sexta-feira, junho 04, 2010

O TGV também se pinta de vermelho

 

As manifestações sindicalistas do passado fim de semana, em Lisboa, tiveram o apoio do PCP e do Bloco de Esquerda, ou não fossem as mesmas organizadas pela CGTP, pelo que estranho seria que os citados partidos não as apoiassem, em especial o primeiro (se bem que o Bloco também tivesse as suas razões, até porque pelo meio andou um grupo de radicais anarquistas, mais preocupados em atirar objectos à polícia). A manif destinava-se a protestar contra as recentes medidas de austeridade do Governo.

Entre as reivindicações do costume neste tipo de eventos contavam-se o aumento de salários, a manutenção "dos direitos que Abril nos deu", a não privatização de empresas públicas, etc, etc. Mas quando se trata de saber como há de o governo diminuir o défice, a resposta ou é uma evasiva lírica para demonstrar que isso é um assunto "secundário", ou fala-se logo na diminuição de proveitos de políticos ou administradores de empresas, pelo menos a avaliar por um recente outdoor bloquista, que aponta uma série de empresários, mesmo que alguns sejam do sector privado (que curiosamente são os que auferem menores rendimentos, se as contas do Bloco baterem certas).

Mas foram precisamente estes partidos que ainda há dias reiteraram o seu apoio ao avanço das grandes obras públicas, a começar pelo TGV, de entre todas a de rentabilidade mais que duvidosa. Para mais, os que irão utilizar tal transporte serão certamente aqueles que têm mais posses, e não os que participaram nas manifestações. Não é por haver TGV que as chusmas de pessoas que viajam em Intercidades entre Lisboa e Porto o vão deixar de fazer - caso contrário, fá-lo-iam de avião (o Alfa foi pensado para fazer as vezes do transporte aéreo, em versão um pouco mais vagarosa). Será que os dirigentes comunistas e bloquistas estariam a pensar em exclusivo neles próprios? Nesse caso, trata-se de uma inapelável traição aos valores colectivistas que apregoam e a rendição ao consumo puro. E uma coisa é certa: eles, que apontam sempre o dedo ao PS, PSD e CDS pelos males do país ficam a partir de agora co-responsáveis pelas futuras crises orçamentais e pelos atascanços nas finanças que tivermos. Quem se lança em aventuras deste calibre, contrariando descaradamente a sua doutrina, só tem que ser responsabilizado pelos seus actos. Ao lado dos partidos do "arco governamental", os partidos de esquerda radical e autoritária têm desde já a sua quota parte quando o défice nos voltar a bater à porta. é bom que ninguém se esqueça disso, na hora em que se pedir contas.
 

Um comentário:

Anônimo disse...

De política percebes como ó caraças... Esquerda? Esquerda autoritária? Esquerda radical? Clichés! (Queres ver que o PS é de esquerda...). Ainda não se entendeu que o conceito esquerda/direita foi à vida?! E, é claro, que de economia e desenvolvimento ainda percebes menos (embora me parece que és daqueles que queres pagar a dívida ao ladrão). Desculpa lá o mau jeito, mas é o que penso!

a) flordocardo