quinta-feira, julho 31, 2008

Modas e fracturas
A Moda é uma poderosa força de evolução, seja em que sentido for. Aspectos físicos, ideias, projectos de maior ou menor envergadura, pouco escapa à sua capacidade de influenciar as acções em determinada época ou de determinar o curso das coisas. O parecer inovador ou moderno, o querer fazer parte deste ou daquele grupo, ou ainda escapar a qualquer anátema de ridicularidade, são as maiores expressões da tremenda força da moda.
Para nos cingirmos a aspectos mais visíveis, olhe-se para a fisionomia masculina ao longo dos últimos cem anos: do uso de bigodes arqueados ou enrolados até à cara rapada e ao cabelo engordurado em brilhantina, seguindo-se as gedelhas combinadas com barbaças ainda maiores e depois, novamente, a cara rapada. Neste momento, é moda usar-se uma barba de 8 dias, indefinidamente.

Depois de ter falado em Alberto Martins, não resisto a voltar-me de novo para gente do PS, desta vez para aqueles que mais aniosamente perseguem (ou o que eles julgam ser) a moda, mesmo mais do que José Sócrates: a Juventude Socialista.
A JS, como se sabe, além de servir para animar comícios e preencher em massa os serviços públicos disponíveis, como qualquer juventude política que se preze, tem como passatempo favorito lançar "causas fracturantes", embora de há uns anos para cá tenha o saudável convívio do BE nessa matéria. Há dias, em convenção, na passagem de testemunho de Pedro Nuno Santos para o novo líder da estrutura, Duarte Cordeiro, este não deixou de mostrar os seus projectos mais urgentes para o futuro, a começar pelo casamento de homossexuais. Seguiu-se na mesma ordem de importância a discussão acerca da eutanásia e da despenalização das drogas. Num grau menos elevado, falou-se apressadamente do desemprego e nada sobre justiça social.
O que é que isto revela? Que a JS continua agarrada ao seu vício de "fracturar" sem procurar soluções nem ao menos diagnóstico para os males do país e dos jovens que dizem representar. Propostas que dêm escândalo, eis o que têm para oferecer. O que é importante é o casamento de homossexuais e a adopção de crianças por casais gay, porque é "progressista" sem que ao menos se estude com honestidade as consequências graves desta segunda ideia (bem como da eutanásia). Os problemas sociais, o desemprego de novos e velhos, a miséria que aumenta de braço dado com a fome, tudo isso escapou aos jovens "progressistas". É natural: a pouco mais de um ano das legislativas, convém começar a tirar eleitorado ao Bloco. As Jotas servem para isso mesmo, além das razões descritas: para coneguir arrancar alguns votos indecisos para o partido a que pertencem, sob o lema da irreverência. Mesmo que isso implique aparecer com a bandeira das causas mais discutíveis e inúteis. Estas "juventudes" servem para dar umas migalhas aos seus partidos. Fora disso, a sociedade em geral não precisa delas para absolutamente nada.

segunda-feira, julho 28, 2008

O cinzentão
Depois de ouvir a resposta de Alberto Martins à entrevista de João Cravinho sobre os perigos de aumento da corrupção em larga escala (resumindo: "o PS não recebe lições de combate à corrupção"), não pude resistir a deixar aqui umas palavras. É que este tipo é o protótipo da vacuidade política, do cinzentismo da classe, da absoluta falta de convicção em tudo o que diz e faz. É inconcebível pensar como é que chegou a líder estudantil numa altura em que era perigoso sê-lo, a deputado e a ministro. Provavelmente, apanhou a carruagem e deixou-se habilidosamente ir. Como deputado é um soporífero, e na pasta da Reforma do Estado, que ocupou durante 3 anos, não se lhe reconhece qualquer obra ou resultado deixado.

Basta ouvir uma conjunto de declarações ou uma pequena entrevista para perceber que dali não vem uma ideia, um rasgo, um dito mais incendiário. Quem tiver ouvido as justificações oficiosas sobre a recuo no protesto que o Grupo Parlamentar do PS se preparava para fazer às críticas do anterior embaixador norte-americano à política externa portuguesa, entenderá. Nada de tons pessoais, nada de emoções por ténues que fossem, nem de explicações minimamente satisfatórias. Apenas retórica, e mesmo essa está longe de ser inflamada. E nem se pode dizer, como sobre o Pacheco, de Eça, que "tem um imenso talento". Não. A linguagem é banal e pouco apelativa, as ideias próprias não existem, a imagem é de um cinzento imaculado. Para além de ser o político desta cor por excelência, Martins é um digno representante da demagogia da 1ª República, mas sem bombas ou revólver no casaco. Como dizia Pedro Mexia, num engraçadíssimo artigo de há uns anos, tem o tom de um tribuno de Viseu dos anos vinte, e só se teme que pronuncie o termo "debalde". E daí, porque não? Sempre faria rir um pouco.

quinta-feira, julho 24, 2008

Tudo tem um fim II


Por muito que Figo, Rui Costa e Paulo Sousa tenham sido os elementos da "Geração de Ouro" a obter mais sucesso internacional, o seu grande símbolo será sempre João Vieira Pinto. Atesta-o o facto de ter sido o único bicampeão de júniores das equipas de Queiroz que lograram o feito, além dos dois golos marcados à Nigéria em 1989. Passou um ano nos desperdícios do Atlético de Madrid e regressou vacinado contra idas para o estrangeiro. Formado no Boavista, ao qual deu muito dinheiro pelas suas transferências, tornou-se o craque da Luz e humilhou o chico-espertismo de Sousa Cintra e um Sporting que já se via campeão naquele mágico e inimaginável 6-3, de tal forma que ainda hoje é o único jogador a quem A Bola deu nota 10. continuou no Benfica como o "Menino de Ouro", ganhou uma Taça, suportou os piores tempos da Luz até que Vale e Azevedo e o gélido Jupp Heinkes o expulsaram do Benfica, coisa que provocou reacções de fúria e desespero. Ainda me lembro dos adeptos à porta do estádio, dia e noite, a clamar para que ficasse, ou de Maria João Seixas,abrindo o seu programa com uma mensagem de apoio ao jogador. Não tenho a menor dúvida de que em boa parte Vale e Azevedo acabou ali com as hipóteses de reeleição.


Depois, a tristeza de vê-lo no Sporting e a fazer dupla com Jardel, dupla essa em tempos sonhada para a Luz. Ou por vê-lo a socar um árbitro, momento fatal que deu início ao declínio da sua carreira e a nunca mais envergar as Quinas. Regresso ao Boavista, passagem pelo Braga, um vago projecto de jogar no Canadá, e por fim a declaração de adeus. com quase 37 anos, um filho já a jogar na 1ª divisão, centena e meia de golos no campeonato e, salvo erro, sendo o jogador com o maior número de jogos realizados na prova. Não, jogadores como este, geniais, imprevisíveis, impetuosos até demais, não se esquecem. São eles que escrevem capítulos inteiros na história do futebol. Obrigado por tudo, Capitão.

quarta-feira, julho 23, 2008

Tudo tem um fim

Radovan Karadžić está finalmente preso, depois de anos e anos de fugas e de interrogações sobre o seu paradeiro. Estava afinal de contas em Belgrado, sob a aparência de um pacato e barbudo especialista de medicina alternativa. O responsável por alguns dos piores crimes de guerra na Europa desde a Segunda Guerra (como os do cerco a Sarajevo e o massacre de Sebrenica), ex-líder dos sérvios da Bósnia e um dos homens mais procurados do Mundo poderá agora enfrentar a justiça do TPI da Haia. É o fim de uma longa perseguição e de muitas interrogações. Pergunto-me como terão reagido os comunistas do calibre dos nossos e os nacionalistas de extrema-direita, que nestas questões costumam adoptar posições muito idênticas (vide Milosevic).

Convém também recprdar que a Sérvia cumpriu mais uma das suas obrigações. Cabe à comunidade internacional e sobretudo à UE tomar isso em conta e não ignorar olimpicamente como aconteceu em 2000.

terça-feira, julho 22, 2008

A febre dos festivais

Localização de concertos à parte, reparei noutra coisa; na quantidade de festivais de pop-rock que houve e haverá este ano. Começou com o megalómano Rock in Rio, em Lisboa. Depois, o Alive, em Algés, roubou público à fase lisboeta do SBSR (mas não à portuense), embora preferisse mil vezes ouvir Duran Duran e Beck aos Rage Against the Machine, ainda que ladeados pelos Hives e pelos Gogol Bordello. No Sábado, Lou Reed competiu directamente com Leonard Cohen. E ainda faltam os Delta Tejo, Sudoeste e Paredes de Coura. Fala-se tanto na crise económica e social e na carestia de vida e nunca tivemos um overdose de música pop-rock como este ano, com dezenas de milhares de pessoas a acorrer em massa a inúmeros festivais. É um daqueles paradoxos em que Portugal é fértil. E nem sequer vai haver Vilar de Mouros. Mas os menos remediados sempre podem ir assistir ao Carviçais rock, perto de Moncorvo; escusam de gastar tanto dinheiro e sempre animam o deprimido interior transmontano, que merece todos os pretextos do mundo para o visitarem. Não esquecer que o Sabor, ali ao lado, não ficará intacto muito mais tempo.
Resolvida a questão

Aproveitando a breve referência ao festival Marés Vivas, que se realizou entre o Cabedelo e a Afurada, na margem Sul, trazendo artistas em hibernação (Sisters of Mercy) ou que precisam mais de pagar a renda da casa (James, Peter Murphy), penso que está encontrada a resposta à pergunta "é possível organizar um festival no Porto"? Sim, claro que é. Já no "queimódromo" do Parque da Cidade decorreu uma parte (a pior, com todo o respeito pela carreira dos emblemáticos ZZ TOP) do SBSR, num local desconfortável mas que já por si se presta a isso. E haverá certamente quem se lembre do Imperial ao Vivo, que em dois dias trouxe ao parque da Alfândega do Porto nomes como Beck, Smashing Pumpkins ou Charlatans; ou então os Pulp e o Nick Cave, nos antigos campos de treino das Antas. Mas se esses dois locais não são grande coisa, este ano da Graça de 2008 provou-nos que há espaço, tempo e público para mais eventos deste tipo. As dúvidas estão desfeitas e não há mais desculpas para não trazer mais coisas dessas ao Porto.
Desabafo contra Gaia
Há terras belíssimas em Portugal. E outras com as quais jamais nos reconciliaremos. Um desses casos é Gaia. A "outra banda" do Douro, enorme porção de terra entre o rio, Espinho e as Terras de Santa Maria, é um concelho que contém zonas urbanas, suburbanas, rurais e litorais, por vezes misturadas entre si. É uma cidade caótica rodeada de uma infinidade de freguesias e terrinhas que por vezes não se sabe onde acabam e onde começam. Para quem vem de fora, é o caos.
Vista da zona ribeirinha do Porto, Gaia tem aquela marginal recuperada, as célebres caves do vinho, e depois eleva-se a um patamar onde se vêem os viadutos do comboio e por fim imensas torres de betão, estragando o conjunto todo. A antipatia começa aí. Porém, se se viaja pelo concelho (já nem digo na comprida Avenida da República, que cruza a cidade alta), perde-se a paciência em menos de um ai. Há dias, vindo de um jantar na praia de Salgueiros - a tal zona litoral, em que a marginal do lado do mar está exemplarmente recuperada mas cujos edifícios do outra lado deixam muito a desejar - tentei voltar ao Porto pela ponte da Arrábida, tomando de novo o nó do Fojo. Pela Afurada estava fora de hipótese, por causa da confusão provocada pelo festival Marés Vivas, para mais em noite dos Prodigy e da sua rave industrial. Voltar mais por dentro revelou-se uma passeata desastrada, que só começou a acabar quando dei a volta na rotunda de Santo Ovídeo, uns quantos quilómetros a sul de onde queria entrar. É que para além das milhares de ruelas mal iluminadas das dezenas de terrinhas em que os nós das autoestradas foram construídas por cima de hortas e cruzam com vielas, a sinalização é de desesperar: não faltam placas a indicar as saídas para Lisboa e Aveiro, mas para o Porto é quase impossível. Tentativa patética de rivalidade ou o responsável pelas indicações acha que ainda (já?) é tudo o mesmo concelho? De qualquer forma, o passeio obrigatória até, aliviado, cruzar a Ponte, serviu para me enervar e para me indispor ainda mais com aquele concelho de além-Douro. E nem passei pela tenebrosa Vila d´Este, pelas Devesas ou por outros horrores mais camuflados.
Reconciliar-me com Gaia? Uma hipótese remota. Fusão municipal com o Porto? Apre, que a capital de distrito merece melhor sorte do que colar-se a subúrbios. Definitivamente, não.

sexta-feira, julho 18, 2008

Carlos Queiroz



A vinda de Queiroz para a Selecção Nacional deve deixar apreensivo quem quer que tenha um pouco de memória. Por qualquer razão, é considerado um "grande treinador", um autêntico génio, mas os resultados estão longe de ser satisfatórios.

Recordemos sucintamente a sua carreira: treinador dos Sub-20, com os quais ganhou dos títulos mundiais; seleccionador nacional, sem ir a qualquer prova; treinador do Sporting, ganhando uma Taça de Portugal; passagens por clubes japoneses, americanos, árabes, pela Selecção da África do Sul, pelo Real Madrid e como adjunto de Alex Fergusson no Manchester United. Nestes últimos vinte anos, ganhou os tais títulos com os sub-20, uma Taça de Portugal e levou a África do Sul a um Mundial. Apenas isso. No Sporting, onde esteve dois anos depois de substituir Bobby Robson, treinou jogadores como Figo, Paulo Sousa, Balakov ou Pedro Barbosa, e teve alguns resultados decepcionantes, como a famosa derrota por 6-3 frente ao Benfica de João Pinto. No Real Madrid acabou a época em 4º, apesar de ter à sua disposição algumas das maiores estrelas mundiais. É estranho como um técnico com tão pouco para mostrar é tão badalado.

Parece-me que Queiroz é um bom teórico, um razoável estratega, com bons conhecimentos futebolísticos, mas que falha na transmissão das suas ideias e na galvanização dos seus jogadores. Sem estas características não se ganham jogos. Aparentemente, os júniores compreendem-no melhor que os seniores, o que demonstrará que o crescimento de um jogador nem sempre é directamente proporcional ao da sua sua cultura táctica. Mas as diferenças podem ser vistas se comparado com antecessores como o citado Robson, ou Vicente del Bosque. Entre os professores da sua matéria, Queiroz é um investigador que se sente bem entre tácticas e cálculos matemáticos do que no meio da refrega campal. Fergusson teve dificuldade em dispensá-lo por isso, e talvez pelo seu ar calmo, fleumático e compenetrado. é talvez o melhor adjunto do Mundo, mas como homem do leme deixa muitíssimo a desejar.

É por isso que espero estar enganado quando penso que os tempos do "Sargentão" Scolari vão ser recordados com muita saudade.

quinta-feira, julho 17, 2008

Lisboa - Telheiras

Pelo tempo que tenho passado na capital desde há mais de um ano, e pelas imensas curiosidades que esta cidade desperta, começarei apartir de agora a deixar pequenos posts sobre Lisboa.



Para começar, a imagem de marca da curta-metragem Rapace, de João Nicolau. As duas personagens que aí se vêem estão num café/snack, no meio de uma fiada de estabelecimentos da mesma natureza que se encontram na mesma rua (tal como um friso de bancos, também prsentes no filme). O dito café ostentou durante algum tempo, na sua montra, esta mesma fotografia, à laia de publicidade. Coloquei-a por se passar na Rua Prof. João Barreira, em Telheiras, um dos bairros mais recentes de Lisboa, na sua grande maioria constituído por prédios, e onde já passei algumas temporadas.

domingo, julho 13, 2008

A toxicodependência idolatrada

É fácil criticar e até ser moralista quando se fala de Amy Winehouse, como disse um jornalista do Público. Concedo. Mas também não é difícil ouvir-se as suas músicas a toda a hora, ler-se coisas sobre os seus desvarios, as suas detenções, os problemas conjugais, os concertos falhados, etc. que acabam por fatalmente criar uma opinião no público, que ora a desculpa, ora a condena, ou então limita-se a dizer que "esse mundo é mesmo assim".

Ora acontece que eu simpatizo pouco com Winehouse, as suas birras e a sua popularidade. Lembro-me dela no início da sua carreira (que em casos normais faria com que a apreciasse, naquele sentimento tão comum e possessivo do "eu conheci-a muito antes"), quando a vi num videoclip, ainda sem os vestidos curtos e o cabelo comprido e enrolado que a caracterizam hoje. Era num qualquer café, à noite, e comentei com um amigo que achava a voz poderosa, mas que a total falta de graciosidade da rapariga não lhe dariam notoriedade no futuro. Enganei-me redondamente, como está à vista. Mas se Amy é hoje muito conhecida, deve-se bem mais aos seus problemas pessoais do que à sua voz ou aos temas que canta. Não há semana que não passe que não se ouça falar da prisão do marido, de um espectáculo falhado ou de uma tentativa de reabilitação gorada, de tal forma que o seu maior êxito, Rehab, trata mesmo da recusa de se tratar. No recente Rock in Rio de Lisboa, voltou a fazer uma figura deprimente (quase não se aguentava em palco), perante 90 mil pessoas e em directo para rádios e televisão. Nos habituais comentários bloguísticos, houve quem condenasse tais atitudes e houve também que a defendesse, até com um comovente "ela mostrou que era tão humana como qualquer pessoa". A mim parece-me o contrário: quantos indivíduos se podem dar ao luxo de aparecer sob o efeito de álcool e estupefacientes no trabalho, reiteradamente, não cumprindo as suas tarefas com um mínimo de competência? Dir-se-á que com os artistas é diferente, que a criatividade tem os seus custos, que desde que cumpram não tem importância, que aquele mundo é mesmo assim. Poderá ser, e até não fará mal ao mundo se cumprirem em palco, mas acontece que de Amy mal se percebiam certas palavras, e que as pessoas que enchiam o recinto tinham dado uns preciosas 53 €uros sobretudo para a ouvir.

Depois, claro, além de toda a condescendência com os vícios dos artistas apenas por o serem, há as habituais desculpas para quem se droga, talvez porque o vício surja em momentos de particular debilidade emocional ou psicológica. Mas neste caso exagera-se. A droga é mais claramente tolerada do que o álcool e do que o fumo (de tabaco, evidentemente). Aquelas incríveis noções de um qualquer site que para aí havia, em que um betinho era alguém "desprezível" que não tomava drogas são elucidativas. Segundo algumas correntes, um tipo que se droga ou é um herói, caso se trate de uma figura pública, mormente do espectáculo, ou um coitadinho sem culpa nenhuma, mesmo que ninguém o tenha obrigado a ir por aí. Daí que muitas vezes um bêbado (e nos tempos mais recentes um simples fumador) seja visto com mais desprezo que um frequentador de um CAT. E que um música famoso tenha logo desculpas por ser "humano".


A um músico não se pede para ser desumano, pese toda a idolatria e endeusamento que deles se apropriam, e que por vezes são responsáveis por essas situações: pede-se que caso tenha público e deseje mantê-lo, o respeite e deixe as figuras deprimentes para os momentos de ócio. Que as pessoas dêem por bem gasto o dinheiro dos espectáculos e não recorram à pateada. E que não venham fazer-se de vítimas para a comunicação social. As pessoas comuns não têm jornais para as defender dos seus problemas do quotidiano, nem margem para se pedrar à vontade.

Eis porque aguento muito pouco Amy Winehouse. Para mais, continua com aquele rosto canino que tinha desde a primeira vez que a vi.

Mas já agora aproveito para falar de um amigo seu por quem tenho igual "estima": Peter Doherty. Um tipo que consegue ser ainda mais drogado, que acabou com a sua anterior e mui promissora banda, os Libertines, e que é mundialmente conhecido por ter namorado com Kate Moss e por andar sempre aos tombos. De tal forma que quando veio recentemente a Lisboa com a sua nova banda, os Babyshambles, para um concerto no Lux, a piada que circulava era "onde estáDoherty? Em Monsanto". As dependências tiraram-lhe o ar vivaço que já teve e tranformaram-no no que é hoje: um alucinado com cor de vampiro antes da refeição sanguínea, roupa e chapéu retirados do Madame Toussaud e aspecto geral cadavérico é o grande herói do rock dos nossos tempos. Havia tantos por onde escolher e tinha de ser logo um zombie destruidor de bons grupos musicais.

sexta-feira, julho 11, 2008

Anúncios parvos com efeitos contraproducentes
Há anúncios publicitários geniais e há outros que pela sua estupidez e infantilidade fazem com que o potencial cliente fuja a sete pés da marca. Estou a pensar em concreto numa coisa da TMN, com três tipos de turbante a andar numa praia, e em que um deles desata numa cantilena irritante e quase incompreensível, onde se apercebe "saldo" e pouco mais. As questões que se colocam são: quem é que criou tal coisa? Será que acham que atraem mais clientes com aquilo? Os actores estarão assim tão desesperados para fazer aquelas figuras, em especial o que canta? E sobretudo: não dá vontade de dar um tiro de bacamarte à televisão?

terça-feira, julho 08, 2008

Bela Crkva e os traços do Império


Recordando mais um texto de há uns tempos atrás do sempre indispensável Herdeiro de Aécio, sobre cidades prussianas que se tornaram polacas, alterando dessa forma o seu nome (o exemplo dado é o de Sttetin/Szczenin) e forçando as suas populações a emigração maciça, lembrei-me também dos casos, geograficamente mais a sul, das cidades do Império Austro-Húngaro. Essas não mudaram necessariamente de nome: algumas são conhecidas consoante a nacionalidade dos que se lhes referem. Noutros casos, porém, algumas designações perderam uso.
Na babel de etnias e de línguas que era o Império, todas as localidades tinham um nome germânico, ao qual se lhes acrescentava, caso ficassem fora de zona onde se falava alemão, o nome do idioma do território onde se situavam. O melhor exemplo disso vem no livro Danúbio, do italiano Claudio Magris, que acompanha o curso do grande rio e que é talvez a obra que melhor explica o espírito da Mitteleuropa, principalmente na passagem onde descreve os vários nomes de uma cidadezinha do Banato (região entre a sérvia, a Hungria e a Roménia), Bela Crkva.
O ponto de partida das nossas incursões é Bela Crkva (Igreja Branca), (...). O velho horário ferroviário geral do Império Habsburgo, em 1914, assinalava-a como Fehertemplom, segundo o critério de aplicação da designação predominante do lugar; a cidade, hoje jugoslava, fazia parte do Reino da Hungria. Agora os letreiros oficiais trilingues referem Bela Crkva, Fehertemplom, Biserica Alba - ou seja, os nomes sérvio, húngaro e romeno; o nome alemão, Weisskirchen, quase desapareceu.
Neste caso, tratando-se de uma cidade com um nome traduzível, qualquer língua o poderia fazer. Mas o mesmo se passa noutros sítios. A capital do Banato, por exemplo, é a cidade romena de Timisoara. Como denominações alternativas tem ainda Temešvár (em checo e eslovaco), Temeschburg (alemão), Temesvár (húngaro), ou Temišvar (sérvio-croata). Repare-se que além dos nomes alemães, os territórios sob soberania da coroa da Hungria tinham também o seu nome na "língua do Diabo", além do local. Bela Crkva é um exemplo quase extremo, por se situar no Voivodina - antes no Império, em território húngaro, hoje região da Sérvia - muito perto da fronteira com a Roménia e das Portas de Ferro, enorme garganta onde o Danúbio divide os dois países.
Mas designações desse tipo há várias. Encontram-se sobretudo nas fronteiras de estados da Europa Central ou de Leste (embora também seja comum na Croácia, por acaso antigo domínio húngaro, haver cidades que por vezes apresentem os antigos nomes italianos, sinal da presença veneziana), como Danúbio no-lo demonstra. Embora algumas tenham caído em desuso, são por vezes das poucas, senão mesmo o único traço, do domínio dos Habsburgos numa Europa hoje mais dividida, por ser tão multiétnica e multilingue.
Aqui podem encontrar-se inúmeros exemplos de cidades com nomes diversos.
A ironia e a subserviência

Tenho de dar razão ao Benfica na exposição que fez à UEFA em dizer que o Conselho de Justiça não tinha credibilidade", disse ainda o líder dos dragões com a sua habitual e refinada ironia.

É bem a primeira vez que vejo Pinto da Costa a dar razão ao Benfica. Já a tão propalada "ironia", que tanto pode ser "fina" como "refinada" ou "mordaz", não há jornal, canal de TV, estação de rádio ou boletim de paróquia que se apresse a colá-la sempre que o presidente do FCP abre a boca. Até podiam fazer copy-pastes para essas ocasiões. E ainda dizem que o Benfica é que domina a comunicação social.

sexta-feira, julho 04, 2008

Os dominadores de Viena


Ainda sobre o Euro e a sua final, lembrei-me de um pormenor curioso: a cidade que acolheu o jogo já esteve nas mãos dos dois adversários da noite, a Espanha e a Alemanha. No primeiro caso, não se pode dizer que formalmente pertencia a Castela. Mas na altura em que Carlos V acumulou, graças a felizes coincidências hereditárias, os títulos de meia Europa, entre os quais os de Rei de Espanha e Imperador do Sacro Império, Viena estava sob o seu poder, embora os turcos a tenham tentado tomar em 1529. Não era ainda a capital imperial, mas preparava-se para o ser pouco tempo depois, durante quase quatrocentos anos, até ao colapso do Império. Com a morte de Carlos V, dividiram-se as coroas dos dois territórios entre dois Habsburgos: a Espanha para o seu filho Filipe II (ou I, para nós), o império para o seu irmão Maximiliano. Não mais Viena ficaria ligada a Espanha, excepto em dois momentos: um durante a Guerra da Sucessão de Espanha, em que o Arquiduque de Áustria foi declarado Rei depois da tomada de Madrid pelas forças chefiadas pelo Marquês das Minas; e outra no período napoleónico, quando o Rei de Espanha era um Bonaparte, e não um Bourbon ou um Habsburgo, e o Sacro Império se transformava sob o mando de Napoleão. Como se sabe, praticamente toda a Europa continental estava debaixo do mesmo tricórnio.
Já para descobrir a dominação da capital da valsa pelos alemães não precisamos de recuar tanto. A história é bem conhecida: o tristemente célebre Anschluss chegou depois do assassinato do ditador local, Engelbert Dolfuss (correspondente austríaco de Salazar) pelos nazis. Seguiu-se um breve governo pró-alemão embora contra a fusão dos dois países, a invasão da Áustria pela Alemanha e um plebiscito para confirmar a anexação. Depois de séculos de domínio austríaco sobre os inúmeros estados alemães, seriam estes a determinar o futuro da Europa Central. E muitos austríacos concordavam com a perda da sua independência, sonhando com o Terceiro Reich, um novo Sacro Império, pouco romano e totalmente germânico. Só em 1945 Viena seria resgatada dos alemães e dividida em várias zonas pelas forças aliadas, tal como em Berlim.

Domingo, a monumental, elegante e orgulhosa capital da pacata Áustria, enquadrada pela Catedral de Santo Estêvão e pela Karlskirshe, acolheu duas antigas potências que a dominaram. Duvido que haja muitos que se tenham lembrado do sistema político de Carlos V. Já do Anschluss, ainda está demasiado próximo para ser esquecido. De qualquer forma, a Alemanha perdeu. Mostra bem como os pesados Panzers não aguentaram a carga dos rápidos Tercios. Mas se tivesse ganho, os austríacos não teriam razões para se preocupação desse lado (ao contrário dos amantes do futebol).



(De relembrar que por pouco os turcos não chegaram à final. Mas esses nunca chegaram a dominar a cidade, ainda que também por uma unha negra, em 1529 e 1683)

quinta-feira, julho 03, 2008

Enfim livre

Seis anos de cativeiro é muito tempo, mesmo para uma mulher de armas como Ingrid Betancourt. Mas é igualmente reconfortante ver como grupos paramilitares de traficantes de droga transvestidos de "movimentos ideológicos" estão verdadeiramente debilitados.

terça-feira, julho 01, 2008

Impressões da final
Ao olhar para os espanhóis comemorando a merecidíssima vitória, embora escassa para o "carrossel" que mostraram, e depois para os alemães cabisbaixos, veio-me de repente a seguinte dúvida: como será mudar-se na adolescência do Rio de Janeiro para Estugarda?