sexta-feira, junho 11, 2010

Schwarzenbach em Ukhaidir


Entre os autores dos obras de viagens de que falei há dias destaca-se Annemarie Schwarzenbach, a viajante suíça que passou pelo Europa Central, em tempos de ascensão do nazismo, pelo Médio Oriente anterior aos nacionalismos, e pelos Estados Unidos da Grande Depressão. Pelo meio também esteve em Portugal nos primórdios do Estado Novo.
O CCB organizou há não muito tempo uma exposição do seu legado fotográfico, onde constam as paragens atrás descritas. Dela constavam tanto fotografias da autora como com a própria. Annemarie surge quase sempre com ar melancólico, como se as suas inúmeras viagens lhe atribuíssem um eterno estatuto de exilada da Suíça, que tão pequena e pacata era para si. O seu ar andrógino mas belo (não tinha reparado devidamente no seu rosto, que recorda, por exemplo, Cate Blanchett) distinguiam-na como um ser único, sem contar com a sua queda pela exploração de terras exóticas, prática tão pouco comum às mulheres da altura e de agora...




No Médio Oriente circulou entre a Mesopotâmia e a Pérsia, descobrindo e dando a descobrir aos europeus imagens que eles só conheciam dos relatos dos seus antepassados. Através das suas fotografias e dos seus artigos, recordou de novo paragens esquecidas ou desconhecidas. Entre elas contava-se a fortaleza-palácio de Ukhaidir, ou Ukhaidar, no coração do Iraque, uma enorme construção do século VII, isto é, dos tempos de maior expansão do Islão e do surgimento do Califado dos Abássidas, de Bagdad. Tinha como objectivo não só a de protecção de eventuais perigos como também de caravançarai, ou paragem para viajantes.


A imagem da fortaleza, num território inóspito e deserto, impressiona pela sua grandiosidade e dimensão. Dir-se-ia que aterrou ali de repente, atirado por Alá qual Kaaba iraquiana. A UNESCO classificou-a como património da Humanidade aqui há uns anos, ainda em tempos de Saddam, mas inexplicavelmente, ou talvez por o Iraque ser um destino tão recomendável pela sua segurança como a África do Sul, os registos que se encontram, mesmo na net (e na Wikipedia) são mais que escassos. Será um local obscuro para a grande maioria das pessoas, e seria também para mim caso não tivesse visto a sua imagem a ocre e branco, tirada nos anos trinta, surgido do nada.


A importância dos exploradores é também essa: registar para a posteridade locais e situações que no futuro, mesmo como novas tecnologias, dificilmente se poderiam descortinar. No caso do Iraque, por causa da sua situação política e social. As fotos e os artigos, chegando até aos nossos dias, encarregaram-se de os testemunhar

Schwarzembach assistiu aos grande fenómenos sociais do seu tempo, ainda se casou (e separou), ainda passou por África, antes de regressar à Suíça, já com a 2ª Guerra em marcha. Morreu aos 34 anos, nos anos da Guerra, ela, que tinha percorrido paragens tão inóspitas e perigosas, na neutral Suíça, de ferimentos resultantes de uma queda de bicicleta.

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