domingo, maio 31, 2009

Jaguaré, o primeiro "loco latino" das balizas



Passada a final da Liga dos Campeões, em que os falhanços de Cristiano Ronaldo (ou, pela linguagem SMS, CR7), que dariam grandes golos, determinaram a vitória do Basel da Catalunha, passemos às memórias futebolísticas, aquelas do tempo em que mesmo pela rádio era difícil acompanhar um jogo, e em que as transferências entre a América do Sul e a Europa se faziam de transatlântico. Recordo Jaguaré, estrela brasileira dos anos trinta.

Jaguaré Bezerra de Vasconcelos nasceu no Rio de Janeiro em 1940, em data incerta. De origem modesta, começou a trabalhar como estivador, o que decerto o dotou de braços poderosos, e jogava a guarda-redes como passatempo, como de resto era comum na época. Até que chegou a o Vasco da Gama e à Selecção Brasileira, tendo-se tornado um ídolo das massas. Provavelmente foi o elemento primordial da enorme linhagem dos loucos guarda-redes sul-americanos, que teve como recentes representantes Higuita e Chilavert. Defendia com apenas um braço, driblava atacantes adversários e tinha como imagem de marca fazer girar a bola com o dedo indicador, qual malabarista.
Numa digressão à Europa, em princípios dos anos trinta, O Vasco de Jaguaré jogou em Espanha e em Portugal, contra uma equipa formada por jogadores do Benfica e do Casa Pia...e ganhou. A tournée produziu efeitos e o Barcelona contratou logo o guarda-redes, mas como teria de ser suplente do mítico Zamora, regressou logo ao Brasil, para representar o Corinthians, até que o Marselha o contratou em 1937. Tornou-se um ídolo na Provença, conquistou o título de campeão de França, e, momento histórico, marcou um penalti, no que se crê ter sido o primeiro golo de sempre marcado por um guarda-redes.

Com a aproximação da Guerra, Jaguaré deixou França e regressou ao Brasil. O que poucos sabem é que teve uma breve passagem pelo Académico do Porto, clube que na altura tinha uma equipa na 1ª divisão e que posteriormente abandonou o futebol profissional (teve êxito noutras modalidades, como prova a carreira da sua atleta Rosa Mota). Não sei se por oportunidade na escala entre Marselha e o Brasil, se por necessidade de emprego, o certo é que teve uma breve passagem por Portugal.
Depois do percurso europeu, voltou definitivamente ao Brasil. Com a carreira acabada e o dinheiro gasto, voltou à estiva, começou a beber e afundou-se na cachaça. O antigo artista dos relvados estava no fim. Em 1946, num desacato com a polícia acabou por ser espancado e morreu dos ferimentos, tendo sido enterrado como um vulgar vagabundo.
Triste fim para um autêntico aventureiro da bola e da sua época. "Le Jaguar", como era conhecido em Marselha, ofereceu saltos e emoções aos espectadores dos estádios, quando o futebol era ainda amador e os seus praticantes jogavam por amor à camisola ou simples gozo. Cruzou os oceanos rumo a uma Europa em ebulição, espartilhada por paixões e ódios. Passou por Espanha nos dias pré-Guerra Civil e espantou os estádios de uma França marcada pelo governo da Frente Popular, pela ameaça alemã e pelos confrontos intelectuais e de rua entre comunistas e socialistas contra os legitimistas Camelots du Roi, a Croix de Feu e o nacional sindicalista Faisceau. Pelas diabruras armadas em campo e por ser, segundo os anais do desporto, o primeiro guardas-redes goleador, tornou-se também por direito próprio o primeiro dos "locos latinos", os guarda-redes sul-americanos para quem, acima de tudo, o que conta é o espectáculo.


(Mais informação aqui e aqui)

sexta-feira, maio 29, 2009

Ruben A.



Se fosse vivo, Ruben A. (nome literário de Ruben Andresen Leitão), rapaz do Campo Alegre que faz referência na sua autobiografia à antiga Travessa do Sobreirinho, faria hoje 89 anos. A dita travessa é actualmente uma rua com o nome do escritor (nela situa-se a Casa das Artes, futura Cinemateca) e fica a dois passos de onde moro. Posso, com ligeiro abuso, considerar o homem que inventou a sigla "PPD" para o partido laranja como meu vizinho extemporâneo.

quarta-feira, maio 27, 2009

Educação sexual e o direito ao i-Pod


A discussão sobre o ensino de educação sexual tinha de dar numa tentativa de "fracturar" o tema. Vindos da costumeira JS, que em ano tri-eleitoral precisa ainda mais de ganhar votos ao Bloco. A educação sexual é matéria cuja implementação no ensino há muito que se discute. As divergências mais esperadas rondam a obrigatoriedade ou não da disciplina e as matérias a ser leccionadas, dependendo da ideia que os pais têm do assunto. Depois de anos de discussão, e apesar de severas desconfianças da Associação de Planeamento Familiar, não vejo assim com maus olhos a entrada de tal inovação no plano curricular, desde que seja dada nas competentes disciplinas, ou seja, em ciências naturais. apesar de tudo, confio no bom senso de Daniel Sampaio.


Em quem não tenho confiança absolutamente nenhuma é nos meninos da JS e nos seus apologistas jornalísticos. A representante da esquerda radical na redacção do Público, São José Almeida, atirou com um abjecto artigo na edição do último sábado, em que acusava os deputados do PS que se opõem à distribuição gratuita de preservativos nas escolas de medo ao "lobby católico". No meio da sua defesa incansável da JS e das propostas do seu "genial" dirigente, Duarte Cordeiro, e com uma linguagem em que só faltariam os termos "medieval" e "obscurantismo", a senhora não se deu certamente conta de que a oposição à ideia da se andar alegremente a dar preservativos às meninas e aos meninos ia da direita até ao centro-esquerda, e que só a partilhavam a ala mais à esquerda do PS, o Bloco e o PCP, minoritários. E que isso pode apenas ser motivado por um mero sentido de responsabilidade. Se os adolescentes quiserem adquirir preservativos, há farmácias e máquinas para o efeito. E sim, pode haver influências e princípios religiosos que levem a que as pessoas pensem de uma certa maneira, por muito que isto custe entender a São José Almeida (que estranho, usar nome tão canónico), que provavelmente também escreverá motivada pelas suas ideias radicais. A religião e o sentido do transcendente sempre influenciaram os homens e inculcaram-lhes princípios, e é com base neles que fazem as suas escolhas. O problema é que a mera referência a isso desperta logo os laicistas de serviço, que vêm logo "um ataque ao estado laico". Não só querem as referências religiosas fora do espaço público como pretendem ainda afastá-las da consciência dos que crêem.


Cada um acredita no que quer, mas não me parece nada gravoso que os responsáveis nacionais sejam influenciados pela doutrina cristã e pelos ensinamentos da Igreja, que afinal foram os que nortearam o país na sua história e que fazem parte do seu ADN. Bem pior e bem menos isento é que as normas que regem a sociedade fiquem sob os ditames de uma juventude política que tudo faz para que olhem para ela e para impedir a fuga de votos, e que como todas as "jotas", é composta sobretudo por carreiristas e oportunistas.



Ah, e o último cartaz da JS tem imensa piada: diz que "a Europa é Vital" (perceberam a graça, não perceberam? Europa...Vital com maiúscula...), e entre os slogans aparece um curioso "pelo direito ao TGV". Afinal, o comboio rápido não é uma necessidade, nem ao menos um "desígnio": é um direito, que por certo o Prof. Vital quererá que seja aposto nos Direitos Económicos, Sociais e Culturais da CRP. Se assim é, na plena posse da minha cidadania, invoco o meu direito ao i-Pod, que não tenho nenhum. Prezados jotinhas socialistas, dá para fazer um outdoor com a inscrição "pelo direito ao i-Pod"?

terça-feira, maio 26, 2009

E os Gandhi sobreviveram aos Tigres


A derrota final dos Tigres Tâmil na semana que passou é a prova de que os mais musculados grupos insurgentes podem ser aniquilados quando pelo seu radicalismo agressivo mergulham no maelstrom do terrorismo. Durante quase três décadas, os Tigres puseram o Sri Lanka a ferro e fogo, fizeram recuar os maioritários cingaleses e humilharam os indianos. Comandados pelo carismático e fanático Velupillai Prabhakaran, os guerrilheiros com a designação oficial de Tigres de Libertação do Tamil Eelam chegaram a ocupar um terço da antiga Taprobana, com o auxílio da sua marinha de lanchas rápidas e da sua força aérea. Apesar da sua organização como uma autêntica força armada convencional, distinguiram-se mais pelos atentados perpetrados por bombistas suicidas, armados com cintos-bomba, os famigerados "Black Tigers", incluindo mulheres, que tanto inspiraram os posteriores terroristas islâmicos. Outra cruel imagem de marca era a cápsula de cianeto, que ingeririam caso fossem cercados ou presos.



O radicalismo de Prabhakaran ia contra qualquer ideia de autonomia, preferindo sempre o confronto à conciliação, e não hesitou em atacar as forças indianas de manutenção da paz na ilha, matando inúmeros soldados. Vale a pena recordar que a Índia prestava até aí algum apoio aos Tâmil. Mas a violência dos Tigres obrigou as autoridades do sub-continente a virar-se para Colombo, e mais ainda quando num atentado suicida assassinaram o primeiro-ministro Rajiv Gandhi. Poucos anos depois, também o presidente cingalês Pramasada sofreu igual destino, com o mesmo modus operandi. Os Tigres continuaram com os seus ataques constantes (incluindo ataques aéreos) e os seus atentados, até ao início do ano, em que uma fortíssima ofensiva cingalesa os acantonou num último reduto, até conseguirem eliminar Prabhakaran, e consequentemente obter a rendição incondicional. O fanático líder acabou por sofrer a sorte habitual dos que colocam a luta armada à frente das negociações e dos acordos e não parecem capazes de viver sem ela, um pouco à imagem do que aconteceu a Savimbi. No fim, nem a cápsula de cianeto conseguiu usar.


O conflito durou largos anos, e só ultimamente voltou a ser notícia nos noticiários do mundo. Apesar de toda a tragédia humana envolvente e dos milhares de civis encurralados entre duas forças, de onde saíram bastantes vítimas, não houve para com estes a mesma atenção e a mesma solidariedade que costuma haver com Gaza, o que prova bem que a importância de um conflito varia conforme as partes envolvidas e o seu grau de mediatismo.


Espera-se que com o fim anunciado dos Tigres, Colombo proceda agora à pacificação da ilha e dê aos Tâmil o necessário grau de autonomia, liberta que está da pressão da guerrilha. O mais irónico, ou mais inesperada lição de moral, é que no mesmo fim-de-semana em que Prabhakaran pereceu, o Partido do Congresso, chefiado por Sonia e Rahul Gandhi, viúva e filho mais velho da mais conhecida vítima dos Tamil, Rajiv Gandhi, e pelo primeiro-ministro Singh, ganharam as eleições na União Indiana e consolidaram o poder do Partido do Congresso.

segunda-feira, maio 25, 2009

Nem os sofismas os salvam

Sporting da Covilhã = Serra da Estrela = Montes Hermínios = Hermínio Loureiro = Oliveira de Azeméis


Estive no Bessa, depois de anos de ausência, com mais uns seis mil espectadores (moldura notável para a Divisão de Honra). Assisti a um descalabro triste e desconsolado, que levou o Boavista à 2ª B, escalão do qual saíra há 40 anos, quando aquele campo era ainda um pelado. À laia de Octávio Machado, o silogismo primário de cima deveria explicar a dramática queda em detrimento da Oliveirense, por coincidência o clube da cidade do Presidente da Liga Hermínio Loureiro, que muito provavelmente será o seu próximo presidente da câmara. Mas nem isso serve de pretexto. Os nervos traíram os axadrezados, que foram goleados pelos serranos quando bastava o empate para a manutenção (a Oliveirense também empatou). Acabou por ser o corolário de um ano muito complicado, com um passivo gritante e salários em atraso.


Pelo mesmo caminho seguiu o Belenenses, rumo à Honra (que ironia!). Significa isto que os dois únicos clubes que foram campeões nacionais à parte os 3 grandes desceram no mesmo fim de semana, deixando o futebol português cada vez mais afastado dos seus clássicos. Quem sabe se por não terem recebido apoios das respectivas câmaras, que se endividaram por outros. De semelhante indiferença não se pode queixar o promovido União de Leiria, que não pagou um tusto pelo seu estádio de trinta mil lugares, ao qual comparecem quinhentos sofredores de 15 em 15 dias, e que é um sorvedouro para a edilidade.



Triste fim de semana desportivo. Valham-nos o histórico algarvio Olhanense, de volta aos grandes após 35 anos de deserto, e o Chaves, que regressa enfim ao futebol profissional.

quinta-feira, maio 21, 2009

O último filme da sua vida





Morreu esta noite João Pedro Bénard da Costa, o homem que esteve durante quase trinta anos à frente da Cinemateca Nacional. O cinema está de luto. E a crónica jornalística. E a difusão do pensamento cristão e dos seus pensadores de relevo. E a cultura em geral, com o desaparecimento de um homem que dava valor à memória, e que nos dava conta, através das páginas dos jornais onde escreveu durante quase meio século, da sua vivência cinéfila, cristã e literária.

Adenda: ao ler o texto de hoje de Pedro Mexia sobre o seu antigo director, no Público, relembro aqui outro artigo, este no DN, igualmente acerca Benard, que o mesmo Mexia escreveu há anos, quando ainda nem o devia conhecer. E ainda a cidade favorita de JBC, Mântua.



quarta-feira, maio 20, 2009

Blogotúlia com Paulo Rangel


Ainda devia estar no comboio quando começou a tertúlia no Café Nicola, e por isso só cheguei a meio, perdendo a apresentação e as discussões da 1ª metade. Eis um relato, entre o simplificado e o denso, do que ouvi.

O que se seguiu ao intervalo trouxe confirmações do que já se sabia, tais como a opção pelo federalismo (o mainstream não é ser federalista, é ser eurocéptico), as diferenças para o PS no investimento público ("target, timely, temporarily"), recusa do referendo ("quem for a favor tem aqui a oportunidade de o mostrar pelo voto").

Mas falou da também a sua visão económica - que se traduz numa visão mais liberal do que a média portuguesa mas dentro dos parâmetros do Estado Social Europeu, que considerou, apesar das diferentes concretizações e do seu grau de aplicação, ser o mesmo. Do ponto de honra na recondução de Durão Barroso como Presidente da Comissão Europeia, e da confusão no PSE quanto a esse assunto. De uma certa "identidade europeia", assinalando provas disso mesmo, como a supressão de fronteiras, a moeda única e até os programas ERASMUS. Da sua própria visão dos "costumes", reafirmando-se como "católico progressista", ficou a intransigência quanto ao aborto e eutanásia, a sua posição gradualista de uma hipótese de "terceira via"no caso do "casamento gay" e a oposição à nova lei do divórcio, que considerou que transforma o casamento numa "união de facto reforçada", misturando duas figuras que deveriam ser distintas.


Para o fim, ficaram questões que devido à inexorável passagem do tempo, ficaram para trás. Depois de uma "questão" de Miguel Morgado, à partida sobre uma assembleia constituinte europeia que acabou por ser uma sabatina sobre sistemas constitucionais comparados (não tenho bem a certeza porque cedo perdi o fio à meada), com concordância algo condicionada do candidato, falou-se finalmente das relações externas. Falou brevemente da possibilidade que Portugal tem em trazer dinâmicas à UE pelo seu relacionamento privilegiado com África e Magrebe (com a concorrência da França), América Latina (com proeminência da Espanha) e mesmo com a Ásia. Nas relações com o Leste, Rangel avisou que não se podia abandonar a Sérvia, depois do golpe do Kosovo Lembrou casos relativamente simples de possíveis alargamentos, como a noruega, Islândia e Suíça. E falou dos casos verdadeiramente bicudos; a Turquia, para começar, a cuja entrada deixa sérias dúvidas, embora não se oponha frontalmente, mas que deveria, caso isso não acontecesse, ser objecto de uma sólida parceria estratégica por parte da UE; a Ucrânia, que traz consigo não apenas uma parte russófona e russófila mas também a Crimeia e a base de Sebastopol; o Cáucaso, em especial a Arménia e a Geórgia, com problemas semelhantes aos dos ucranianos, mas também parte da identidade europeia; a Bielorrússia, em que Lukashenko parece ter iniciado uma tímida aproximação à UE. E por fim a Rússia; Paulo Rangel lembrou João Paulo II, a sua visão de uma Europa ao Urais e o seu combate não somente ao comunismo mas igualmente ao capitalismo selvagem; e que a cultura russa, começando na literatura e na música, era parte integrante da cultura europeia. Ou seja, nunca a UE poderia olhar para o gigante russo como uma entidade totalmente estranha, mas a entrada na organização/federação já lhe parecia exagerada senão impossível.

(Já que se falou de tantas possíveis entradas, é pena que ninguém tenha lançado as hipóteses Israel e Cabo Verde, com tanto direito como a Turquia).

Final em beleza: na senda da recordação de Karol Woytila, a ideia de que em Portugal é muito difícil falar-se publicamente utilizando linguagem religiosa e teológica, quando se usa para todas as outras vertentes, porque logo aparecem demagogos bramindo pela "violação do estado laico". Uma ideia afinal tão fiel às liberdades públicas e políticas que Paulo Rangel pretende defender, em S. Bento ou em Estrasburgo.

terça-feira, maio 19, 2009

Ir onde estão os mais fracos
Pode-se falar do "esboroamento do cristianismo", ou que "cada vez mais as pessoas se fastam da Igreja", mas não há dúvidas que na última semana o catolicismo marcou pontos. A nível externo, com a visita do Papa à Terra Santa, onde visitou todos os locais de relevo por onde o Nazareno espalhou a sua Palavra, e em que sem declarações incendiárias e com a devida prudência, não deixou de condenar por igual o Holocausto e o muro da Cisjordânia, apelando emocionada mente ao fim das hostilidades. Claro que houve críticas, dos descontentes e fundamentalistas de sempre, numa terra devastada por fanatismos de toda a ordem.
Por cá, Nossa Senhora de Fátima saiu da capelinha e juntou-se às comemorações dos cinquenta anos do Cristo-Rei. Ouvir um responsável camarário de Almada dizer que nunca na cidade da outra banda tinha havido tal ajuntamento de pessoas (embora haja quem diga que há cinquenta anos houve mais) tem o seu significado. E muito embora não seja um grande devoto de Fátima, pelo clima quase pagão que por vezes lhes está subjacente, gostei de ver a singela figura da Senhora circular por entre hospitais e zonas socialmente degradadas, como o Intendente, e onde parece que Deus está ausente. Porque era precisamente para estas almas falhas de esperança e no fundo da vida que Maria deu à luz o Seu Filho.

quinta-feira, maio 14, 2009

Os danos da imprensa desportiva

Com um melancólico fim de campeonato e um empate bisonho frente ao Trofense, que tive a desventura de assistir ao vivo, Luís Filipe Vieira veio anunciar que iria haver "mudanças" no futebol do Benfica. Tanto bastou para que nos dias seguintes toda a imprensa desportiva viesse logo anunciar a saída de Quique Flores e as eminentes contratações de Jorge Jesus, Scolari, e o que mais se imagina.


Já se sabe que a imprensa desportiva, sem mais nada que contar, se agarra inevitavelmente ao Benfica, e em tempo de crise de resultados a sofreguidão aumenta exponencialmente. É vê-los a prever técnicos, anunciar jogadores "a caminho" e discorrer sobre as divergências dos dirigentes. O modelo é sempre igual. Mas agora ainda é pior: sem que haja qualquer indicação nesse sentido, já nem põem a hipótese remota de Quique ficar mesmo no próximo ano; os jogos que restam são vistos como um pró-forma. Ora mesmo que não esteja em jogo nada de substancial, seria penoso ver o Benfica vacilar de novo nesses desafios. Ficar em terceiro já é mau, mas em quarto e quinto é ainda pior, correndo-se o risco de se quedar atrás do Nacional da Choupana! Com que moral irá Flores orientar a equipa nos próximos jogos com toda a imprensa a deitar-se a adivinhar o seu sucessor? É de temer o pior. Em casos normais, o Braga nem seria um bicho de sete-cabeças, até porque já não demonstra o fulgor de há uns tempos (apesar da goleada ao Belenenses, que parece-me que se deveu mais à ansiedade e à prestação desastrosa da Cruz de Cristo), e muito menos o último adversário em casa, precisamente o Belém, mas até do jogo com estes tenho receio. Sem espírito para trabalhar e se se confirmar o guia de marcha, Quique Flores nada terá a esperar e já estará com a cabeça noutro lugar.

Mesmo que tenha tido um mau desempenho, o melhor ainda seria que ficasse, para que houvesse alguma constância e estabilidade. Mas assim parece impossível. Os nossos jornalistas desportivos, sem mais assunto em que pegar, pura e simplesmente regurgitam manchetes. E isso influencia e tem consequências concretas, provocam a desconfiança e a suspeita e podem acarretar decisões indesejadas. E nesta altura podiam falar de tanta coisa: do futebol internacional, da final da Taça do Rei que juntou os dois clássicos vencedores da prova, Athletic de Bilbao e Barcelona (que venceram, infelizmente), como da taça de Itália entre a Lázio e a Sampdoria, dos finais de andebol, etc. Mas não, optaram pelo rumor em detrimento da notícia factual. Só confirma que os jornais desportivos têm "informação" a mais e assuntos a menos, e que ocupam um lugar demasiado destacado na imprensa nacional para a importância que têm. Que saudades dos tempos em que A Bola, o último jornal do Bairro Alto, se publicava apenas duas vezes por semana. Essa é que era a dimensão acertada.





Há quinze anos dava-se este embate sublime, uma das vitórias mais gloriosas (e saborosas) de sempre. Como vão longe, esses tempos! Depois disso, o dilúvio.

quarta-feira, maio 13, 2009

O Fascismo de braços cruzados


Parece que agora estar de braços cruzados em outdoors de campanha eleitoral passou a ser uma forma de fascismo. Doravante, quem estiver em momento de pausa e de braços cruzados será imediatamente denunciado pela virtuosa União de Resistentes Anti-Fascistas. Acho muito bem: afinal de contas, é uma posição ligada ao ócio, e, por consequência, à burguesia exploradora e inimiga do trabalho. Espera-se que no seu próximo artigo Boaventura Sousa Santos desenvolva os tópicos sobre o novo Fascismo-Braçocruzadismo. Revolução sempre! Braços cruzados nunca mais!

terça-feira, maio 12, 2009

Um debate com todos


Infelizmente só pude ver a segunda metade do debate das Europeias, com os 13 candidatos, no belíssimo espaço do Museu da Electricidade, em Lisboa. Afinal havia espaço e tempo para todos, e sem os aplausos e chinfrineira do público a coisa correu razoavelmente bem. Pelo pouco que vi, não consegui ficar com uma ideia de todas as candidaturas. Havia candidatos que não conhecia, como o do Partido Humanista e o do MMS. Alguns são bloggers. A disposição esquerda/direita provocou-me algumas dúvidas (com o MEP, por exemplo).


Do que ouvi, e menos do que queria, Paulo Rangel esteve demasiado virado para a crítica interna no seu apelo final; Nuno Melo e Miguel Portas iam com a lição bem estudada. Ilda limitou-se a desfiar a bobine, embora tenha feito valer a sua experiência em Estrasburgo. Gostei de ver Laurinda Alves recordar os "pais da Europa" e o espírito cristão que levou à constituição da CECA, já que a memória é tantas vezes abastardada. Do Partido Humanista viram-se inócuas boas intenções. Do MMS também pouco retive. O Frederico, pelo PPM, desafiou abertamente a RTP e parece-me que saiu penalizado por isso (pena a troca "Nobre Guedes", por Nobre da Costa, no fim, e o esquecimento de Calvo Sotelo, em Espanha, mas o tempo era escasso). Carmelinda Pereira deve-se achar em 1976 (nacionalizar a banca para ser gerida por comissões de trabalhadores? Deus meu!). Orlando Alves mostrou-se combativo, como determina o lema do partido, mas com moderação. Alguma moderação também da parte de Humberto Nuno Oliveira, mas com as ideias já bem conhecidas. Quartim Graça pareceu-me ponderado mas mais discreto do que o desejável. Quanto a Vital Moreira, se dúvidas havia, dissiparam-se hoje: como cabeça de lista é um erro crasso. Mantém toda a presunção de "lente de Coimbra", tentou negar o indesmentível (a promessa de referendo ao Tratado Europeu) de maneira inconcebível, não estava totalmente dentro das matérias e nem sequer conserva a sua antiga qualidade, de resposta fácil e aguçada, que lhe permitia outrora esgrimir com os seus floretes verbais de forma muito eficaz. Cada vez que aparece, o PS perde votos, e nem as "Marinhas Grandes" ocasionais lhe valem.


Tirada inesperada da noite, de Miguel Portas: "que a direita ouça por uma vez os bispos quando falam da emigração, porque falam bem". Espera-se nos próximos dias o consequente protesto da Associação Ateísta pela "vergonhosa referência a uma confissão religiosa num debate laico".
Voo directo para a Grécia

Descobri que há voos directos ente Hamburgo e Atenas. Deve ser uma viagem interessante, esta, do Mar do Norte à Ática. E parece-me que haverá com certeza quem as aprecie devidamente.

quinta-feira, maio 07, 2009

Nasceu o I



Lançar um novo jornal diário na crise actual que afecta em particular o sector da imprensa revela audácia. O I, o anunciado periódico dirigido por Martim Avillez de Figueiredo, deu-se hoje finalmente a revelar. O ABC do PPM (ainda não percebi a função que ocupa na publicação, mas ao menos julgo que compreendi agora o sentido do nome do blogue) tem-no publicitado insistentemente, e ele aí está. No meio da tempestade jornalística que se faz sentir, será interessante verificar nos próximos tempos como se aguenta o I.

Tinha de ser a equipa da moda

Não sei como se diz "gatuno" em catalão, mas se não existia tal palavra, têm de a inventar. A tão desejada final entre Cristiano Ronaldo e Messi vai mesmo realizar-se, e para isso os catalães contaram com um misto de ajuda da arbitragem e de sorte inaudita. A tal equipa que "pratica o melhor futebol do mundo" e à qual nenhuma outra parecia conseguir travar só obteve o passaporte para Roma de forma medíocre e enviesada. A filial espanhola do Basileia vai ficar na história, sim, não pelos golos que marca mas como uma das que mais injustamente chegou a uma final europeia. Agora é esperar que o Melhor Jogador do Mundo trate da saúde a essa gente do canto do país vizinho. Quanto ao Chelsea, depois do golo do Liverpool que nunca se saberá se entrou das meias finais de 2005, da derrota em grandes penalidades da final do ano passado, e agora disto, deu mais um passo em frente para vencer o galardão de equipa mais desafortunada da última década.

terça-feira, maio 05, 2009

Tolices em cadeia

Alguns membros daquela alegre confraria que se dedica a publicar livros relatando os seus hábitos de pilhagem desenfreada e que dá pelo nome de Super Dragões (ou "gaiatos", para outros) assaltaram a loja da irmã de Cristiano Ronaldo. Percebe-se que tenha sido logo essa, como vingança pelo torpedo que CR7 enviou há dias para o fundo das redes de Helton. Estranho é vir do mesmo colectivo que volta e meia acusa os adversários de serem "invejosos". Se a moda pega, vamos ver tudo quanto é lojas de familiares de avançados serem assaltadas por adeptos dos clubes a quem esse jogador marcou golos.
Por falar em Madeira, Alberto João Jardim veio dizer que a equipa do Marítimo, tirando a defesa, devia ser "saneada" e "rifada", e que o plantel "é fraquíssimo". Já se sabe que o presidente do Governo da Madeira intromete-se em tudo o que diz respeito ao arquipélago, incluindo futebol, que aliás já lhe valeu uma monumental vaia em pleno estádio dos Barreiros. Semelhantes opiniões de um político sobre o seu clube só as vi de Berlusconi, que interrompeu uma programa televisivo para criticar as opções do treinador do seu Milan.
E a propósito de Berlusconi, a mulher de "sua Emittenza" pediu o divórcio, farta das tropelias do marido. e como reagiu o primeiro-ministro italiano? Afirmando que tudo não passa de "manobras da oposição de esquerda", que teriam influenciado a cônjuge. É neste patético estadista, neste projecto de Mussolini de Carnaval, como diria o capitão Haddock, que os italianos cada vez mais confiam os seus destinos. Na sua síntese, é um quadro arrasador do que é a Itália hoje em dia.

segunda-feira, maio 04, 2009

Vasco Granja


Morreu esta noite Vasco Granja, aos 83 anos de idade. Para quem passou a infância nos anos oitenta, é uma figura incontornável. Deu a conhecer a toda uma geração desenhos animados do mundo inteiro e dinamizou o gosto pela "BD" (expressão por si cunhada) em Portugal. A caricatura e a recordação que dele fazem são desenhos animados dos países então do outro lado da Cortina de Ferro. Curiosamente não me lembro tão bem desses como dos mais conhecidos Hanna-Barbera e Warner Bross, que também passavam pelo seu programa; ficou-me sobretudo na memória o Gribouille, um simpático monstro francês de esponja que desenhava. Uma parte da memória da minha infância devo-a a Vasco Granja, que só me recordo de ver pessoalmente numa entrevista a Morris, o criador de Lucky Luke, há muitos anos, no Salão Internacional de Banda Desenhada do Mercado Ferreira Borges. Que descanse em paz, ou se não for possível, na confusão eterna do seu mundo fantástico.


Adenda: o Gribouille