terça-feira, janeiro 08, 2008

Luís Pacheco 1925 - 2008




Só na segunda, com a leitura das capas dos jornais, é que soube que Luís Pacheco tinha morrido. Agora que andava a consultar o Diário Remendado. Não me admirei assim muito, dada a saúde precária do escritor e os problemas que o atormentavam ultimamente. Ainda assim, a morte toca sempre. Em pouco mais de um ano, perdeu-se Cesariny e Pacheco.

Uma figura bigger than life, esta, que teve oito filhos, andou envolvido com menores, esteve preso e chocou a sociedade com a sua libertinagem. Esteve também ligado ao PCP, coisa que parece algo esquisita dada a disciplina férrea e sorumbática que este partido exige aos seus militantes. Podem ver várias confirmações disso mesmo numa entrevista que deu há menos de um ano. Mas a melhor é a que deu no Esplanar, realizada por João Pedro George, uma das pessoas que mais lutou pela recordação da sua obra (e pelo próprio escritor).

Mesmo que tragam sempre alguma abjecção por arrasto, os libertinos, e particularmente os autores libertinos, são terrivelmente necessários. A sua enorme liberdade chega a assustar, faz-nos imaginar uma sociedade desconchavada, sem rei nem roque. Parecido com Pacheco, nos últimos anos, lembro-me de João César Monteiro (e noutro plano, mais insistentamente provocante, de Vilhena e d´O Meu Pipi). Que também já desapareceu. Quem nos resta agora, dessa chocante mas libérrima minoria?

3 comentários:

Manuel da Mata disse...

V. merece um comentário, que o seu texto sobre Luiz Pacheco tem muita qualidade.
Não percebo o seu comentário num ponto, ou seja, na ligação do Luiz Pacheco com o PCP. Pelo PCP passaram e estão intelectuais e criadores de primeiríssimas águas: Óscar Lopes, Rogério Ribeiro, Saramago, Urbano T. Rodrigues e tantos tantos outros.E também Luiz Pacheco até à morte.
E porque será? Por necessidades económicas? Em busca de protagonismo? Para que a sociedade os reconheça?
V. sabe que estas escolhas fogem aqueles critérios estreitos de arregimentação das pessoas. Economicamente, todos eles podiam ser militantes do CDS_PP e não teriam necessidade da manjedoura do Orçamento de Estado.

João Pedro disse...

Caro Manuel da Mata, quando referi uma certa estranheza pelo facto de Luiz Pacheco ser militante do PCP, fi-lo, como refiro no texto, por me parecer um partido demasiado disciplinado e dogmático para o espírito do autor. Obviamente não posso negar a quantidade (e qualidade) de vultos de craveira intelectual que por lá passaram (acrescente-lhe igualmente Mário de Carvalho, um grande prosador), mas neste caso parece-me que o escritor primava mais por uma anarquia de espírito e de vida que não se coaduna com o PCP... nem com qualquer outro partido, aliás.

Cumprimentos e comente sempre

Manuel da Mata disse...

Caro João Pedro,

No fundo, Luiz Pacheco quis levar tudo ao extremo. Por isso mesmo, estamos hoje aqui a falar dele. Porém, por detrás da cena, há um homem que pensa e tem um fio condutor. Já reparou - reparou certamente -, que Pacheco é um pai galinha, que nunca larga os pintos?
Se ler as "Cartas na Mesa", encontrará um Pacheco displicente, mas sempre a pensar em cumprir. E que acaba por cumprir.
Pacheco foi ainda um grande e generoso editor.Ora um grande editor pressupõe um homem minimamente preparado e estruturado. Temos de deixar assentar a poeira e esquecer a imagem que ele permitiu, mas que também lhe construíram.
Conte com a minha presença por aqui.