quinta-feira, setembro 30, 2010

Ainda em Inglaterra, a contenda entre irmãos



Na luta fratricida pela liderança do Partido Trabalhista, recentemente caído do poder, Ed Miliband bateu com alguma surpresa o seu irmão mais velho (e mediático), David, que esteve à frente da política externa britânica no governo de Gordon Brown. Ed pertence à ala esquerda do partido, e ganhou a contenda com o apoio dos sindicatos, que ainda têm peso considerável no partido, se bem que algo esvaziado nos últimos quinze anos. Adivinha-se que seja a martelada final no New Labour, personificado em Tony Blair. Ainda assim, Miliband tenta descolar da imagem esquerdista com que está rotulado. É naturalíssimo que o faça. Provavelmente começou a interessar-se pela política no início da adolescência, quando o Labour sofreu uma das suas piores derrotas sob a liderança de Michael Foot, morto há apenas uns meses, e que foi o líder mais esquerdista do partido de que há memória. Depois dessa inclinação para a esquerda, Neil Kinnock começou a puxar os trabalhistas para o centro, até que o malogrado John Smith, Blair e Brown enveredaram definitivamente pelo Third Way, com o sucesso que se conhece. Ed tem a sombra do seu pai, o intelectual marxista Ralph Miliband, a toldar-lhe qualquer eventual aproximação aos eleitores mais centristas. Resta-lhe esperar que parte do eleitorado liberal se aborreça com a coligação com os conservadores e se vire para este new old Labour.

quarta-feira, setembro 29, 2010

A papafobia britânica

O Papa Bento XVI regressou a Roma da sua visita ao Reino Unido sem qualquer tentativa de prisão, atentado terrorista ou ataque isolado. Já não nada é mau.

Aproveitou-se um pouco de tudo para criticar a visita: os gastos com o acontecimento em si, a memória histórica, os casos de pedofilia recentemente encontrados, medo de proselitismo, etc. Os conhecidos militantes radicais ateístas Dawkins e Hitchens tentaram obter um mandato de captura de Bento XVI por "cometer crimes contra a humanidade" e não "ser um chefe de estado reconhecido", apesar de haver relações diplomáticas entre o Reino Unido e o Vaticano (ou não havia visita, tout court). Conseguiu-se, durante os dias em que o Sumo Pontífice permaneceu nas ilhas britânicas, organizar autênticas manifestações com toda uma coligação negativa anti-papista, reunindo associações ateístas e seculares, activistas dos "direitos da mulher", famílias de vítimas da pedofilia, nacionalistas ingleses e protestantes fanáticos, como o Reverendo Paisley, que em tempos dirigiu-se a João Paulo II no Parlamento Europeu, bradando que o Papa era o "Anticristo". O perfeito contraste com a visita papal de Maio a Portugal.
O Reino Unido tem os seus paradoxos. O puritanismo e a rigidez vitoriana são do mesmo país onde nasceram a pop e o punk. Em terras em que o parlamentarismo tem tantas raízes, ainda subsiste o espírito catolofóbico criado no século XVI por Henrique VIII. Sabia que os ingleses tinham um sentimento anti-católico, mas não ao nível do que se viu - ou do que se falou. Aos casos de pedofilia na Igreja Católica juntou-se a polémica dos gastos com as visitas, as "causas fracturantes", a beatificação de John Henry Newman, e todas as causas possíveis para justificar um poderoso sentimento anti-católico, tido como manifestação de liberdade contra as "trevas". Uma liberdade legada por um tiranete como Henrique VIII, que por razões políticas e libertinas, rompeu com a Igreja de Roma. Depois, os católicos foram perseguidos e afastados, com métodos tão cruéis como os da Inquisição, até praticamente ao século XIX, com algumas notórias excepções por razões políticas, como o casamento de Carlos II com Dona Catarina de Bragança. Ainda assim, membro da família real que por qualquer razão se aproximasse do catolicismo seria excluído da sucessão. Mas mesmo a partir de oitocentos, em que os seus direitos foram sendo progressivamente reconhecidos, nem assim deixaram de ser vistos como inferiores pelos britânicos. Os irlandeses desde Crommwell que foram tratados como gente de terceira. Oscar Wilde sofreu humilhações e o calabouço não somente pelas suas provocações e libertinagem, mas também por ser católico e irlandês.


O anti-catolicismo oficial que durava desde o início da igreja inglesa esbateu-se, mas existe. Quando o príncipe de Gales esteve presente nas cerimónias fúnebres de João Paulo II, ouviu críticas por causa da "submissão à igreja de Roma". Curiosamente, sendo o Reino Unido um estado oficialmente Anglicano, é também um dos que mais se afasta da prática religiosa. A igreja que a Rainha chefia tem enfraquecido, cedendo ao multiculturalismo reinante e a novas práticas e credos. Os ingleses conservam-na como uma tradição, mas a sua heterodoxia afasta-os. Talvez seja por irem em busca de algo mais que surgiram alguns interessantes grupos de católicos ingleses, como a tendência que tocou alguns escritores contemporâneos - Greene, Chesterton e Waugh, para destacar os mais conhecidos. Mas apesar disso, e de um crescente número de católicos, vê-se um anti-papismo que não há em mais país nenhum na Europa. Tradição enraizada, inimizades históricas, medo de que o Bispo de Roma seja um mentor do IRA ou de proselitismo? Ou a ideia de ver um Papa católico e alemão a ser recebido pela Rainha é duplamente dolorosa? Confesso que não sei qual será exactamente a raíz do problema, e que essa aversão mais histórica que social devia ser matéria de estudo mais aprofundado. O que sei é que Bento XVI falou mais contundentemente dos casos de pedofilia na Igreja, encontrou-se com as suas vítimas, homenageou os caídos na batalha na luta contra o nazismo (que provinha, não nos esqueçamos, do seu país) e beatificou John Henry Newman, e conseguiu voltar para Roma sem uma beliscadura. Convenhamos que para um Papa, alemão e que lutou na Segunda Guerra com o uniforme da Whermacht, é uma missão cumprida digna de Hércules.

sábado, setembro 25, 2010

Opostos que se atraem

Olho para as manifestações em França, contra o aumento da idade da reforma para os sessenta e dois anos, que levam atrás de si multidões em protesto. Ouvem-se acusações de "neoliberais", "fascismo", "atentados aos direitos inalienáveis" e ao "estado social", etc. Parece-me tudo um perfeito exagero, mas aquelas multidões socorrem-se de argumentos datados, ignorando a realidade, vituperando quem a contradiga. Em França, isto é perfeitamente comum. Então lembro-me de um movimento novo, do lado de lá do Atlântico, de ideias e lógica opostas. O Tea Party americano acusa Obama de ser "socialista" por causa do seu novo plano nacional de saúde, de ser um soviético encapotado (e para alguns, muçulmano), de querer subjugar a sociedade civil a um estado omnipresente, etc. Os sindicalistas franceses e os redneck americanos podem estar de lados diferentes da barricada e do oceano, mas na retórica, nas ideias fixas e no anti-pluralismo são assustadoramente parecidos.


Voltarei ao tema da França em breve.

sexta-feira, setembro 17, 2010

O fim do Arsenal em Braga?


Os resultados das equipas portuguesas nas competições europeias foram pouco surpreendentes: as equipas grandes e experientes venceram adversários inferiores, e a equipa mais "pequena" e inexperiente perdeu com uma equipa de nome sonante. Mas é curioso pensar que neste último caso o Sporting de Braga estreou-se na milionária Liga dos Campeões (coisa que há meia dúzia de anos seria impensável) em casa do clube ao qual roubou as cores e a camisola, o Arsenal de Londres. Durante muitos anos, os jogadores e os adeptos do Braga foram conhecidos como "arsenalistas" e tiveram mesmo, por breves tempos, uma equipa B chamada Arsenal de Braga. Agora, os gunners de Arsène Wenger fizeram-se pagar pela imitação e deram implacável meia dúzia de golos aos pobres bracarenses, que apesar do brilhante triunfo de Sevilha, mostraram ser ainda muito inexperientes nestas andanças europeias, revelando um medo cénico (também conhecido como "síndrome Tavares") fatal. Será que depois da goleada passaremos definitivamente a ouvir falar dos braguistas ou a expressão arsenalistas continuará a ser empregue, podendo sempre trazer negras recordações, a ser usadas pelos adversários em futuras discussões em que cada uma puxará da memória a derrota mais humilhante do outro?

quarta-feira, setembro 15, 2010

O aterro federativo
O outro caso da época, evidentemente, é o da novela da Selecção, que parece estar perto do fim, se bem que pouco feliz. Nunca fui adepto de Carlos Queiroz, e só desejava que ele tivesse ficado há dois anos em Manchester, a planear tranquilamente as tácticas de Sir Alex, sem se maçar em ir para o relvado. Mas já que o contrataram por quatro anos (supremo disparate), ficava-se com ele até ao término do contrato. O Mundial foi modestozinho, mas sempre passamos a fase de grupos, e cumpridos os mínimos, o técnico deveria permanecer. A história dos testes antidoping e das discussões de Queiroz na Covilhã são uma pretexto mal disfarçado para o pôr fora sem lhe pagar muito. Se servisse para alguma coisa, seria bom recordar que deve haver um mínimo de ética e que a Federação é que resolveu ir buscar o ex-seleccionador. A partida que lhe fizeram é demasiado indecente para passar sem mais. Como é óbvio, os chicos-espertos federativos estão-se a marimbar para tudo isso e querem é livrar-se do homem por qualquer meio, com a cumplicidade bem explícito do bonzo Laurentino. O que se segue é facilmente previsível: contrata-se novo técnico, dá-se uma indemnização - que remédio - a Queiroz e tenta-se apanhar os cacos dos primeiros jogos da equipa nacional para o Europeu de 2012. Só que todo este caso já

a causou mossa, como se viu no pontinho ganho em dois jogos, num vergonhoso empate caseiro com Chipre, que nos marcaram quatro golos. E parece-me que nem Paulo Bento, o mais que provável futuro seleccionador, possa vir a trazer qualquer tipo de tranquilidade à equipa.


O maior drama é pensar que os actuais elementos federativos (Madaíl, o inamovível Amândio de Carvalho, etc) vão permanecer no cargo. Isso mesmo afirmou Lourenço Pinto, presidente a Associação de Futebol do Porto, que assegurou que todas as associações distritais estão com Madaíl. conclusão: não haverá sequer espaço para candidaturas diferentes, e teremos que gramar com a tralha federativa toda, fazendo campanha pelo aviltante e parolo "mundial ibérico" e figas pela qualificação para a Polónia/Ucrânia, com o beneplácito do dispensável Laurentino Dias. Ah, não haver um "Apito Dourado" na Federação, com resultados palpáveis, para tapar esse autêntico aterro sanitário desportivo

sexta-feira, setembro 10, 2010

As trevas da Casa Pia
Ao fim de oito anos, tivemos finalmente a sentença do Processo Casa Pia. Tempo a mais, mas surtiu os seus efeitos, ainda que em primeira instância. Para além das vítimas, dos acusados e de todos os outros que de outra forma estavam ligados ao caso, o dia da sentença terá sido fantástico para donas de casa, transeuntes de Moscavide, e sobretudo para a comunicação social, no seu todo. Provavelmente, estes últimos só terão tido pena de não ser possível um exclusivo, a ser atribuído a quem pagasse mais. De qualquer forma, o que ficou destes dias, além de um resultado concreto, terá sido o imenso eco propagado pelas queixas dos condenados, em especial de Carlos Cruz, que não é à toa que é conhecido como o "Senhor Televisão". Dele e do seu advogado Ricardo Sá Fernandes ouviram-se queixas, lágrimas, recriminações, etc. Mas retive a expressão usada após a leitura da sentença: esta era, segundo Sá Fernandes, "o reino das trevas". Ora Carlos Cruz poderá dizer o que quiser em sua defesa, dentro de certos limites verbais, que foram claramente ultrapassados. Mas, inocente ou culpado, é bom não esquecer que o processo existiu porque ao longo dos anos inúmeras crianças sem família nem ninguém que as protegesse foram submetidas a sevícias e terrores que as marcaram para sempre. Foram as autênticas vítimas, e não houve televisões que se compadecessem da sua tortura permanente. Isso sim, é o autêntico reino das trevas. Finalmente encontraram quem as ouvisse.

sexta-feira, setembro 03, 2010

Estão de volta



Com novidades na bagagem, duetos previstos e o espírito épico e romântico que já os caracterizava nas primeiras músicas, Os Golpes dão o segundo passo. E há concertos agendados para breve, no Porto e em Lisboa, depois de um sugestivo espectáculo de garagem nas caves do Técnico de Lisboa, no 10 de Junho, assim à laia de aperitivo. O autêntico pope roque transpirando portugalidade desce às cidades.