sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Invictus

Parece que Invictus não caiu no goto dos críticos de cinema, que o classificam como 2um bom filme", mas apenas uma obra menor de Eastwood, atribuindo-lhe por norma três estrelas. Eu dava-lhe quatro à vontade. Por causa dessas críticas , nem estava com grande vontade de o ver (o perigo que são as influências dos "entendidos" na Sétima Arte), mas lá cedi, aproveitando para regressar ao velho Nun´Álvares, em boa hora reaberto.

Além de todas as considerações históricas conhecidas sobre a transição do Apartheid para uma sociedade multi-racial, mostra-se o papel central de Nelson Mandela noutras vetentes que à partida poderiam parecer secundárias ou de nula importância, mas que pelo seu simbolismo e capacidade de exaltação, contribuíram para a conciliação sul-africana. Mandela percebeu que tinha nos Springbocks, a equipa de rugby da África do Sul (até então apenas apreciada pelos brancos, e hostilizada pelos negros), e no Mundial da modalidade que se disputaria em 1995, uma possibilidade real de unir o país através do apoio à sua equipa. Impediu assim que as instâncias desportivas extinguissem os bocks e deu-lhes todo o apoio, até atingirem o almejado (e à partida inimaginável) milagre: a vitória no Mundial, sobre os temíveis All Blacks da Nova Zelândia. Com isso, deu um passo de gigante na união do país. De súbito, os negros passaram a apoiar uma equipa que até aí era património" dos brancos, em especial dos afrikaners, e um símbolo do Apartheid.

É essa autêntica gesta que Eastwood nos conta, primeiro com algum comedimento, mas com uma última meia-hora, a do jogo, seus antecedentes e consequências, de ininterrupta emoção, de pura adrenalina cinéfila, que deveria figurar entre as mais excitantes do ano. A cena do avião é absolutamente fenomenal. Morgan Freeman, um dos que mais lutou para que este filme fosse feito, consegue finalmente dar corpo a Mandela, com uma interpretação comedida mas muito realista, sem rodriguinhos. Matt Damon está também muito bem no papel de François Pienaar, o capitão dos Bocks, na sua frustração inicial, nas suas dúvidas, e por fim na sua determinação. As nomeações para os Óscares foram justíssimas. Além da direcção de actores e de uma fita sem momentos mortos, Eastwood conseguiu ainda captar imagens reais do jogo, nomeadamente do público, adaptadas depois ao filme, naquele tom ligeiramente baço e desbotado, mas muito belo, que é já imagem de marca das suas obras. Também aqui esta não foge à regra das restantes.



E além do mais, o timing é muitíssimo bem escolhido. Dir-se-ia que o filme decidiu comemorar efemérides: está em exibição nos cinemas de todo o mundo precisamente hoje, quando passam vinte anos da libertação de Nelson Mandella (cujas imagens reais surgem logo no início). E, embora lançado em 2009, só se espalhou pelas salas em 2010, ano em que a África do Sul será também objecto de notícias do desporto, recebendo novamente um grande evento: o Mundial de futebol. Trará esta prova, tal como a de 1995, algo de novo aos sul-africanos?

2 comentários:

Freddy disse...

O filme é bom! Inspirador! :)

Caio Licínio Verris disse...

De facto, sr. Pimenta, o seu último parágrafo foca a questão essencial... o timing!!!
Coincidência ou não, o filme bastante prasenteiro para com a África do Sul está nos cinemas no ano do Mundial.
Pagar um bilhete de cinema para ver publicidade encapotada? Não obrigado!
Não é mais do uma manobra promocional, transmitindo uma mensagem idílica de um país em que, findo o apartheid, brancos e negros celebram e convivem alegremente, la la la la ...
Como diz o povo Português na sua imensa sabedoria, "para esse peditório, já eu dei..."
Enfim...
Quanto ao sr. Freddy, "filme inspirador"?!?
Que tonteria...