quinta-feira, fevereiro 28, 2008

A estratégia do populismo
A ideia de Luís Filipe Menezes, de retirar a publicidade da RTP, está na ordem do dia. Apesar da oposição gerada à proposta, até de figuras como Nuno morais Sarmento, nem todos a olharão com muito maus olhos. Ainda hoje ouvi, vinda de dentro de uma tasca, uma conversa em que um homem exclamava com autoridade que "é só intervalos de dez minutos", e que achava muito bem que se retirassem os anúncios da TV pública. O outro concordava, com alguma hesitação. Isto significa que a ideia de Menezes, apesar de tudo, passa entre a população nas conversas de taverna, e ao que parece com aprovação. A estratégia produziu efeitos. Não é mesmo esse o objectivo dos populistas?

terça-feira, fevereiro 26, 2008

E eles a rir-se que nem uns perdidos

Depois de horas de pânico (Reds, reds!), fúria e repúdio, começa-se a perceber que a tomada de poder de O Insurgente "okupado"por malvados hackers a mando de Fidel não é mais do que auto-gozo dos próprios. Tive uma vaga suspeita disso quando me lembrei do Anacleto, aliás alimentado por alguns insurgentes. Além de que links com nome "5 Câncios" só pode ser tomado como uma brincadeira.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Óscares, ano 80
Mais uma edição de Óscares, depois da ameaça da greve dos argumentistas. A resolução tardia do diferendo não impediu que Jon Stewart estivesse em forma. com prejuízo do sono, aguentei-me até saber quem era o melhor actor, coisa que nem oferecia grandes dúvidas. Espantei-me com Óscar de melhor actriz da jovem, doce e pouco conhecida Marillon Cotillard, em lugar de julie Christie, mas é sabido que Hollywood se péla por biopics e por maluqinhos, e a icónica e trágica carreira de Piaf merecia a estatueta. aliás, deve ter sido a sessão entre as oitenta que já houve em que mais franceses foram premiados. A política de reconciliação com os EUA de Sarkozy já produz resultados.

Daniel Day-Lewis, pelo que ouço dizer, teve uma das melhores interpretações dos últimos anos, como aliás já nos habituou sempre que resolve voltar para as telas. entre a modéstia e a emoção, ficam na memória o beijo facial a Clooney e a genuflexão perante Helen Mirren, o que não admira, já que o actor um súbdito da Rainha. Também o Óscar ao descontraído Bardem não teve piada, tamanha era a antecipação. Já o triunfo de Tilda Swinton espantou; esperava tudo que a estatueta caísse nas mãos do Bob Dylan de Cate Blanchett; mas a divina australiana, nomeada para dois troféus, mostrou-se com divertido à vontade, consciente de que voltará a ganhar outra estatueta dourada (com o ritmo dos últimos anos, o mais provável é que qualquer dia esteja a competir com Merryl Streep em nomeações).

Tive certa pena que Persepolis não ganhasse o prémio de filme de animação, uma categoria que tem crescido em qualidade e visibilidade, mas de facto Ratatouille era demasiado forte para perder. De realçar vários filmes "menores" que ganharam vários Óscares (também "menores"), deixando Expiação, por exemplo, quase a nadar em seco.

Os Coen ganharam em filme e realização, como se previa. No Country for Old Men só existe entre nós em livro. Aposto que quando se estrear, daqui a dias, não lhe vai faltar público. Na mouche, senhores distribuidores nacionais. Quanto à dupla de grandes vencedores, é, se tirarmos Fargo, o coroar de uma carreira já longa, não isenta de tropeções, mas talentosa, segura, e com grandes momentos que certamente merecerão várias páginas na história do cinema

domingo, fevereiro 24, 2008

Enfim os No Smoking Orchestra ao vivo


Outro que certamente não apreciou a secessão do Kosovo e o seu reconhecimento pelo bloco ocidental é Emir Kusturica. Há umas semanas tive oportunidade de o ver ao vivo, no meio dos seus No Smoking Orchestra, depois de algumas tentativas falhadas em que não vieram ao Porto. Quando se decidiram a vir às duas principais cidades, eu estava por Lisboa nesse fim de semana e comprei bilhete para o Coliseu dos Recreios.
Quem conhece a obra cinematográfica do realizador sérvio mas não conhece a banda (que já tem uns largos anos de carreira) poderá saber sempre ao que vai se se lembrar das bandas sonoras de Underground, Gato Preto, Gato Branco e A Vida é um Milagre. Ou ainda do mais antigo Tempo dos Ciganos, que nunca vi e sobre o qual assentava esta tournée. O estilo é o popular "gipsie punk", e tem alguns seguidores, como os ainda mais frenéticos Gogol Bordello, cujo líder, Eugene Hutz, poderá ser visto em breve protagonizando a primeira incursão de Madonna na realização. Os elementos da banda são inúmeros e tocam tanto guitarra, baixo e bateria como violino, harmónica e saxofone. Uma salada balcânica simultaneamente ruidosa e melodiosa.
Os No Smoking Orchestra faziam parte da lista de grupos musicais que queria realmente ver in loco. Além dos filmes, o meu conhecimento da sua obra vinha de um disco ao vivo (há também o DVD) de um concerto que deram há uns anos em Buenos Aires. O que vi não andou nada longe do que já suspeitava.

Cheguei ao Coliseu com receio de que o concerto estivesse no início, mas ainda demorou uns minutos; já sabia que o Benfica estava a ganhar em Guimarães (um jogo decisivo), e queria tirar a limpo se todos os espectáculos da banda começavam da mesma forma. Pude confirmá-lo ao ouvir os acordes do hino russo, com o qual os artistas entraram em cena.
É certo que Kusturika, com a sua guitarra, é o principal chamariz, mas a verdade é que meio espectáculo fica por conta do incansável vocalista Nele Karajlić, que se exibiu com um fato e uma camisola desportiva por baixo (do Partizan?) e que não parou de chamar pelo público, de se passear entre o palco e a plateia ou de pôr todo o recinto com gritos de apoio ao Partizan, e creio que ao Kosovo sérvio também.
O carrossel balcânico rolou com profissionalismo e alegria, embora me pareça que tivesse faltado uma pitada a mais para ser um concerto memorável. Senti que carecia daquele espírito anárquico que se encontra na obra de Kusturica. Afinal, era o tour de Tempo dos Ciganos. Uns actos de loucura, mais do público que dos músicos, eram bem vindos. Só que os peninsulares presentes (fora alguns germânicos) eram ibéricos, não da montanhosa região a sul dos Habsburgos.
Mas nem por isso o concerto desmereceu grandes elogios. Houve alguns episódios memoráveis, como certos gritos de incitamento do vocalista imitados pelos ouvientes, a apresentação individual dos músicos (chamou-se de tudo ao realizador sérvio, de Von Karajan a David Bowie), e dois músicos tocando violino pegando cada um na vara com a boca, com as cordas por cima - Kusturica conseguiu o mesmo com a sua guitarra eléctrica. Não faltaram as míticas Bubamara, Unza Unza Time, Pitbull Terrier e Wanted Man, embora tenha sentido a ausência da frenética Vasja

O que eu não sabia é que o concerto acabava com o mesmo hino russo, depois da saída dos músicos. Houve até um grupinho que acompanhou a majestosa sinfonia de punho no ar e pose inspirada, não sei se por brincadeira ou convicção. Mas mesmo sem a anarquia do concerto de Buenos Aires, não dei por perdido o tempo e pude riscar mais um dos "concertos-que-tenho-de ver-até ao-fim-da-vida" da lista (além de que o Benfica ganhou à mesma hora por3-1). E até quem sabe, voltar a avistá-los num qualquer regresso, ou noutra ocasião em que se proporcione nova espiadela aos No Smoking Orchestra, que, está visto, dão-se bem em terreno de palco ou a coberto das imagens dos filmes do seu guitarrista. Pena mesmo é que tenham perdido o Kosovo. Que tal um novo tour para colher apoios para a causa?

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Depois do Je Mantiendrai, é o Blog da Rua Nove que encerra serviços. Definitivamente a blogoesfera portuguesa está esteticamente muito mais pobre.
O início da Grande Albânia

Pronto, os albaneses que ocupam aquela escalavrada terra que dá pelo nome de Kosovo sempre declararam unilateralmente a independência. A coisa já se previa há pelo menos um ano, mas só agora se concretizou. Claro que os EUA e as grandes potências europeias se apressaram a reconhecê-lo como estado independente, coisa que não era senão o seu objectivo primeiro. A Grande Albânia, sonho dos ilírios, de maioria muçulmana materializa-se, deixando de rastos o sonho da Grande Sérvia. O Kosovo, que só existiu na antiguidade com o esquecido nome de Dardania, e com características completamente diferentes, nasce assim como estado artificial de povo albanês em solo ex-sérvio, porque o bloco ocidental assim o quis, governado pelo ex-comandante do UÇK, uma milícia terrorista como ligações a grupos radicias islâmicos.

Mas a Rússia não está com meias medidas e tudo fará para embargar de iure o reconhecimento onusiano de semelhante estado. E faz outras retaliações, mostrando mais uma vez que está ao lado da Sérvia e reassumindo em pleno a liderança do bloco ortodoxo da Europa Oriental. A Grécia, Roménia e Chipre também não estão pelos ajustes, e só a Bulgária, estranhamente, é que dá o dito por não dito, ora contra o novo estado, ora a favor. Os tempos mais próximos prometem. Os sérvios não aguentarão novas humilhações. Desconfio bem que a paz podre que reina nos Balcãs não durará muito mais tempo.


Como complemento, este comprido texto do Estado Sentido, que com factos históricos e algumas revelações mostra bem como a vontade de certas de cúpulas pode invabilizar a harmonia internacional.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Estação do Rossio

É realmente bonita, a correspondente à estação de S. Bento em Lisboa. Aquele neo-manuelino paredes meias com o Rossio lembra gestas heróicas, períodos conturbados (o assassinato de Sidónio, por exemplo) e chegadas triunfais de personalidades ilustres, via sud-express, por vezes a caminho do Estoril.

Será que é verdade a história de que comunica com o vizinho Hotel Avenida Palace?

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Gratas recordações

Daqui a pouco encontramos um velho conhecido. Mais precisamente dos anos sessenta, ou da época 61-62, em que o Benfica se sagrou bi-campeão europeu. O adversário das meias finais era então o FC Nuremberga, que depois de nos ter ganho por 3-1, levou meia dúzia secos para casa, na Luz. Eusébio já não pisa o relvado, mas contra os gigantes Kholer e Charisteas de má memória temos as torres Cardozo e Makukula, prontos a obter um resultado digno. não têm de ser seis, metade chega perfeitamente.
Coincidências?
Estes dois posts e a entrevista que acompanha o segundo recordam-me estas linhas que aqui escrevi há uns meses. Como não sou nenhum profeta nem nenhuma mente iluminada, estou em crer que não é por acaso e que muitos pensam o mesmo. Tenha-se a posição política que se tiver, é sempre bom clarificar qual o grupo ou a ideologia que as forças partidárias sustentam. Coisa que há mais de 30 anos o PSD, essa União Nacional democrática, não faz.

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Expiação

As críticas ao filme Expiação não foram inversamente proporcionais às do livro que o inspirou, de Ian McEwan (que me dizem ser uma obra prima), mas pouco faltou. De "filme inglês de qualidade" do ano, como se pode ver pelas nomeações para os Globos de Ouro, Bafta e Óscares, até ser considerado uma desilusão, um instrumento sem fôlego ou até "intragável", segundo Pedro Mexia. Tive algum desapontamento, é certo, pelas altas expectativas que tinha, mas dou-lhe pelo menos três estrelas. As interpretações são mais que satisfatórias, a narrativa term alguns momentos mortos dispensáveis, mas também outros em que flui livremente, o efeito surpresa está lá, os cenários são dignos de época e as cenas de Dunkerque são uma excelente recriação do espírito reinante da retirada falhada e do desespero dos soldados encurralados. Mas o que vale mesmo o bilhete é a imagem - e aqui concordo totalmente com Mexia - de Keira Knightley deslumbrante até mais não no seu vestido verde, que enche qualquer cena em que entre, e do seu ar entre o romântico e o poseur, aspirando o fumo do cigarro. Tudo isto no espaço fechado do cinema, que só por si daria causa para interdição total do filme por parte da ASAE.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

O desastre de Munique de 1958

Sem net durante alguns dias, não consegui alimentar" devidamente o blogue. Vamos se conseguimos recuperar o tempo perdido.
Ainda em tempo de efemérides, recordo o desastre de aviação do Manchester United em Munique, cujos 50 anos se relembraram agora. A 6 de Fevereiro de 1958, um avião que levantava voo do aeroporto de Munique, transportando a equipa do MU e alguns directores, jornalistas e adeptos despenhou-se ainda na pista, por causa do clima e de problemas técnicos (e atambém humanos, ao que parece). O avião vinha de Belgrado, onde os ingleses tinham empatado com o Estrela Vermelha a 3 golos, e fazia escala na capital da Baviera. Pereceram 8 jogadores do United e mais outros 12 tripulantes. entre os sobreviventes estavam o promissor Bobby Charlton e o técnico Matt Bubsy, por cuja vida se temeu durante alguns dias.

A tragédia podia ter acabado com a carreira ascendente do United, mas Bubsy conseguiu reunir os jogadores que lhe restavam, e a partir daquela o United trepou pela Inglaterra e por essa europa acima até conquistar a Taça dos Campeões europeus, ao Benfica, em 1968, com uma táctica que esgotou Eusébio e o Glorioso.

Viu-se um pouco dessa tenacidade quenado voltaram a ser campeões europeus em 1999, perante o Bayern. Mas aí só tiveram de recuperar de um golo de desvantagem. Em 58, a morte dos companheiros e o choque pelo desastre era um trauma dificílimo de ultrapassar. De certa forma, como se pôde ver numa recente entrevista a Bobby Charlton sobre o acontecimento, nunca deixará de pesar sempre na memória daqueles sobreviventes, nem no imaginário dos adeptos do MUnited, de tal forma que Morrissey até compôs uma música recordando a tragédia. Mas conseguiram levantar-se e ir mais além, mesmo que esse dia de Fevereiro de 1958 os tenha sempre acompanhado.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Padre António Vieira



Há quatrocentos anos nascia o "Imperador da Língua Portuguesa"

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

O adeus do Je Mantiendrai e a recordação de Thesiger

O Je Mantiendrai fechou as portas. O distinto blogue, que se apresentava com a divisa neerlandesa, vai pregar noutra freguesia. Achava-lhe uma certa piada pela estética nobilesca e requintada, entre a aristocracia inglesa, a iconografia militar japonesa e demais preciosidades orientais, mais do que propriamente as ideias, demasiado pré-modernas para meu gosto.
O anónimo autor comunica-nos que irá para "terras mais distantes". Deixa-nos, como despedida, abundante prosa e imagens remetendo-nos para os aventureiros ingleses, que depois de cursarem em Eton e Oxford, e antes da reforma nos respectivos clubes, defenderam o Império Britânico onde o havia; para os exploradores do mundo ignoto; para os que não se limitaram aos livros mais trepidantes sobre o assunto, fazendo da sua carreira matéria para mais um, nos campos de batalha, nos mares, nas selvas, nas areias escaldantes. E a propósito do deserto, é pena que não tenha incluído algém um pouco arredado da memória nestas ocasiões, e que cumpriu esse desempenho de maneira exemplar: Sir Wilfred Thesiger.

E se não tívessemos aderido à CEE?

Não estivessemos na Europa integrados e pelas minhas contas já teríamos presenciado meia dúzia de pronunciamentos militares desde 1976, seguindo a velha tradição inaugurada por Saldanha em meados do século XIX.

Este pensamento do Combustões, mostrando algumas das virtudes da UE e do seu modelo de delegação de poderes, merecia ser mais explorado, como uma espécie de "wath if" caso não tívessemos assinado nada nem em 1986 nem daí em diante. A ideia não é contudo nova: Mário Soares confidenciou certo dia que se isso não tivesse acontecido, teríamos mergulhado numa guerra civil. Vai nova antologia de contos no seguimento deste?

domingo, fevereiro 03, 2008

Homenagem digna
A homenagem decorreu de forma sentida e respeitosa. A presença dos Bragança, um breve discurso, a deposição de uma coroa de flores na esquina onde está a lápide do infeliz Rei e do seu filho. E sobretudo o silêncio, o profundo silêncio daquela pequena multidão, testemunho do profundo respeito e reverência que se fazia sentir, sob um céu cinzento, tal como há cem anos, segundo as crónicas. Um silêncio só cortado pelas palmas e pelos gritos de "viva a monarquia" que se ouviram, e que encerraram a cerimónia. Mas que só surgiram no momento devido, ao contrário do que hoje acontece tantos em funerais e "momentos de silêncio".
Não pude ir depois a S. Vicente de Fora, mas pelo que ouvi correu com a solenidade e dignidade que se impunha.
Nota: um bando de anarquistas, de bandeiras negras e uma faixa com louvores aos regicidas, surgiram perto do fim, a meio da praça, e desapareceram tão rapidamente como tinham chegado. Deixaram uns papeluchos onde diziam estar "contra os monárquicos ou republicanos" quer "fossem fascistas e democratas", aos gritos de "viva a anarquia". Que diferença de atitude entre os que estiveram em silêncio na homenagem e os autênticos maltrapilhos equilibrando pinos para pedir "uma moedinha para o artista" e que glorificam o terrorismo.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Cem anos do atentado regicida





















Em memória D ´el-Rei D. Carlos I e de SAR D. Luís Filipe, Infante de Portugal, homens justos, preocupados com Portugal, vítimas da loucura e do radicalismo de alguns homens e dos seus ideais deformados.

Que o país nunca se esqueça e recorde sempre com pesar o que aconteceu naquela fatídica tarde de 1 de Fevereiro de 1908.

Que descansem em paz.