segunda-feira, abril 22, 2013

Os verdadeiros motivos para uma campanha miserável

 
Já lá vão umas semanas, mas não queria deixar fazer referência à chamada de atenção do Declínio e Queda a um post do blogue Cinco Dias, onde se afirma nem mais nem menos que "o que temos que defender é a revolução contra o perigo da democracia, que em quarenta anos nos reduziu a isto". A frase não é uma distracção nem uma gaffe: está lá escrita a negrito, prova que quem a escreveu pensa exactamente isso e quis vincá-lo, sem outras interpretações.
 
Importante é também repararmos na sua autoria: trata-se tão só de Raquel Varela, uma investigadora da FCSH da Nova (onde mais?), que defendeu em tempos que "nunca existiu o risco de o PCP tomar o poder em Portugal” nos anos de 1974 e 1975". A sua apologia da revolução parece contrariar essa tese, até porque se notam nos seus textos amplas simpatias pelo PC. Mas mais interessante ainda é pensar - quem tenha boa memória e não se tenha deixado levar pelo agit-prop - que esta académica foi uma das principais responsáveis, senão a principal, pela violenta campanha lamacenta contra Isabel Jonet em Novembro último, um dos maiores e menos justificados linchamentos mediáticos que tenho visto. Dizia Varela na altura que "a fome é um problema cuja origem reside única e exclusivamente no sistema capitalista" (as fomes na Coreia do Norte, na Ucrânia, na China, no Camboja e na Etiópia, provocadas pelos regimes comunistas, deviam ser meros pormenores) e que "as suas políticas (Jonet) geram fome". Essas afirmações revelavam um radicalismo político, um enviesamento da realidade e uma defesa de teses político-sociais mais que duvidosas que mostravam já muito as verdadeiras intenções da autora: a de, aproveitando declarações potencialmente mais polémicas, fazer um ataque cerrado ao que chamam de "caridadezinha", neste caso ao Banco Alimentar, colando-o ao Governo e acirrando as opiniões, para daí culpar todo um sistema e tentar a disseminação discreta de ideias que sustentassem um modelo diferente. O aproveitamente da crise para fazer germinar ideias revolucionárias é desde há muito conhecido. O uso da fome como argumento (aliás, Varela chamou à sua carta "a comida é uma arma", que caracteriza exactamente o seu método), ligada à habitual ideia da pobreza como uma abstracção teórica, tão típica da esquerda radical e o aproveitamento deturpado de declarações que caíram que nem gingas fizeram o resto a todos os que caíram no engodo (ou quiseram cair).

Agora confirma-se: as motivações de Varela eram totalmente políticas, e desse modo tentou fazer com que as do Banco Alimentar também o fossem. Como disse atrás, tentou-se culpabilizar uma instituição que tira potencial "terreno" ou apoio social às teses mais revolucionárias, eliminando a fome, tão necessária ao aumento do radicalismo político, para afastar um eventual obstáculo à revolta social. Com estas últimas declarações, escarrapachadas, Varela disse ao que vinha: quer a revolução em lugar da democracia, impedida pelo contra-golpe de 25 de Novembro de 1975, e não resolver qualquer problema de fome, que de resto só beneficia o seu projecto revolucionário. Duvido que o consiga, mas em todo o caso é bom vermos confirmadas as verdadeiras motivações dos ataques a Jonet e ao BA. É bom que as pessoas aprendam a distinguir motivações políticas, para mais extremistas, quando se eleve uma polémica para enlamear o bom nome de uma instituição que tanto tem ajudado os mais carentes, tratando-os como pessoas e não como abstracções.

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