sexta-feira, novembro 28, 2014

Uma minoria na presidência da Roménia



Interrompa-se por uns momentos as atenções sobre a prisão (agora efectiva) de José Sócrates e rume-se a outras paragens, para desanuviar. As eleições presidenciais da Roménia, há poucos dias, trouxeram um factor novo (não, não é o falhanço incrível das sondagens que já não é novidade). O favorito a ganhar à segunda volta, que já tinha ganho por larga margem na primeira, o actual  primeiro-ministro socialista Victor Ponta, acabou por ser surpreendentemente derrotado pelo seu adversário, o líder do Partido Nacional Liberal (também do presidente cessante Traian Basescu) e presidente da câmara da encantadora Sibiu Klaus Ihoannis. Para além da surpresa, a novidade é ver um representante duma minoria à frente dos destinos da Roménia. Não é vulgar que isso aconteça em qualquer estado do antigo Pacto de Varsóvia (alguém imagina um judeu ou cigano à frente dos destinos da Hungria?), e ainda menos na Roménia, um país que no passado enviou milhares de judeus para os campos de concentração, desterrou ciganos e turcos para planícies desoladas e expulsou grande parte dos húngaros e germânicos que viviam no seu território havia séculos, pondo termo a uma interessante experiência multiétnica.


Não é o primeiro romeno de etnia saxónica (alemã) a ser objecto de grande reconhecimento nos últimos anos: a escritora Herta  Muller, que entretanto se tinha radicado mesmo na Alemanha, ganhou o prémio Nobel da Literatura em 2009. Se recuarmos muito no tempo, ainda podemos incluir Johnny Weissmuler, o atleta que se imortalizaria no papel de Tarzan. E no entanto, a minoria germânica, que se divide por várias regiões, em especial o Banato e a Transilvânia, que lá habita há vários séculos, está reduzida a umas escassas dezenas de milhares de representantes. Em tempos que já lá vão chegou a ser uma percentagem muito considerável do território da actual Roménia. Foram eles que elevaram cidades como Hermmanstad (Sibiu) ou Kronstad (Brasov), aldeias, igrejas e castelos, e que fizeram a prosperidade daquelas terras, estabelecendo laços comerciais com a Europa central e também com os otomanos. Com a 2ª Guerra, o regime comunista e a confusão que se seguiu à sua querda, a maioria emigrou para suas as origens remotas da Alemanha. ficaram uns poucos, entre os quais Klaus Iohannis, que agora chega ao cargo mais alto da nação. Se os saxões da Roménia perderam muito em número, não parecem ter perdido em relevância nem em influência da vida do país. Ainda vamos ver teóricos da conspiração a ver o longo braço de Merckel estendido até ao Mar Negro...


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