quinta-feira, maio 18, 2006

Ainda mais para o interior

Depois de Moncorvo, segue-se uma zona de planalto, onde assentam povoações como Carviçais, célebre pelo seu festival de Verão e pela restaurante "O Artur", mesmo ao lado da estrada, especialista em posta Mirandesa. A extinta linha do sabor passa rente à estrada; as estações e apeadeiros, agora abandonados, mantêm-se no lugar, quais marcos de numeração. A de Freixo de Espada à Cinta, a 15 kilómetros da vila, lá continua. E é logo depois que em lugar de prosseguir para Lagoaça, se faz um desvio à direita. A estrada está em obras. Passa-se por montes cobertos de urze, vêem-se ao longe as arribas do Douro, de onde sobressai o Penedo Durão. Dizem que é um promontório notável sobre o rio e a região selvagem que o envolve. Mas antes disso surge Freixo, sobre uma colina.


Freixo de Espada à Cinta ( há variadas histórias sobre a origem do nome ), no extremo sul do distrito de Bragança - que é o mesmo que dizer no mais recôndito e desconhecido canto do país - é tida como a vila mais Manuelina de Portugal. Por razões de vária ordem, as casas com aspectos do dito estilo arquitectónico abundam nas ruas mais vetustas, sobretudo nas janelas. A Igreja é um sólido monumento manuelino, com um belo portal e painéis no interior de autoria do maior pintor português do Séc. XVI: Grão Vasco.


O campanário está um pouco acima, separado do templo, tal como acontece em muitas igrejas de Itália. Na realidade, a Torre do Galo, mais do que sineira, era uma das cinco que existia no antigo castelo, e a sua única componente que chegou intacta aos nossos dias. Elegante, de forma octogonal, é o verdadeiro ex libris da vila. A vista lá do alto é espantosa: divisa-se toda a povoação, os montes em redor; adivinha-se a garganta por onde passa o Douro, e, do outro lado, a província de Salamanca, em cuja universidade estudaram muitos freixenistas - ou freixenses, como diria o seu deputado de círculo, Conde d ´Abranhos.

Quem olhar para a parte inferior da foto de cima distinguirá uma estátua a meio da praça. Como é sabido, Trás-os-Montes é terra de navegadores, e Freixo não foge à regra. Trata-se de Jorge Álvares, comerciante, explorador, e primeiro português a chegar ao sul da China, em cujos braços morreu S. Francisco Xavier, no fim da sua peregrinação.
Mas o outros ilustres vultos da nação nasceram nesta região agreste. O mais conhecido de todos é sem dúvida Guerra Junqueiro, poeta e escritor, um dos Vencidos da Vida e da Geração de Setenta. Filho de abastados lavradores, nasceu na vila, realizou os estudos em Bragança e Coimbra, viveu no Porto e Lisboa, e regressou mais tarde às suas terras do Douro, antes de ser nomeado para cargos políticos de relevo. A ele se deve, apesar de republicano feroz, o facto da nossa bandeira nacional não ter ficado ainda pior do que é hoje, mais concretamente sem as quinas e com um barrete frígio.

Foto, algo torta, da casa onde nasceu Guerra Junqueiro.

O resto da vila é algo incaracterístico. Perto há a freguesia de Mazouco, onde se vê uma nítida pintura rupestre, o Cavalinho de Mazouco, já perto do rio. A melhor estrada, quase a única, que estabelece contacto com a sede do concelho, é a que regressa ao cruzamento para Lagoaça. Para cima, ainda são umas dezenas de Quilómetros pelo planalto mirandês. O melhor é mesmo regressar a Moncorvo e apanhar o IP-2, em direcção a Mirandela

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