domingo, junho 07, 2015

A saída de Jesus



Alguns dias depois do rebentamento da "bomba" e dos efeitos do choque inicial, acho que já se pode opinar com alguma propriedade sobre o caso da transferência de Jorge Jesus.

No início, chocou-me que o homem que tinha assumido a missão de conduzir o Benfica nos últimos anos saísse assim de chofre para o principal rival local. Depois, vindas à superfície as histórias sobre o seu pai e o desejo de o ver a treinar o Sporting, as ligações do passado, o contrato no fim e a vontade de Luís Filipe vieira em mudar a política desportiva e financeira do clube, apostando mais na formação e reduzindo gastos, percebi-o, apesar da mágoa. E por fim, quando soube os contornos das negociações, a vontade de que JJ fosse para o estrangeiro, as tentativas de Vieira em contactá-lo com ideia de manter o salário, e o acordo que Jesus estabeleceu com o Sporting antes de qualquer resposta ao presidente do Benfica, voltei a rogar-lhe pragas: o homem que quando perdeu tudo para o Benfica tinha recebido a confiança do seu presidente contra a opinião de tudo e todos (incluindo a minha, claro), e que além do mais fora remunerado como nenhum outro em Portugal e a quem tinham dado condições excepcionais, traiu a confiança desse mesmo presidente pela calada, sem dizer água vai. Se tivesse anunciado que tinha resolvido aceitar o convite do Sporting antes de passar as coisas para o papel, compreendia-se, apesar de tudo. Assim, a única coisa que fica é uma "facada" nas costas ao homem que o tinha defendido e lhe proporcionou tudo o que ele pediu.


A partida pode fazer rir muita gente e levar outros tantos a dizer que "Bruno de Carvalho vibrou o golpe do século ao Benfica". Também Sousa Cintra tinha feito o mesmo no Verão quente de 1993, lembram-se? De um golpe, levou Paulo Sousa e Pacheco e quase fazia o mesmo a outros como João Pinto. Ao Benfica, já em tremenda crise financeira, previa-se a catástrofe. Ao Sporting, a glória. E afinal, a catástrofe cairia em cima destes últimos com a goleada tremendíssima que sofreram em casa, no mais decisivo dos derbys, com João Pinto como pesadelo máximo dos sportinguistas e a entrar na história do Benfica (e do jornalismo desportivo, porque A Bola, excepcionalmente, deu-lhe nota 10). Curioso notar que o Benfica começaria o seu período negro meses depois ao trocar Toni por Artur Jorge, também considerado "o mais conceituado" técnico português de então. Viu-se.



Tenho as maiores dúvidas que Jesus consiga no Sporting os êxitos que obteve no Benfica. Parece que já todos esqueceram os fracassos, particularmente entre 2010 e 2013, a incapacidade de passar mais do que uma vez em quatro a fase de grupos da Liga dos Campeões, a quantidade de jogadores que teve ao seu dispor e os que passaram sem deixar rasto. Como se o treinador, sozinho, fosse o responsável único por tudo o que de bom aconteceu ao Benfica na última meia dúzia de anos. Depois, a personalidade ditatorialzinha do inenarrável Bruno de Carvalho deixa muito a desejar naquilo que serão as relações com Jesus. Quase que dá para rir imaginar um diálogo (ou uma discussão) entre os dois. Acresce que, sabe-se agora, em caso de despedimento o Sporting terá de pagar integralmente o salário a Jesus. Estarão os grupos suportados por Álvaro Sobrinho e pela Guiné Equatorial dispostos a tanto? E a financiar novas aquisições do Sporting, que com a saída de Nani, bem precisará delas?


Do despedimento de Marco Silva e da respectiva "justa causa", já quase tudo se disse. Uma atitude rasteira, ridiculamente argumentada (aquela de não usar o fato oficial do Sporting com os patrocínios só mesmo para crédulos ou gente sem coluna vertebral), típica de Bruno de Carvalho, que aliás, ainda há meses desmentia toda e qualquer conflito com o treinador e dizia o pior possível de Jorge Jesus.


Do novo treinador no Benfica, há muitos que querem Marco Silva e poucos a quererem o mais provável Rui Vitória. Pertenço a essa minoria, como deixei vincado há dois anos, e parece-me que o ainda técnico do Vitória de Guimarães não vai deixar o Benfica mal servido (para quem acha que não tem "currículo", sugiro que vá ver o de Jesus antes de chegar à Luz). O único receio é que Marco Silva vá parar ao Porto, onde teria inegável êxito. O que eu desejo é sucesso ao próximo treinador do Benfica. Quanto a Jesus, espero que no dia 9 de Agosto comece a sofrer na pele a sua mudança. Desejo que ganhe talvez uma Taça de Portugal, para não ficar assim tão abaixo de Marco Silva, e voltar a homenagear a sua família. E tão só. A sua passagem pelo Benfica é agora passado. E para os que queriam que fosse o Fergusson do Benfica, olhem para o que tem sido a vida do Manchester United desde que o treinador escocês deixou uma vazio difícil de preencher nos mancunians. Provavelmente seria mesma a altura certa para Jesus sair.


Ps: seja como for, aquela ideia de tirar já a imagem de Jorge Jesus do resto da equipa, na megastore do Benfica, parece-me muito infeliz. Não será exactamente estalinismo, mas...

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