segunda-feira, maio 29, 2006

Montenegro



Nunca cheguei a ir ao Montenegro. E contudo tive essa oportunidade, há alguns anos, quando se organizou em Budva a convenção bi-anual de uma associação de estudantes europeus de que fazia parte. Só que precisamente na mesma altura marcaram o meu último exame do meu curso, e optei por concluí-lo em lugar de me deslocar aos Adriático. Não mais tive ocasião de lá ir, fazendo o percurso que idealizara na altura: a rota Veneza-Budva, sempre por terra.

Há dias os montenegrinos escolheram em referendo a independência, por escassos 55,4% de votos, quando a percentagem mínima era de 55%. É pouco provável que não haja algum ranger de dentes e má vontade, com a quantidade de pessoas a viver no mesmo território que votou pela continuidade. Mas tratou-se de um acto pacífico, como pacíficas (e algo conformistas) foram as reacções do lado sérvio. Não se verificaram os mesmos horrores como quando a Croácia ou a Bósnia declararam a sua secessão, talvez porque o processo estava controlado, os sérvios não estão virados para guerras e têm mais afinidades com os montenegrinos, ou porque este território esteve à margem da violenta guerra dos anos noventa.

A decisão é soberana, e o Montenegro será a próxima nação independente da Europa. No fundo, é um retorno à realidade existente até 1918. Os montenegrinos têm, como disse atrás, fortes ligações aos sérvios, pela língua, pela religião - são ambos ortodoxos - e etnicamente. O que não quer dizer que sejam rigorosamente a mesma coisa, como o não são portugueses e galegos. A sua história está longe de ser comum. Enquanto os sérvios viveram totalmente subjugados pelo império Otomano, o Montenegro conseguiu sempre manter alguma autonomia, desde que em 1516 o Príncipe Jorge V retirou-se para Veneza e renunciou aos seus poderes de soberano a favor do Metropolita montenegrino. Os bispos escolhiam o seu sucessor na própria família (Petrovic), até ao Séc. XIX, altura em que se tornaram príncipes e puderam contrair matrimónio. Seguiu-se a total independência dos otomanos, juntamente com a Bulgária, em 1878, e a tranformação do principado em Reino, em 1910. Que não durou muito, já que depois da 1ª Guerra Mundial, num processo apressado e enviesado, o Montenegro, até aí um pequeno estado de pastores, uniu-se ao Reino dos Sérvios, Croatas, e Eslovenos. A capital mudou-se da histórica Cetinje, à sombra do monte Locven, para a incaracterística Podgorica. Permaneceu ligado à Sérvia depois da desintegração da Jugoslávia. Até agora.

Os problemas que advêm desta independência anunciada prendem-se mais com o Kosovo do que com a Voivodina. Como se sabe, o primeiro é uma parte da Sérvia habitado esmagadoramente por albaneses. A solução podia ser a divisão do território entre os dois povos, hipótese já rejeitada pelos kosovares, que apenas aceitam criar um segunda Albânia (ou quem sabe, constituir uma Grande Albânia). Parece-me que a divisão seria a mais ajustada, mas é também a mais improvável. E o pior é que os direitos dos sérvios têm sido tudo menos acautelados. Para evitar novos ressentimentos e novas escaladas de violência, seria bom que se deixasse de ver Belgrado como a má da fita em todas as questões balcânicas.

Quanto ao Montenegro, é um país de uma beleza estarrecedora, e se tudo correr bem, terá um belo futuro à sua frente. Façamos figas.

domingo, maio 28, 2006

O regresso anunciado


Tanto diziam que ele voltava que voltou mesmo, justificando assim o velho provérbio da "Água mole em pedra dura..."
Que seja bem vindo. Homens como ele fazem sempre falta no glorioso. E se não tivermos arranjado um número dez disponível para todo o jogo, não haja dúvida que o balneário tem agora mais alguma Alma. Uma Alma que faz passes de morte para golo.

quinta-feira, maio 25, 2006

Punk Cabaret Show

Há coisa de uns dois anos encontrei nas prateleiras da FNAC uns discos com um estranho par na capa, com a cara pintada de branco, à Mimo, e uns trajes de época. Pelo nome do duo pensei logo que fossem alemães. Ouvi um pouco da música deles, que me soou entre a pop infantil, rock inclassificável e teatralidade de cabaret. Estranheza e um pouco de enlevo foram as sensações do momento. Ao contrário do que pensava, não eram alemães, mas americanos, de Boston.

E só desse lado do Atlântico, a uns bons quilómetros a Oeste de Boston, nas margens geladas do Michigan, é que adquiri enfim o disco homónimo dos Dresden Dolls. Fi-lo não só porque até aí ainda andava desconfiado da sua música mas também porque o preço era substancialmente menor, o que diminuía o risco da compra. Só algum tempo depois do regresso à pátria é que me dispus a ouvir o resultado do "brechtian punk cabaret" de Amanda Palmer e Brian Viglione. Uma música que não é para qualquer altura, mas que ouvida com a disposição e o despreendimento necessários tem laivos de incandescência e estupefaciência. Ao vivo deviam ser um espectáculo digno de nota, se algum dia me cruzasse com eles.


Pois assim sucedeu. O duo passou por Portugal, on tour, para promover o segundo trabalho, que ainda não tinha ouvido. Mais precisamente em Famalicão. A escolha do local pode soar estranha, mas faz todo o sentido. A pequena cidade industrial, da qual só me lembrava da câmara municipal com uma espécie de campanário de granito e de uma rotunda com a estátua de Bernardino Machado, cresceu a olhos vistos, e não apenas em edifícios. Uma zona que há trinta anos era uma miséria cultural tem agora a famosa Casa das Artes, um edifício amplo e de linhas sóbrias, no meio de um parque, com um cartaz de espectáculos respeitável (e tem também algumas editoras, não esquecer). Os Dolls actuavam no âmbito do aniversário da Casa, e diga-se que foi uma escolha acertada. Depois da primeira parte ser preenchida com Thomas Truax, a sua guitarra e o seu Hornicator, e que provocou momentos hilariantes, com o músico a atravessar as coxias e a surpreender alguns espectadores que entravam na sala, o duo surgiu enfim. Não defraudaram o as esperanças, embora tivessem menos maquilhagem do que o costume. conservando no entanto as muito emblemáticas meias de riscas horizontais. Passaram o seu repertório quase todo, dos dois álbuns, como a mais conhecida Coin Operated Boy, mostrando a teatralidade do costume e a voz invulgar, com tons loucamente variáveis, de Palmer. Ainda houve tempo para alguns semi-diálogos entre eles e com o público, e para uma canção de Jaques Brel, no francês original, por escolha democrática.

Depois de inúmeros agradecimentos e de recomendações ao restaurante ao lado do auditório, abriram garrafas de vinho, serviram um bolo e posaram para fotografias, sem esquecer os costumeiros autógrafos. Um espectáculo de semi-cabaret terminado com o encontro entre os artistas e os seus fãs. E Miss Palmer esteve inexcedível a responder a perguntas sobre a banda e as suas inspirações, como as que me lembrei de lhe perguntar apesar do seu ar cansado mas próprio de missão cumprida.

terça-feira, maio 23, 2006

O Engenheiro Técnico
Fernando Santos não seria a minha primeira escolha para treinador. Esperava alguém mais motivador, sem o ar algo cinzento do engenheiro. Camacho, por exemplo, embora tacticamente inferior, ganha-lhe por KO na arte de entusiasmar os pupilos e na vontade de vencer. Mas o espanhol vai voltar ao Real Madrid como director, e outras opções, como Eriksson ou Scolari, seriam demasiado dispendiosas. Zaccheroni era uma incógnita. Podiam talvez pensar no factor surpresa, alguém como Michael Laudrup. Assim como assim, sempre é preferível a Carlos Queirós - que há dois anos, salvo erro no Aviz, ficou à frente de Santos como "pior treinador do ano".
O engenheiro tem no entanto algum currículo (além da curiosa experiência de , e nas duas últimas épocas conseguiu o milagre de deixar a equipa do AEK de Atenas, um clube à beira da falência e que viu os melhores jogadores rescindir contrato por salários em atraso, em segundo lugar no campeonato grego. É, sabe-se há muito, benfiquista assumido. E quem pode dizer se não será esta característica a dar-lhe outra energia e vontade de vencer? Vamos confiar.

PS: quanto ao tão falado regresso de Rui Costa, só acredito quando o vir na sala de imprensa da Luz, de cachecol, com a águia Vitória nas mãos e os adeptos em festa. Sabe-se lá depois de se desvincular do Milan ele não pretende ficar mais uns temos na Toscana...

PS2: faz um hoje ano que voltámos a ser campeões. Um ano, já, desde aquela inolvidável noite no Bessa. Que muitas assim se repitam, de preferência sem a dose de nervosismo que durou até ao minuto 89.

domingo, maio 21, 2006

O toque dos extremos

Centos de vezes têm sido exploradas situações em que, por puro oportunismo ou causa comum, os extremos se tocam. Ainda esta semana pudemos ver apoiantes de extrema-esquerda e de extrema-direita lado a lado, a pugnar ruidosamente contra a reabertura da praça de touros do Campo Pequeno.
Por razões menos voluntárias, é interessante verificar nas semelhanças físicas entre alguns seres que se odeiam, ou que odeiam o que o outro representa. Desde há algum tempo que tinha achado que Richard Butler, o líder histórico da organização americana neonazi Aryan Nation, e que, soube agora, morreu há já ano e meio, tinha algumas parecenças físicas com um qualquer estadista. Não demorei muito a perceber que era o comatoso ex-primeiro ministro de Israel, Ariel Sharon. Não sei se este sabia da existência daquele, mas tendo em conta os inimigos do país e a eficiência da Mossad, parece-me improvável que o desconhecesse. É fácil de imaginar o adivinhada frustração e raiva do "cristão ariano", ao comparar a sua cara com a do chefe do governo do seu detestado "estado sionista" e dos "impuros judeus". Quanto a Sharon, também deve ter tido frémitos de horror e fúria, certamente prejudiciais à sua instável saúde, ao perceber as semelhanças físicas com o neonazi. Mas elas existem, e são notórias, até pela proximidade de idades entre os dois homens, tão diferentes nas suas ideias, a ponto de se odiarem, e tão parecidos no que mais salta à vista: a face.
Teria a sua ironia escrever aqui "separados à nascença", mas fico-me pelas evidências fotográficas.







Tirando as rugas de Butler, as semelhanças são evidentes.






quinta-feira, maio 18, 2006

Vae Victis

O Arsenal, equipa não favorita para a vitória na final da Liga dos Campeões, acabou por ser cruelmente vencida em cinco impensáveis minutos pelos adversários blaugranas. A Taça seguiu assim para Barcelona, onde ao que parece, houve estranhas comemorações, com montras partidas e objectos a arder.
Mas nem por isso o mérito lhes deve ser negado. Uma equipa que, reduzida a dez desde os vinte minutos, consegue contrariar os negros vaticínios durante quase uma hora, e que só pecou por não ter aumentado o marcador quando teve a(s) oportunidade(s), merece todos os elogios. Não ganharam? É-me irrelevante. Hoje estou com os vencidos, culpo o árbitro e defendo a razão de ser das vitórias morais. Se não levaram a Taça, mereciam levá-la. Parabéns aos "Gunners" e à sua fantástica equipa. Continuam a ser, para mim, o maior clube que jamais conseguiu ganhar o troféu dos Campeões Europeus.

Ainda mais para o interior

Depois de Moncorvo, segue-se uma zona de planalto, onde assentam povoações como Carviçais, célebre pelo seu festival de Verão e pela restaurante "O Artur", mesmo ao lado da estrada, especialista em posta Mirandesa. A extinta linha do sabor passa rente à estrada; as estações e apeadeiros, agora abandonados, mantêm-se no lugar, quais marcos de numeração. A de Freixo de Espada à Cinta, a 15 kilómetros da vila, lá continua. E é logo depois que em lugar de prosseguir para Lagoaça, se faz um desvio à direita. A estrada está em obras. Passa-se por montes cobertos de urze, vêem-se ao longe as arribas do Douro, de onde sobressai o Penedo Durão. Dizem que é um promontório notável sobre o rio e a região selvagem que o envolve. Mas antes disso surge Freixo, sobre uma colina.


Freixo de Espada à Cinta ( há variadas histórias sobre a origem do nome ), no extremo sul do distrito de Bragança - que é o mesmo que dizer no mais recôndito e desconhecido canto do país - é tida como a vila mais Manuelina de Portugal. Por razões de vária ordem, as casas com aspectos do dito estilo arquitectónico abundam nas ruas mais vetustas, sobretudo nas janelas. A Igreja é um sólido monumento manuelino, com um belo portal e painéis no interior de autoria do maior pintor português do Séc. XVI: Grão Vasco.


O campanário está um pouco acima, separado do templo, tal como acontece em muitas igrejas de Itália. Na realidade, a Torre do Galo, mais do que sineira, era uma das cinco que existia no antigo castelo, e a sua única componente que chegou intacta aos nossos dias. Elegante, de forma octogonal, é o verdadeiro ex libris da vila. A vista lá do alto é espantosa: divisa-se toda a povoação, os montes em redor; adivinha-se a garganta por onde passa o Douro, e, do outro lado, a província de Salamanca, em cuja universidade estudaram muitos freixenistas - ou freixenses, como diria o seu deputado de círculo, Conde d ´Abranhos.

Quem olhar para a parte inferior da foto de cima distinguirá uma estátua a meio da praça. Como é sabido, Trás-os-Montes é terra de navegadores, e Freixo não foge à regra. Trata-se de Jorge Álvares, comerciante, explorador, e primeiro português a chegar ao sul da China, em cujos braços morreu S. Francisco Xavier, no fim da sua peregrinação.
Mas o outros ilustres vultos da nação nasceram nesta região agreste. O mais conhecido de todos é sem dúvida Guerra Junqueiro, poeta e escritor, um dos Vencidos da Vida e da Geração de Setenta. Filho de abastados lavradores, nasceu na vila, realizou os estudos em Bragança e Coimbra, viveu no Porto e Lisboa, e regressou mais tarde às suas terras do Douro, antes de ser nomeado para cargos políticos de relevo. A ele se deve, apesar de republicano feroz, o facto da nossa bandeira nacional não ter ficado ainda pior do que é hoje, mais concretamente sem as quinas e com um barrete frígio.

Foto, algo torta, da casa onde nasceu Guerra Junqueiro.

O resto da vila é algo incaracterístico. Perto há a freguesia de Mazouco, onde se vê uma nítida pintura rupestre, o Cavalinho de Mazouco, já perto do rio. A melhor estrada, quase a única, que estabelece contacto com a sede do concelho, é a que regressa ao cruzamento para Lagoaça. Para cima, ainda são umas dezenas de Quilómetros pelo planalto mirandês. O melhor é mesmo regressar a Moncorvo e apanhar o IP-2, em direcção a Mirandela

terça-feira, maio 16, 2006

Imagens do interior

O interior está envelhecido e perde gente a cada dia que passa. Mas nem por isso perde o encanto. Ou talvez seja por isso mesmo. Eis aqui a sede de um concelho referido no post anterior.

Torre de Moncorvo, Abril de 2006

A torre que dava nome à vila já não existe: ficava no local de onde se tirou esta fotografia, juntamente com um pano de muralha. Foi derrubada na segunda metade do Séc. XIX, para no seu lugar se construír a câmara municipal, e outros edifícios administrativos, com a justificação, perante os protestos populares, de que o "progresso" assim o exigia. Ficou a vista para a praça central da vila e para a imponente igreja seiscentista, de influência castelhana, a dois passos, rodeada de casas brasonadas ou de época.
As maternidades, a "falta de meios" e o interior

Toda esta história do fecho das maternidades faz-me algumas vertigens. Se por um lado, ouvindo as várias opiniões de técnicos conceituados e de relatórios credíveis, a resolução de fechar várias maternidades tem razão de ser, já as atabalhoadas explicações do ministro da Saúde em alguns casos concretos, como o de Lamego, não convencem.

A falta de obstetras é um problema? Sem dúvida. Mas não é certamente irresolúvel. Não será certamente impossível contratar alguns profissionais e colocá-los nos hospitais que deles precisem. Provavelmente não haverá muitos, por causa da falta de vagas e das médias altíssimas que impediram a formação de médicos durante tantos anos, lacuna que podemos agradecer a tantos lobbies de medicina mais preocupados com a concorrência que com o futuro do país.

Só mesmo a falta de condições poderá explicar que se feche a maternidade de Barcelos, um concelho jovem e populoso. E casos como este, o de Santo Tirso, ou de Oliveria de Azemeis, nem são particularmente graves: com tantas ligações viárias, e a proximidade de grandes centros urbanos, a dificuldade será em decidir se querem ir ao Porto, a Braga ou a Esposende ( no caso dos "jesuítas" nem faz muita falta: posso dar como exemplo o meu pai, que nasceu em Santo Tirso, numa casa, e não teve qualquer problema, ou ainda de várias pessoas, na casa dos vinte, nascidas sob as mesmas condições).
O problema dá-se com localidades como Lamego, Elvas ou Mirandela. Se as condições para as populações no interior não são de si fáceis, com estas decisões ainda pioram. Não tanto pelas cidades em si, mas por outros concelhos da mesma região. Será fácil para alguém de Penedono ir para Vila Real em trabalho de parto? Ou de Monforte? Ou De Torre de Moncorvo, em direcção a Bragança?
É por isso que quando ouço opinion makers, como o director do JN, afirmar que "não é possível para todos ter o hospital, o correio e a escola à mão de semear", imagino qual seria a opinião se em lugar de Lisboa, Porto, u qualquer média cidade litoral, vivessem num concelho envelhecido e com parcos acessos no interior. O discurso da descentralização é muito bonito, mas só tem alguma utilidade prática se o pusermos ao serviço de quem dela realmente necessita. De outro modo torna-se num simples artifício de retórica para vitimizações de quem não tem moral para as encenar.
A questão é sempre a mesma: o interior continua a desertificar-se e a perder importância, e o governo não tem ajudado a inverter a situação, excepto nalguns casos pontuais, como a do anúncio da reabertura das minas de Aljustrel. É certo que nem só ao Estado cabe promover o necessário equilíbrio territorial: os cidadãos têm também uma palavra a dizer, se bem que alguns só compliquem, como os rapazes de extrema-direita que como passatempo de Sábado se lembraram de ir protestar contra os emigrantes de Vila de Rei. Mas não ficaria mal ao poder executivo promover algumas condições para a fixação de meios e pessoas no interior, coisa que manifestamente não fz. Basta comparar as tabelas mostrando as diferenças de população em 1960 e agora. População essa que foge para "paraísos urbanos" como o Cacém, Ermesinde ou a Amora.
Se pudesse responder áquela enfermeira de Lamego que perguntou se acaso eram eles portugueses de segunda, responder-lhe-ia, sem hesitar, que sim: são portugueses de segunda, terceira, ou mesmo sem classificação.

sexta-feira, maio 12, 2006

As grandes preocupações ecológicas de Monteiro de Barros

O negócio da mega refinaria de Sines, a ser concretizado entre o governo e Patrick Monteiro de Barros, já não vai ter seguimento, pelo menos nos moldes em que fora acordado. Justificações? O dito projecto de transformação de petróleo teria emissões de co2 muito mais elevadas do que o inicialmente previsto (mais do dobro). Para efeitos do protocolo de Quioto, seria uma falta considerável. Monteiro de Barros não perdeu tempo a lançar críticas ao Secretário de Estado do Ambiente, por causa dos "deveres de confidencialidade das negociações".
Só que o mesmíssimo Patrick é o promotor da ideia de construír uma central nuclear em Portugal. Para tanto, alega razões ecológicas e as necessidades de cumprir as metas de Quioto. A hipotética central teria de ficar próxima de um rio, ao que parece, e fora da área sísmica. E que rio seria esse? O Douro. Só não explica se seria no Douro vinhateiro, Património da Humanidade, ou no Parque Natural do Douro Internacional. Ou nos arredores do Porto. Talvez porque o sr. Patrick não mora para esses lados. E não deixa de ser estranho que um homem que demonstra tais preocupações ecológicas não se importe minimamente de pôr em risco um dos maiores patrimónios naturais (e humanos) do território português, nem use o mesmo critério da emissão de gases no caso da refinaria de Sines. Ao que parece, as preocupações fora do âmbito das suas negociatas são perfeitamente ultrapassáveis - ou mesmo fictícias. Quem não conhecer estes actos de mercearia que feche o negócio.

quinta-feira, maio 11, 2006

D. António Ferreira Gomes 1906 - 2006

O antigo Bispo do Porto, que pagou com o exílio de dez anos a sua coragem e a o seu sentido de justiça, nasceu há cem anos.
A sua vida está a ser homenageada, entre outros eventos, pela Seiva Trupe, no espectáculo "António, Bispo do Porto"; no papel do prelado (e quase irreconhecível) está Alexandre Falcão, em tempos meu professor de expressão dramática. É de ir ver. Até 12 de julho, no Teatro do Campo Alegre.
O adeus de Koeman

Ronald Koeman deixou de ser o treinador do Benfica. Mudou-se para Eindhoven, para dirigir o PSV, onde em tempos venceu uma Taça dos Campeões precisamente contra o SLB, numa fatídica disputa de grandes penalidades. Não sei se ganharemos ou não com a sua saída (além de uns milhares de Euros da Philips). No campeonato tivemos períodos de incompreensível depressão, logo no início, depois entre Outubro e Novembro (fruto também de uma maré de lesões) , até ao penoso fim de época. Na Taça aconteceu o que se viu, embora aí os nossos algozes tenham sido duramente castigados. Só na Liga dos Campeões é que a folha de serviços do holandês se manteve imaculada.
Talvez a sua partida fosse inevitável. Não sei se teria grande capacidade de galvanização da equipa, e os seus erros tácticos eram facilmente perceptíveis, como o de pôr Beto em tarefas flanqueadoras. Como se diz por aí, corria o risco de se tornar o nosso Peseiro. Ainda assim, prevejo-lhe bons momentos no clube dos electrodomésticos. Que tenha sucesso, lá. Não serei eu a esquecer os momentos de glória que nos proporcionou, em especial a grandiosa noite de Liverpool.

segunda-feira, maio 08, 2006

Erros fatais

O Inimigo Público (suplemento satírico de Sexta-feira do jornal Público) perdeu duas oportunidades de fazer bom humor, ou então, de "estar calado", conforme os pontos de vista. Ao colocar John Galbraight como "economista do liberalismo económico" (coisa que manifestamente não era) e, numa piada a O Jogo, Francisco Sousa Tavares entre os portistas ferrenhos (e não o filho Miguel), não só induziu os leigos na matéria em erro como falhou claramente os alvos. Ser rigoroso não se presta apenas aos negócios, ao Direito ou à geo-estratégia: aplica-se também em assuntos mais sérios, em especial o humor.
Acabou o campeonato

O campeonato acabou da pior forma para o Benfica. Jogadores fora da sua posição normal, outros sem ritmo, outros às aranhas, num vendaval de erros e de azelhice, o que permitiu ao Paços de Ferreira safar-se categoricamente. Suspiram de alívio também a briosa e a Naval. Os vilacondenses, já se sabe, desceram sem apelo nem agravo. Assim como os vimaranenses, numa descida do pano trágica mas esperada, depois de cinquenta anos na divisão maior. Mais dramática ainda, a descida do Belenenses, vítimas maiores da redução da liga para dezasseis equipas. José Couceiro não é, definitivamente, um homem para os momentos finais.

Para a próxima época pede-se um médio pensador/construtor de jogo, um ponta-de-lança corpulento para fazer dupla com Nuno Gomes e que Moretto não seja titular. Também já fui mais adepto da continuidade de Koeman. José Veiga é que podia ir arrumando a secretária.

terça-feira, maio 02, 2006

Blogs urbanos

Em tempos já aqui escrevi sobre alguns "blogues urbanos", que tratavam de questões sobre Porto e Lisboa, nos seus mais variados aspectos. Chamo agora a atenção para outro: o magnífico Cidade Surpreendente. Não só tem fotografias fabulosas do Porto, como nunca vi, pela luz, pela oportunidade do momento, pelo enquadramento, como ainda nos revela a sua Outra Face, imagens de decrepitude, desleixo, solidão, tudo na mesma cidade. O constraste entre os dois blogs de Carlos Romão é avassalador. De comum só mesmo o cinzento granítico.
Outro blog, de cujo fim (há seis meses) só agora me dei conta, era o (No) Bairro do Aleixo. Histórias na vida daquele conjunto de torres degradadas, ora singelas, ora pungentes, por vezes reais, outras produto da imaginação. Uma forma de atenuar as misérias urbanas que o maior ghetto de Lordelo do Ouro exibe.

Mas como há mais cidades no país, vale pena destacar este blogue da cidade-berço: 4800Guimarães. Os seus autores (todos de apelido Guimarães) dissertam sobre a condição vimaranense, a "vimaranensidade", o desejo imenso de ver a ver transformada numa urbe cosmopolita (bem expresso em posts com o título Guimarães 4 800 000), as falsas lendas, o Vitória e os costumes locais. Absolutamente aconselháveis são os projectos para levar o mar à cidade, as diversas "cartilhas 4800" (tantas quantas as letras do alfabeto), os ditadores de passagem ou descrições do tunning vimaranense, Mas porque é que não há um 2460 Alcobaça, um 5100 Lamego, um 6400 Pinhel ou um 7350 Elvas?

PS: o Desejo Casar voltou à actividade. Não é um blog especificamente urbano, mas é daqueles que vale a pena acompanhar diariamente. Sigamo-lo, pois.