quinta-feira, agosto 28, 2008

A guerra chegou a Moledo
Através de um comentário, pude ver mais visões igualmente distorcidas sobre Moledo. Felizmente nem todos vão para o Algarve, ou fazem-no apenas por uns dias (imagine-se aquela sobrelotada região ainda com mais gente em Agosto). No meu caso, não me lembro da primeira vez que vim a Moledo porque tinha meses, e por poucos dias não tenho no meu BI uma naturalidade diferente. E felizmente nunca tive de pedir guarida a ninguém, excepto à minha família mais próxima. Quanto ao Clube, é engraçado nas tardes de ventania, para se tomar café e ler tranquilamente nos cadeirões de verga cá fora. Á noite não o frequento porque tenho mais de 17 anos e menos de 45, e entre essas idades não se encontra lá ninguém.
Era precisamente do Ínsua Clube que queria teclar: a ilustre instituição estival andou pelos noticiários e secções de crime de vários jornais por causa de uns embuçados que entraram pelo campo de futebol adentro, com canivetes e bastões, ao que consta por causa de um ajuste de contas. Devo dizer que poucas horas antes tinha estado lá a almoçar, para comemorar o meu aniversário com a família, na modorra pardacenta de Domingo; já na praia, ouviram-se logo umas exclamações sobre o "jogo de futebol interrompido", "pancadaria" e "ambulâncias". Dentro das instalações do Clube decorria a Assembleia Geral; nenhum dos sócios reunidos ouviu os desacatos.
Cenas de pancadaria, vandalismo e demais brincadeiras parvas, sobretudo à noite, não são novas pelo Alto Minho, particularmente em fins de Agosto, mas encapuçados é coisa que ainda não se tinha visto. A princípio tratar-se-iam de miúdos que passam férias lá, e que desgarrados da alçada dos pais, se metem a fazer tropelias. Fala-se agora também em malta mais local e em questões particulares entre eles, ou mesmo de gangues que viriam do Porto para ajustes de contas. Não sei se será tudo romanceado e se não se tratarão apenas de "veraneantes" com sobejo desrespeito e falta de chá, teenagers que não receberam puxões de orelhas suficientes e que se acham no supremo direito de fazer tudo o que lhes apetece. Uns redimem-se a tempo, outros não.
A conversa da "insegurança" não me costuma comover muito, mas confesso que com tiros quase diários, crescentes operações policiais e uma data de crimes a que já não estávamos habituados começo a ficar incomodado. Não estamos ao nível da Colômbia nem da África do Sul, mas pergunto-me se não estaremos realmente a passar por um período de aumento real da criminalidade. Não seria nada estranho nem inédito. Bem sei que os desacatos de Moledo estão a um nível mais baixo do que o recente assalto falhado a uma dependência bancária em Lisboa, mas fica aqui uma pequena contribuição para revelar alguma pequena criminalidade que não se verificava há uns anos, mesmo onde se pensava que ela não chegaria.
Só duas notas: voltando ao início do post e ao link que lá se encontra, acho estranho ouvir falar de "almoços no Palma" quando nesta altura só servem jantares. E segundo reparo: um dos agredidos pelo bando de encapuçados era um remador do Sporting Clube Caminhense. O menor fulgor actual desse clube talvez tenha sido o azar desse atleta, já que antigamente não era raro ver remadores de Caminha (e da referida agremiação) representar, e bem, Portugal nos Jogos Olímpicos. Estivesse o agredido em Pequim e nada lhe teria sucedido. Infelizmente para ele, os atletas do Minho foram substituídos pelos do Cávado.

terça-feira, agosto 26, 2008

Jogos Olímpicos: os Deuses

(Infelizmente não consegui encontrar nenhuma caricatura do Di Maria)

sábado, agosto 23, 2008

Entretanto, em Pequim


Esta imagem da força de vontade de Nelson Évora vale por muitas declarações e muitos agradecimentos de autoridades nacionais em nome do país. E demonstra que nem só de futebol vive o desporto português. Embora em boa verdade se deva recordar que o campeão olímpico do triplo salto é um atleta do Benfica.

sexta-feira, agosto 22, 2008

Benfica 2008-09: antecipações
Desde Maio, o mês em que acabou o frustrante último campeonato e em que Rui Costa trocou a camisola de jogador pela gravata de director, que acompanho a par e passo a pré-época no Benfica. A princípio, julgava que seria necessário, para além de alguém que compreendesse bem o futebol, um treinador jovem e ambicioso e algumas mudanças no plantel, para substituir algumas peças mais importantes e um ou outro jogador sem talento ou força mental para jogar no Benfica.
O técnico que eu mais gostava de ver no banco do Benfica era Laudrup, mas a vinda de Quique Flores também não me deixou nada insatisfeito. É bastante dotado tecnica e tacticamente e deixou bom trabalho em Valência. A inclusão de Diamantino Miranda e, acima de tudo, do preparador físico Pako Ayestaran, para resolver um dos mais bicudos problemas dos últimos anos, são também mais valias visíveis.

Quanto ao plantel, embora maioritariamente satisfeito, teve algumas mudanças quanto a mim discutíveis. Era a favor das saídas de Butt, porque desnecessário (embora ache incrível que nem 1 milhão de €uros tivéssemos recebido), de Luis Filipe, e eventualmente de Edcarlos. Deveriam apenas entrar jogadores que colmatassem estas saídas e a de Rui Costa, além de uma ou outra que pudesse suceder, como a de Rodriguez, ou uma venda mais rentável.
Começando lá atrás, Quim e Moreira dão mais que garantias, mas tenho pena que não tenhamos conseguido vender o passe de Moretto para pôr no lugar do regressado estrangeiro um "produto" da formação, como Bruno Costa.
Na defesa, talvez não fosse má altura para vender Luisão, mas se ele se mantiver sem lesões talvez faça uma época superior ás últimas duas. David Luiz, essa incrível descoberta, é para ficar, claro. Gostei também do retorno do promissor Miguel Vítor. Sidnei é uma incógnita, até pode ser muito bom, mas os milhões oferecidos por metade do passe foram caso para torcer o nariz. Não se sabe se Zoro fica ou sai, mas quanto a mim é uma mais valia que ainda não teve oportunidade de se mostrar, até pela sua polivalência. Se não é para ficar, então que se ganhe algo com a sua saída (além de se poupar no elevado salário). Laterais: óptima a renovação com Leo, acertado o recuo de Maxi para a defesa, esperança na próxima época de Nelson e sérias dúvidas na troca de Sepsi para a vinda de Jorge Ribeiro,, um jogador mediano que saiu há uns anos a mal da Luz.

O meio-campo sofreu uma profunda remodelação. A saída inesperada de Petit para o Colónia (outro jogador oferecido!) abre o caminho para os prometedores Ruben Amorim e Yebda. O Maestro dá o lugar a Carlos Martins, o rebelde ex-sportinguista, esperando que finalmente solte o seu talento, e ao conceituado Pablo Aimar, um jogador que há uns tempos jamais acreditaria poder vir para o Benfica mas que tem jogado mais à frente. Dará azo a todo o seu talento? Em breve se saberá. Ainda temos para o meio do terreno o impetuoso Bynia e o polivalente Maxi. E Zoro, se não sair.
À frente há alguma fartura para o lado esquerdo. O quase medalhado olímpico Di Maria pode explodir se continuar na forma que tem mostrado em Pequim, mas terá aí de competir com Reyes, um daqueles jogadores de grande talento mas que prometem sempre muito mais, sem nunca chegarem ao patamar dos génios; e o jovem uruguaio Jonhatan Urretaviscaya, uma flecha com raça e sentido de golo, um jogador que promete vir a ser um caso sério e que já é um fenómeno de popularidade entre os benfiquistas.
No centro, Cardozo está em boa forma e pretende continuar os feitos do seu bombástico pé esquerdo; será também aconselhável a melhorar o pé direito e o jogo de cabeça. Makukula é um torre, mas é igualmente uma das piores contratações dos últimos anos, na sua relação preço/qualidade, e bom seria se fosse vendido. O tal "avançado móvel" que Flores tanto deseja tarda a chegar; não sendo Luis Garcia, quem virá até fins de Agosto?
Uma das maiores dúvidas para mim está na direita. Francamente, preferia ficar com Adu a comprar Balboa (4 milhões de €uros!); é certo que o americano não se chega à linha e cruza como o jogador da Guiné Equatorial, preferindo a finta e o passe curto, mas o seu talento é muito maior e pode ainda provar todo o seu valor se lhe derem oportunidade. Que o Mónaco seja inspirador...
Se nos primeiros jogos houve desconexões compreensíveis, os embates contra o Feyeenord e o Inter de Mourinho já deram uma melhor imagem da nova turma de Quique. Golos foram poucos, mas a baliza manteve-se intacta, e viu-se bom futebol. Veremos o que sai de Vila do Conde, no Domingo (ainda por cima o meu dia de anos), e sobretudo o que fará este Benfica 2008/09. Melhor do que no ano passado será de certeza, e confiança - com paciência - é que não falta. Assim como as razões para esperar algo de positivo.

quarta-feira, agosto 20, 2008

Links

Uma inovação que já tardava neste espaço: um conjunto de ligações a outros blogues. Com as alterações no template do Blogger, colmatou-se finalmente uma grave falha. Para já, estão alguns incontornáveis, mas ao longo do tempo outros serão acrescentados. A blogoesfera é grande, e há boas surpresas sempre ao virar de um link.

sexta-feira, agosto 15, 2008

Visões parciais de Moledo

O Público anda a publicar uma série de reportagens sobre "praias tradicionais" a Norte do Tejo. O "dossier" começou por Moledo, provavelmente por razões geográficas. E o que escreveu sobre a mais nortenha das praias portuguesas deixou-me de pé atrás sobre as restantes. A reportagem tem algumas curiosidades com a sua piada, focando-se principalmente no Moledo antigo. Mas comete alguns erros, até porque se baseia na visão de apenas duas pessoas, de um meio muito próprio.


Tratar alguém pela sua alcunha (que aliás detestava), como fizeram a "Trifaldino" Aguilar (que se chamava na realidade Manuel) é qualquer coisa de bradar aos céus. Ou presumir que as vendedeiras de bolos vendessem os frágeis caminhenses na praia, coisa que jamais aconteceu, até porque se estragariam com a maior das facilidades. Ou ainda considerar que pessoas que por lá passaram uma ou outra vez, como João José Cochofel, eram habituées normais.

Depois, há olhares demasiado parciais e datados nas divisões políticas. Não sabia que os monárquicos se reuniam em casa do Visconde de Sousa Rego, que ainda existe. Mas acho muito duvidoso que o Ínsua Clube tenha sido fundado para servir de pouso aos republicanos. Sei de vários monárquicos que não só o frequentaram desde então como até presidiram aos seus órgãos sociais. Além do mais, como é possível falar de republicanos em Moledo sem referir que Bernardino Machado, duas vezes presidente da República, era um assíduo frequentador da praia, assim como os seus descendentes, conhecidos como "os Bernardinos" (ainda há uns 15 anos me lembro de ver um senhor extremamente idoso, filho do próprio Bernardino)?


A própria divisão da praia está errada, ou não já corresponde à realidade. Se a esquerda continua a ser uma zona popular, a direita da praia, a do Clube, está reservada a um sector mais "social", e o meio é para quem quer fugir à maralha. Divisões políticas são coisas que já não têm lugar no areal.


O que se pode dizer do artigo em geral? Revela um pouco do Moledo de antigamente, com as suas famílias numerosas que se conheciam todas umas ás outras, a importância de António Pedro, o Ínsua Clube como único local de encontro, a par da praia, ou o tempo em que o Pica-Pau era o único bar disponível da praia, durante todo o ano (hoje já não existe). Apreciável também, a lembrança da saudosa Pensão Ideal, hoje demolida, em cujo café bebi as minhas primeiras cervejas. Mas se tivessem interrogado outros assíduos moledenses a reportagem por certo que seria menos hermética e daria outra visão de conjunto. Não faltam personalidades conhecidas que pudessem falar, como Vitorino de Almeida, Jorge Miranda, Mariano Gago. E quem não conhece Moledo poderia não só conhecer melhor o passado, como os ardentes torneios de canasta, a célebre visita de Zeca Afonso ao Clube, e os passeios de burro pela trela do Maestro Vitorino. Quanto ao presente, em que a segunda quinzena vê chegar uma onda de gente, não há só zaragatas na Avenida de Santana no regresso das noites da Alfândega e da Indústria (embora haja os seus problemas, como já tive oportunidade de fazer notar), mas também alguns bons dias de praia, longas conversas nocturnas no Palma, passeios pelo pinhal do Camarido e incursões a Espanha ou a outras localidades minhotas em dias de mau tempo.


É assim o Moledo actual. De imutável só mesmo os montes circundantes - Facho, Santo Antão e o imponente Santa Tecla - o vento, a Insua e o mar.

Moledo, Agosto de 2008 (com um tempo excelente)

terça-feira, agosto 12, 2008

Os custos da superpotência

















Os Jogos Olímpicos de Pequim, sumptuosa e megalomanamente inaugurados há poucos dias, recordam-me outros eventos desportivos realizados na Alemanha, em períodos e contextos bastante distintos. Pela blogoesfera fora nota-se a mesma ideia.
A superpotência ascendente chinesa pretende "cumprir o seu destino" e redimir-se dos anos em que teve a oportunidade se expandir para o exterior e preferiu dedicar-se ao seu domínio regional. Depois de se vergar perante ocidentais e japoneses, servindo de objecto aos sentimentos expansionistas de outros, ultrapassado o equívoco maoísta, hoje mero objecto de decoração, e as sinistras memórias da Revolução Cultural, a China levantou-se. Tornou-se um centro industrial e financeiro, deu às suas cidades uma imagem vertical, invadiu os mercados - e as universidades - ocidentais com os seus produtos e tem levado as suas ambições a África e à América do Sul. A mistura da influência de Confúcio, Marx e Adam Smith tornou o velho Império do Meio numa potência global. Que como todas que emergem, quer demonstrar o seu poderio com uma grande celebração de abundantes doses de espectáculo e riqueza.

Mas entre as demonstrações de grandeza (ou de tamanho?) de uma potência autoritária há sempre os engulhos e as pedras no sapato. Os protestos contra a situação no Tibete, que duram há vários meses, são o exemplo mais conhecido. Para lá de todo o show-off, recordam que estamos perante um país que executa centenas de presos por ano, que continua a limitar e perseguir cultos, como a Católica, e a exercer o controle sobre territórios que controlou pela força. São a "chatice" mediática que incomoda a China e os seus poderes, e que de certa maneira lembra Berlim em 1936. A aposta na conquista da maioria das medalhas, sobretudo sobre os EUA, mostram bem esse desesperado desejo de afirmação. E as declarações de chineses anónimos, do seu orgulho pela "demonstração de poder", é o eco desse desejo, arranhado pelos manifestantes pró-Tibete.

O outro aborrecimento são os atentados contra forças policiais que se têm verificado nos confins do sudoeste chinês, nas regiões maioritariamente muçulmanas, que pretendem impôr a Sharia nesses territórios. São um ténue beliscão no grande evento desportivo, mas o seu eventual agravamento pode ser incomodativo. Atentados nos Jogos, como os que aconteceram em Munique em 1972, é a última coisa que as autoridades chinesas pretendem ver. Mas há preços a pagar para se ser uma superpotência. A ameaça do terrorismo global, mormente o islâmico, e a sua concretização, é um desses custos modernos que há que suportar em troca da visibilidade do seu poderio.

domingo, agosto 10, 2008

Silly season a Norte
Dez dias depois, volto a teclar no blogue. Depois de um tour pelas falésias do Sul, pela aridez vicentina e pela capital, eis-me de volta às nortadas, às águas frias, aos nevoeiros e ao habitual convívio que caracteriza este extremo norte da costa portuguesa. De volta aos jornais que não li nos últimos dias, e às novidades e efemérides em que tardiamente reparei, como os 430 anos de Alcácer Quibir, os 40 da queda de Salazar e a morte de Soljenitsin. Ou os assaltos frustrados a bancos e a abertura colossal dos Jogos da polémica. Entretanto, começei logo por comprar os habituais Cadernos de A Bola, para ficar munido para a época futebolística que se avizinha, como faço todos os anos. E como todos os anos, pergunto-me sempre a mesma coisa: se se sabe que o mercado está longe de fechar, e que há contratações latentes e na calha, porque é que insistem em editar os Cadernos tão cedo? Não poderiam esperar ao menos uma semana, caros Dr. Vítor Serpa e restante redacção? Sempre era um favor que faziam aos vossos leitores. Ao menos para a edição do próximo ano podiam pensar nisso.

sexta-feira, agosto 01, 2008

A partir de hoje, e durante a próxima semana, este blog ficará parado. Posts só mesmo no outro fim de semana. A blogoesfera também precisa de férias, e o mundo não se resume à net e aos blogs, embora às vezes pareça.
Deixo-os com a nova coqueluche da "Cena de Queluz", os Pontos Negros - inspirados a contrario no nome das suas referências White Stripes - e a magnífica Conto de Fadas de Sintra a Lisboa. Vale bem a pena. Ouçam e divirtam-se.