões industriais e económicas. A herança florestal do Estado Novo acabou por ser uma bomba ao retardador.

Em boa hora a Visão recordou uma entrevista de 2003 a Gonçalo Ribeiro Telles. As respostas que dá são como sempre actualíssimas e muito à frente do tempo. Já que algumas das suas ideias foram postas em prática nas cidades, convinha que também o fizessem no campo, e em especial nas florestas.
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sexta-feira, junho 23, 2017

S. João mutilado


Alguém se lembra de algum acidente provocado por balões de S. João? É que não tenho ideia de alguma vezter tido conhecimento de algum. Não será a tal lei aprovada recentemente algo restritiva demais? É que não sendo uma medida temporária, o que aqui temos é a morte dos balões.
Mesmo nas alturas em que não pude ir ao S. João estando no Porto (porque tinha exames, por exemplo), havia uma coisa que não faltava e que estava lá sempre: os pontinhos iluminados no céu, lançados de todos os pontos da cidade. Sempre gostei imenso de os ver, e avistar o primeiro dava-me logo entusiasmo para a noite (quando podia ir, claro).

Este ano, o S. João vai estar mutilado. Se alguém olhar para os céus, e a não ser que haja infractores, vai parecer-lhe outra noite qualquer.


quarta-feira, junho 21, 2017

Helmut Kohl


A tragédia que varreu o interior centro do país acabou por fazer esquecer o desaparecimento de um dos maiores estadistas alemães e europeus dos últimos cem anos, Helmut Kohl. O antigo chanceler esteve 16 à frente dos destinos da RFA (e 8 de toda a Alemanha unificada), substituindo Helmut Schmidt e pondo cobro a mais de uma década de governos do SPD, com apoio dos liberais do FDP, que passaram a apoiar a sua CDU. Numa década em que coincidiram nos respectivos cargos Reagan, Gorbachov, João Paulo II e Mitterand, constituiu com este último a continuidade do eixo Paris-Bona na liderança da CEE, que permitiu a adesão a países como Portugal e Espanha. Permitiu a entrada de mísseis em território alemão, mas estendeu a mão a Gorbachov, que retirou as tropas soviéticas dos países do Pacto de Varsóvia, e com isto assistiu à queda do Muro de Berlim, e contra todas as crenças e boa parte das opiniões, conseguiu juntar as duas Alemanhas. A reunificação teria um custo social e económico elevado, mas acabou com uma cicatriz profunda e com uma divisão meramente ideológica. Para além do seu papel nos assuntos europeus, no fim da Guerra Fria e na criação da moeda única, o grande legado de Kohl é de facto a reunificação da Alemanha, o que lhe deu um estatuto semelhante ao de Bismarck. O fim do seu mandato de 16 anos acabou manchado pelas acusações de desvios de dinheiro para fins partidários, mas é uma mácula que não o impedirá de ficar na História como um enorme estadista (literalmente, e o seu tamanho gargantuesco de gros gourmand será outra das coisas por que será recordado), um pacificador e indubitavelmente um vencedor.

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segunda-feira, junho 19, 2017

Os culpados e as razões


Eu sei que a tragédia que tem arrasado o Pinhal Interior gera revolta e vontade de culpar algo ou alguém. Mas nada justifica os milhares de moralistas de ocasião que aproveitam a oportunidade para vir com as teorias da conspiração, a sabedoria saloia, apontando os dedos aos "culpados" e aos "perito que nunca fazem nada" - embora me pareça que os peritos são os que mais fazem, ou seja, estudam as situações, divulgam os seus relatórios e esperam que quem de direito actue devidamente.

Mais do que apontar o dedo para toda a parte, cumpre antes de mais actuar no presente e pensar no futuro, que no caso dos incêndios é já amanhã. Diz-se sempre que "isto só muda quando houver uma tragédia". Pois já está a haver uma, ainda pior e mais mortífera do que a que vimos há menos de um ano. Não há mais margem para adiamentos. Os diagnósticos estão feitos, cumpre agir. E todo este pesadelo leva-nos a dois assuntos muito discutidos ultimamente: a prevenção e combate aos incêndios, pois claro, mas também o ordenamento do território. Sim, a coesão territorial não é só levar organismos de Lisboa para o Porto, como muitos julgam. Há que prestar atenção a territórios como Pedrógão Grande, Vimioso, Figueira  de Castelo Rodrigo, Pampilhosa da Serra, Monforte ou Alcoutim, que perderam população, recursos e capacidade de se renovar ao longo das últimas décadas. Que me lembre, já não ouvia notícias da região do Pinhal Interior desde que fizeram a praia artificial de Castanheira de Pêra. Não são só os eucaliptos e o pinheiro bravo os responsáveis por este inferno. A falta de população, que abandonou estas terras em direcção às capitais de distrito e aos subúrbios do litoral, é dos casos mais graves do nosso país nas últimas décadas. Retiram-se das aldeias, dos lugares e dos campos e deixam-nos ao abandono, sob a anarquia do mato e de espécies arbóreas que crescem mais rapidamente. Perdem-se os corta-fogos e os vigilantes da terra. Qualquer relação entre isto e o aumento proporcional dos fogos ao longo dos anos não é mera coincidência.

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sábado, junho 17, 2017

Seis Dias que abalaram o Médio Oriente

 
Passou agora meio século desde a Guerra dos Seis Dias, uma das operações mais retumbantes do século XX. Israel estava nas vésperas do seu vigésimo aniversário, uma curta existência caracterizada por duas guerras e a resistência a um cerco por parte dos (muito maiores) vizinhos árabes. Em fundo, a Guerra Fria, de que a região era um dos principais cenários, sobretudo desde 1956 e a Crise do Suez, após a qual a URSS se tinha voltado definitivamente para o Egipto, ao passo que os EUA continuavam a apoiar o estado judaico. O país liderado por Nasser consolidara o seu estatuto de potência regional, apesar do falhanço na constituição da República Árabe Unida com a Síria. E em 1967, precisamente por receio de um ataque israelita à Síria, o Egipto exigiu a retirada das tropas da ONU presentes no Sinai desde 1956, iniciando um bloqueio ao estreito de Tiran, que dá acesso ao golfo de Aqaba e é a única saída de Israel para o Mar Vermelho, e consequentemente o Índico. Um tal bloqueio, impedindo a livre circulação marítima de um estado, era uma declaração de guerra implícita.

Entre 5 e 10 de Junho de 1967, e em reacção ao cerco do Egipto e a crescentes hostilidades de outros estados árabes, Israel viu-se forçada a actuar mesmo sem a protecção de qualquer outro aliado. As forças armadas israelitas desencadearam um ataque aéreo fulminante e em massa sobre todas as bases áreas egípcias, que arrasando por completo a aviação inimiga em apenas doze horas. O ataque era arriscada, porque deixou Israel sem qualquer protecção aérea, mas constituiu um rude golpe na moral (e no material) do Egipto e espantou o mundo pela audácia, rapidez e eficácia. De imediato, os blindados israelitas penetraram no Sinai, com auxílio da aviação (e sem o perigo de ataques da aniquilada aviação egípcia), cortaram o acesso a Gaza (onde tinham a oposição das forças palestinianas) e confinaram os carros de combate egípcios a terrenos de escassa mobilidade. Em dois dias, as forças árabes estavam dispersas, destruídas ou em fuga, ao passo que as israelitas atingiam o Canal de Suez e a extremidade do Sinai, tomando Sharm-el-Sheik e controlando o estreito de Tiran.

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 A Norte, e depois de sangrentos combates, a infantaria de Israel tomou os montes Golan a uma Síria equipada com armamento soviético mas com deficiente treino e fragilizada pelas purgas entre os oficiais, como consequência dos vários golpes de estado.

A Jordânia, que se tinha colocado do lado dos aliados árabes confiando na força do Egipto, ensaiou alguns ataques de artilharia, o que levou à entrada das forças de Israel na Cisjordânia no dia 6, e à ocupação daquele território, incluindo a Cidade Velha de Jerusalém, o que implicou sangrentos combates rua a rua com os encarniçados resistentes, ainda que os lugares santos da cidade não tivessem sofrido danos. A ocupação do território de aquém-Jordão e sobretudo dos lugares santos de Jerusalém teve um simbolismo religioso e político extraordinários. Israel conseguia o velho sonho de se apoderar de toda a Jerusalém, além de permitir aos judeus o acesso ao Muro das Lamentações, impedido pelas forças jordanas desde 1948.

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A breve guerra, que em seis dias aniquilara forças árabes superiores em número e dera a Israel o controlo de um território maior que o originário, surpreendeu pela eficácia extrema, superior à da Blietzkrieg alemã. Moshe Dayan, ministro dos negócios estrangeiros, e Yitzhak Rabin, o chefe das forças armadas, ganharam um estatuto de líderes militares de excepção e são hoje considerados como dos melhores estrategas do século XX. Nasser, o popular presidente do Egipto, tinha sido tremendamente humilhado, ao contrário do que acontecera em 1956, e resignou ao cargo, mas daria meia volta depois de manifestações a seu favor. Quanto aos territórios ocupados, e apesar da condenação da ONU (sobretudo dos estados árabes), continuariam na posse de Israel, que argumentou com as necessidades da sua própria protecção. Haveria ainda mais uma guerra, em 1973, até que a paz com o Egipto de Sadat, anos mais tarde, em Camp David, permitiria a devolução do Sinai. Quanto a Gaza, permaneceria ocupada até à retirada unilateral em 2005. Os Montes Golan e a Cisjordânia permanecem na posse irredutível de Israel há 50 anos, sem alterações à vista. E os judeus, salvo alguns contratempos provocados pelos vizinhos palestinianos, continuam a poder rezar no Muro das Lamentações.

segunda-feira, junho 12, 2017

Desconclusões das eleições no Reino Unido


Incrível como no espaço de um ano os líderes conservadores ingleses (e primeiros-ministros no cargo) conseguem convocar actos eleitorais quem à partida fortaleceriam a sua posição e saem deles muito mais fracos. O caso de David Cameron é evidentemente muito mais grave, porque para consolidar a sua posição face aos contestatários internos e marginalizar o UKIP abriu caminho ao terramoto do Brexit, que pela primeira vez retirou à União Europeia um dos seus membros e isolou um Reino Unido já sem império. Depois da sua retirada, e da rocambolesca sucessão de candidatos à liderança do partido e do governo, acabou por sobrar Theresa May, então ministra da administração interna, e até ali favorável à permanência na União europeia.
 
May fartou-se de meter os pés  pelas mãos e de dar uma série de tiros nos primeiros, desde prometer uma "saída dura" (ela que até fora semi-europeísta) até jurar que não convocaria eleições antecipadas, passando pelos seus cortes nos efectivos policiais numa altura em que o país é fustigado pelo terrorismo. Semanas depois, anunciava mesmo eleições gerais, para aproveitar o momento, em que as sondagens davam uma maioria ainda mais forte aos tories e previam uma derrota bisonha ao Labour de Jeremy Corbyn, comparando o momento do partido ao do tempo de Michael Foot, o mais esquerdista líder de que havia memória. Pensou, tal como Cameron, que se legitimaria através de eleições e ganharia assim força para prosseguir com o Brexit. Saiu-lhe o tiro pela culatra. Perdeu incrivelmente a maioria absoluta e viu os trabalhistas registarem um grande avanço, coisa impensável semanas antes. E ainda os liberais-democratas a recusarem-se a fazer parte do governo, ao contrário do que sucederam em 2010. Não lhe restou alternativa senão ir a Belfast procurar o apoio dos unionistas norte-irlandeses da DUP para conseguir um frágil governo.
 
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Não há conclusões claras a tirar deste processos. A principal será a de que os políticos britânicos demasiado calculistas e gananciosos acabam por ser castigados nas urnas. Os trabalhistas sobem, os conservadores e os independentistas escoceses descem, os liberais-democratas registam um ligeiro avanço e o UKIP é arrasado, o que não espanta depois da lamentável luta - em sentido literal - pela liderança do partido e o descrédito do bufão Nigel Farage. Mas não se confirma o tal arrependimento dos eleitores em relação ao Brexit, já que os trabalhistas tinham tido uma atitude dúbia e os maiores defensores do Remain tinham sido os lib-dem e os escoceses. e já agora, com o desaire destes últimos, a possibilidade de novo referendo à indpendência da Escócia deve ficar por ora afastada.
 
Theresa May perdeu quase toda a credibilidade que lhe restava, formará um governo frágil que poderá não durar muito tempo, e a possibilidade de Jeremy Corbyn, o velho esquerdista que propõe nacionalizações, chegar ao governo, é bem real. E o processo do Brexit prossegue. Tal como a confusão no momento político.

terça-feira, junho 06, 2017

O estado da situação no Porto, um mês depois do cisma Moreira-PS

 
Já se passou mais de um mês desde que Rui Moreira declinou o apoio do PS à sua candidatura. A minha percepção da coisa não mudou muito desde então, mas preferi esperar que o pó dos acontecimentos políticos assentasse. E não faltaram outra novidades autárquicas, até o regresso de Valentim Loureiro às batalhas eleitorais. Ou do caso Selminho, que voltou como arremesso de lama eleitoral e que promete continuar a dar que falar.
 
Como alguns leitores se lembrarão, votei em Rui Moreira em 2013 e tenciono voltar a fazê-lo. Aliás, andei a fazer campanha nas ruas, por vezes sob a intempérie, onde a alguns dias da eleição já se notava uma notória tendência de voto no candidato que venceu (não há como a campanha porta a porta para se perceber isso, mais do que os comícios que hoje em dia são sobretudo encontros gastronómicos com presença maciça de militantes arregimentados). Pese a parcialidade, tudo isto resulta do que observei nestes 4 anos e no que retiro do momento político actual.
 
O rompimento entre o movimento de Rui Moreira e o PS deu-se após alguns sinais de nervosismo por parte do primeiro, com a discussão de lugares e depois de Ana Catarina Mendes considerar que a eventual vitória de Moreira seria contabilizada como sendo do PS. Pelo meio, já tinha havido o desacordo de inúmeros elementos do PS, do Porto e não só (Francisco Assis, por exemplo), a contestação à liderança distrital de Manuel Pizarro e as acusações sibilinas de Manuel dos Santos, lá da sua prateleira dourada no Parlamento Europeu, para além de algumas divergências de Manuel Correia Fernandes, que detinha o importante pelouro do urbanismo. Mas o acordo firmado em 2013 corria bem, e Pizarro tinha a confiança de Moreira. Não era por ele que as coisas dariam para o torto. Como muitas vezes acontece, os movimentos subterrâneos e as intrigas partidárias acabaram por resultar, com a preciosa ajuda da cúpula política. Não sei se era intencional, mas a verdade é que Ana Catarina Mendes conseguiu implodir o acordo e deixou Pizarro numa situação complicadíssima. Alguns socialistas agradeceram. Outros sentiram-se traídos.
 
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Quem ganhou e quem perdeu? À primeira vista, Moreira ficou sem algumas cruzes no boletim e a quase certeza da maioria absoluta. Mas provavelmente ganhou mais do que perdeu. Ficará com menos votos do que os que teria se o PS o apoiasse, mas conseguiu manter a independência formal do seu movimento e afastar a ideia do "domínio da câmara" por parte do PS (cujos vereadores, de resto, renunciaram aos respectivos pelouros). Mantém o apoio do CDS, que conseguiu sempre manter-se no grupo vencedor de forma sabiamente discreta, e agora do MPT e do Nós, Cidadãos, além do grupo que já o apoiava e que tem várias origens políticas. O grande problema, que afectou o executivo nestes quatro anos, é que o núcleo duro se enfraqueceu com os desaparecimentos de Paulo Cunha e Silva e Manuel Sampaio Pimentel (e outros, infelizmente), ou a partida de Azeredo Lopes. Será esse o principal desafio de Moreira, que até agora só prometeu conservar o pelouro da cultura nas suas mãos. De resto, o plano para a cidade tem-se cumprido, com ênfase nos pilares a que deu maior importância (a cultura, na economia e a coesão social), e a saúde financeira não se afasta muito do rigor dos tempos de Rui Rio. E nalguns casos, como a resolução do problema da Feira do Livro, provou-se que pode haver apostas públicas na cultura sem necessidade de enormes gastos. Mas há mais problemas a resolver, como o do trânsito.
 
Quanto ao PS, fica numa situação muito complicada: não pode criticar o executivo de que fazia parte, não pode apresentar um programa demasiado parecido com o da lista de Moreira, com o risco de se secundarizar, nem afastar-se totalmente, sob pena de ser acusado de oportunismo. Pizarro e os seus camaradas têm aqui um quebra-cabeças difícil de resolver. Até porque se Moreira voltar a ganhar sem maioria, poderá muito bem voltar a precisar da confiança do cabeça de lista do PS (não necessariamente dos outros).
 
O PSD perde também o argumento de que a câmara era "controlada pelo PS (ou, numa deriva incompreensível, pela "extrema-esquerda")". Tem como candidato alguém que parece ser a antítese de Luís Filipe Menezes: o independente, discreto e pouco conhecido Álvaro de Almeida. Mas talvez por falta de experiência e de tacto político, ou por total ausência de ideias, Almeida tem levado a cabo uma campanha absurda, em que acusa Moreira de "não ter cumprido nenhuma promessa" (lembrou-se provavelmente das escadas rolantes para o Palácio de Cristal) e de ser um "traidor", "déspota", "populista", etc. Só falta mesmo chamar-lhe terrorista ou jiadista, mas já não deve faltar muito.
 
À esquerda, o regresso do PS a uma candidatura própria pode ser impeditivo de uma maior capitalização de votos nesse espectro. Nesse sentido, a aposta em nomes conhecidos pode não ser a melhor jogada. A CDU volta a lançar Ilda Figueiredo como candidata à câmara, vinte anos depois da sua última candidatura, e para a assembleia municipal o seu sucessor na vereação, Rui Sá, gabado pelo seu trabalho enquanto vereador com pelouro no primeiro mandato de Rui Rio, numa daquelas improváveis coligações "vodca-laranja". O Bloco de Esquerda jogava forte, com a candidatura de João Semedo, ex-"coordenador" do movimento, com larga experiência política e há muito a viver na cidade (e um dos raros bloquistas do Porto que não é nem actor nem sociólogo). Mas hoje mesmo, por razões de saúde, Semedo desistiu da candidatura à câmara e trocou de lugar com João Teixeira Lopes, passando assim a candidato a deputado municipal. A infeliz circunstância pode diminuir as hipóteses do Bloco conseguir pela primeira vez um lugar na vereação do município, até porque Teixeira Lopes por mais do que uma vez experimentou a mesma candidatura e teve sempre resultados bisonhos.
 
As eleições para a câmara do Porto prometiam ser uma maçadoria, mas afinal aqueceram com estes pequenos terramotos políticos. Será mais uma querela autárquica a seguir, a merecer atenção em algumas matérias importantes para a cidade, embora preveja que a ordem dos resultados vá ser a mesma de 2013. Aliás, não faltam motivos de entretenimento no distrito do Porto: temos os regressos de Valentim Loureiro, de Narciso Miranda (que anuncia a candidatura, mesmo a calhar, no dia do Senhor de Matosinhos), de Avelino Ferreira Torres, e até o filho de Vieira de Carvalho está concorre à Maia. Vá lá que Fátima Felgueiras e Luís Filipe Menezes resistiram à tentação de ver as suas fotos novamente nos cartazes.