terça-feira, janeiro 25, 2011

Resultados



O país (o minimamente interessado, claro está) fala ainda das presidenciais. Tirando os números alcançados na Madeira por Coelho, os resultados não me espantaram muito. Muitos ficaram admirados com os valores da abstenção e dos votos brancos e nulos, como se não fosse uma forte hipótese que se previa lendo blogues, fóruns de opinião e ouvindo conversas de café e autocarro. Só por grande autismo e enorme afastamento da população é que se pode ficar espantado com esse resultado.






Avaliemos, como é regra, os vencedores. Primeiro, Cavaco, porque ganhou, obteve maioria absoluta dos votos expressos em urna e conseguiu ser reeleito à primeira volta, para seu alívio. Na recta final da campanha parecia estar à beira do desespero, mas para sua felicidade esta acabou antes dos eleitores decidirem prolongá-la por mais uns dias. Em Setembro de 2009, depois da sua declaração de que suspeitava de escutas, muitos previam que a sua recandidatura tinha ido por água abaixo. Prova-se agora que esses juízos eram precipitados.



Depois, Fernando Nobre. Apesar de ter ficado em terceiro lugar, figura na galeria dos vencedores por mérito próprio. Sem apoios partidários, com nítidas dificuldades no início da campanha e vatícinios ruins (sem falar nas sondagens), ficou acima do que todos os números previam. Não vai à segunda volta mas é um sério prenúncio para o futuro, ao conseguir reunir na sua candidatura uma paleta muito diferente de apoiantes, muito, muito para além do clã Soares, que muitos opinadores diziam ser o sustentáculo subterrâneo.E, claro, José Manuel Coelho. O deputado regional da Nova Democracia que se diz comunista (!) entrou mesmo à última na corrida, mas, sem grandes apoios nem sequer direito a participar nos debates televisivos, desenvolveu uma campanha em que era simultaneamente o cómico e a melga de serviço, granjeou simpatias por onde passou e ganhou popularidade em todo o país. Também ele ficou à frente de qualquer sondagem, e, coisa inimaginável, por pouco não ficou à frente de Cavaco na Madeira, com impensáveis 38%. Ainda assim, ganhou no Funchal e nos concelhos mais populosos e arreliou seguramente o convalescente Jardim. É o melhor resultado de sempre da oposição madeirense frente ao eterno soba laranja.




E como de vencedores estamos falados, passemos ao empatado: Francisco Lopes. Só ganhou mesmo entre os seus, mas no geral cumpriu, aguentando o eleitorado PC e saindo da penumbra do comité central. Sempre com ar grave e austero, com raras excepções, que lhe terão valido alguns votos, mostrou estar bem preparado e acabou por cumprir o objectivo de uma votação razoável. Faltou-lhe o da segunda volta...






Derrotados: Manuel Alegre, pois claro. Cinco anos depois, conseguiu a proeza de baixar as percentagens de 2006, ainda que apoiado por PS (que só o apoiou devido ao facto consumado), Bloco e MRPP. Um balde de água fria no último combate do bardo das Trovas do Vento que Passa, mas todo o discurso do "estado social" e causas afins parecia perdido nos anos setenta, como ele próprio, para não falar nas acusações a Cavaco e na vitimização, pouco próprias dele. O tal milhão de votos que reivindicava como seus escapou-se-lhe, talvez porque nunca fosse pertença sua, mas sim de todos os que apostaram numa candidatura independente, e que lhos retiraram quando apareceu o apoio partidário. Só mesmo Alegre e alguns líricos é que não tinham percebido isso. Quebrou-se a ilusão. Saiu com a dignidade possível.






Defensor Moura: a campanha excessivamente centrada no Alto Minho e os excessivos ataques a Cavaco tornaram-no irrelevante e antipático, e castigaram-no nas urnas. Algumas das causas que advogava (descentralização, desburocratização) mereciam alguma discussão, mas nem isso conseguiu. Os amigos dos animais não valeram ao ex-autarca que, sem perguntar nada à população, declarou Viana "cidade anti-touradas". Podia-se ter explorado melhor esse seu lado totalitário, mas já não vale a pena. Terá tempo agora para estudar pela enésima vez a melhor forma de dar solução ao prédio Coutinho.






Ao que parece, também o Ministério da Justiça se pode considerar perdedor, pelas confusões que houve com o Cartão de Cidadão e as impossibilidades decorrentes de votar. Na minha secção de voto vi alguns zunzuns, mas como levei igualmente o cartão de eleitor, não tive problemas. Por isso, não me alongo em situações que desconheço.






Conclusões: vale a pena apresentar candidaturas independentes. As forças partidárias já não têm a força que tinham. Nem as jotas ajudam.



Por outro lado, a abstenção mostrou o quanto os portugueses dão a devida importência À república e aos seus cem aninhos...



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