quinta-feira, março 27, 2008

O perseguido
Muito bom, o artigo que Rui Tavares escreveu ontem no Público. Desmonta peça por peça o choradinho que Pacheco Pereira decidiu fazer a propósito dos cinco anos desse rotundo fracasso mais conhecido como "guerra do Iraque", a mesma que o Presidente americano deu como terminada em Abril de 2003. Parece que aqueles que defenderam a necessidade da guerra nessa altura (e se mantêm na sua) estão a ser "perseguidos", e que é "proibido" tomar essa opinião nos dias que correm. Para além disso, diz que as razões não foram o argumento das armas de destruição maciça nem o de Sadam apoiar a Al-Qaeda, o que é absolutamente falso e só pode enganar quem estiver distraído.
Tratando-se de Pacheco Pereira, não sei se as palavras dele devam causar mais indignação ou dó. Uma pessoa com inegável independência de pensamento e capacidades intelectuais como o colunista do Público devia conservar um pouco de pudor ao afirmar tais coisas. A mim a memória não me falha, e lembro-me perfeitamente que em 2002/03, quando alguém se opunha ou colocava reservas a uma intervenção no Iraque, era não raras vezes apelidado, por vozes furiosas, de "anti-americano", "pró-terrorista", "cobarde", etc., conotado com a extrema-esquerda ou a direita cavernícola ou comparado com os pacifistas e apaziguadores "herdeiros de Chamberlain". Não era preciso deixar a discussão aquecer muito: qualquer dúvida dava logo origem a estes vitupérios.
É pena que Pacheco Pereira se esqueça disto. Infelizmente, está mais preocupado com a sua auto-vitimização ou com a "censura" de que é objecto (esta então é de morte!) do que com as razões daqueles que se opunham a tal intervenção, ou com o que se veio a revelar um gigantesco e vergonhoso logro. Prefere atirar as culpas para cima de quem avisava do que dos que erraram em toda a linha. Infelizmente, é um pecado antigo de que dificilmente se livrará. Ainda em tempos de Cavaco Silva destacou-se por ser um dos primeiros a usar a expressão "politicamente correcto" com que apelidava a comunicação social, que, segundo ele, atacava sem dó nem piedade o governo do PSD e tratava o PS nas palminhas (e que como não podia deixar de ser, era toda). A mesma estratégia, a mesma vaidade intelectual (para não falar de desonestidade), o mesmo erro. Só que as pessoas já se vão habituando e cansando. Já não caiem nesta vitimização tola e sem sentido, que tem como consequência voltar-se contra o próprio Pacheco Pereira e desacreditá-lo. Uma pena. E um desperdício.

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