quarta-feira, janeiro 04, 2017

Bodas de prata de uma discografia excepcional


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Já estamos em 2017, mas como o ano mal começou e não há ainda grande história, lembrei-me que 2016 tinha sido um ano de bodas de prata para uma época incrível da música pop-rock, sobretudo a do outro lado do Atlântico, e que valia a pena fazer um apanhado.

Em 1991, já há 25 anos, em que Portugal entrou assistindo ao Crime na Pensão Estrelinha, que em poucas horas revelou um par de criações fantásticas de Herman José, foram lançados uma quantidade rara de álbuns que entraram para a história do pop-rock. Começo pelos meus favoritos: Out of Time, onde se insere a hipnotizante Losing My Religion, levou os REM ao grande público, à venda de milhões de discos e a um patamar reservado aos nomes maiores do rock americano, de onde não mais sairiam (e que confirmariam um ano depois, com o muito diferente mais genial Automatic for the People).


Também os U2 fizeram aqui uma viragem na carreira, até de imagem, com o seu Achtung Baby, influenciado, como o próprio nome indica, por Berlim, um disco ligeiramente mais electrónico que os anteriores, menos "militante", ou menos espiritual, mais virado para a mediatização contemporânea, seguido de digressão sofisticada e feérica. Nem por isso deixou de vender milhões em todo o mundo.

E depois, claro, 1991 é o ano do aparecimento súbito do grunge, com os Nirvana à cabeça de um esquadrão de grupos, de Seattle e não só, que ganhou notoriedade sob o uniforme desse subgénero do rock menos polido, mais cru, sem laivos de romantismos charoposos ou metalices inconsequentes. Kurt Cobain quis fazer uma canção "à Pixies", de quem era fã, e saiu Smells Like Teen Spirit, que rebentou pelas MTV fora e levou Nevermind a um dos discos mais idolatrados, vendidos e estudados desses anos. Atrás dele vieram Ten, portentosa estreia dos Pearl Jam, que se tornaria numa das maiores bandas rock das duas décadas seguintes, Badmotorfinger, dos Soundgarden, e, mais discretamente, um disco, Gish,  de um grupo que daria muito que falar poucos anos depois: os Smashing Pumpkins. E curiosamente, os Pixies, que tanto influenciaram Kobain, também lançaram o seu Trompe leMonde, mas nem de longe nem de perto com tanto impacto comercial, ainda que tenham continuado a ser um grupo de culto.

Também nos Estados Unidos, os Metallica levaram o seu Black Album a números e a um êxito junto do público que o heavy metal até aí não tinha conhecido. Deixava de ser um nicho de mercado para passar a ser música de estádio para as grandes massas (ou que não significou necessariamente falta de qualidade, mas algumas "baladas" como Nothing Else Matters ajudaram a chegar a novos públicos).

E também o funk rock ganhou nova visibilidade com o enorme êxito que Blood Sugar Sex Magic, a opus dos Red hot Chili Peppers (até Californication), teve em todo o Mundo, não só nesse ano como nos seguintes, com os riffs mágicos das guitarra em refrões de músicas como Give It Away ou no início de Under the Bridge.

E depois, aquela que era provavelmente a banda mais popular do mundo no início da década não podia ficar de fora. Os Gun´s Roses, pois claro, lançaram não um, mas dois álbuns ao mesmo tempo, Use Your Ilusion I e II, que como não podia deixar de ser, treparam as tabelas de vendas. Aos singles, entre os quais algumas baladas longuíssimas, como November Rain e Don´t Cry , tinham videoclips com  pretensiosismo q.b.. E não faltava também um cover, Knockin on Heaven´s Door, um original de Bob Dylan que se ouvia por toda a parte no Verão de 1992. Mas os Gun´s tinham crescido em demasia, e a esse tempo seguiu-se uma travessia no deserto, com zangas entretanto sanadas (vêm actuar a Portugal daqui a meses com a composição quase original).
 
E para dominar todos os tops, cereja em cima do bolo, também Michael Jackson regressou, anos depois de Bad, com o seu Dangerous e os seus videoclips com actores da moda, e Prince lançou Diamonds and Pearls.
 
Ou seja, dos Estados Unidos não faltou quase ninguém.

No Reino Unido não houve tantos lançamentos de monta, mas também surgiram alguns destaques. Ouvia-se sobretudo o insuportável Stars, dos Simply Red, mas nesse ano apareceram os Blur, com Leisure, ainda ligeiramente shoegazing, mas já a prenunciar a britpop. E os Primal Scream lançavam Screamadelica, com o seu rock dançável ligeiramente psicadélico. Os Genesis regressaram com o bem disposto e comercialmente bem sucedido We Can´t Dance, os Dire Straits editaram On Every Street, sucessor do monstruoso êxito de guitarras que fora Brothers in Arms. E no fim do ano despedia-se Freddy Mercury, depois dos Queen terem lançado o último álbum em vida do seu vocalista, Innuendo, e ainda a tempo de ver o seu Greatest Hits editado.

E por cá? Rui Veloso lançou o Auto da Pimenta, mas Mingos e Samurais, do ano anterior, ainda ecoava e acabou por ser um dos álbuns mais vendidos de 1991. De resto, saliente-se a estreia dos Resistência, e pouco mais. O que quer dizer que, inversamente ao que aconteceu nos Estados Unidos, a discografia pop-rock portuguesa em 1991 é muito curta. A diferença de dimensão não explica tudo. Mas os anos seguintes seriam melhores.

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