terça-feira, fevereiro 22, 2005

Noite eleitoral

Ainda com dificuldades técnicas no computador, farei alguns comentários breves à noite eleitoral. Não que sejam assim tão necessários como isso, nem tenham a perspicácia, acerto e pertinência da (soberba) cobertura minuto a minuto feita pelo Blasfémias. Apenas porque me apetece, e nada mais.

O vencedor é claro: Sócrates. Sem fazer muito por isso, levou o PS à maioria absoluta, sozinho, sem necessidade de depender de ora em diante de eventuais acordos com uma esquerda mais assanhada. Ultrapassou a campanha mais maldizente de que há memória, mostrou um partido unido e tem agora a oportunidade de demonstrar o que vale. Não se lhe pedem milagres, mas tão só medidas corajosas e sensatas que tornem o país um pouco mais civilizado.

O PSD, ou melhor, Santana Lopes, é o grande derrotado. Como se previa. As pessoas não são tão distraídas como o quiseram fazer crer e mostraram um enorme manguito à irresponsabilidade e leviandade do PM que tínhamos. A hora é de regenerar. E de rolarem cabeças. Pacheco Pereira e Miguel Veiga ajudam a sustentar o cutelo. Marques Mendes pretende ser o carrasco-mor. Outros surgirão, com as mesmas intenções. Mas o enfant, que de terrible já nada tem, não pretende caír sem luta. Menezes e Jardim ajudá-lo-ão? Morais Sarmento e Arnault serão mesmo fieis, ou não tardarão a assobiar para o ar?

Aqui há uns meses imaginava-se a total derrocada do vetusto PCP. Supreendentemente, Jerónimo de Sousa aguentou-se e aproveitou a boleia da viragem à esquerda. A tal imagem de autenticidade acabou por dar os seus efeitos, sobretudo a Norte, onde o PC teve mais ganhos em deputados. Resta saber por quanto tempo travará a inflexão descendente. Para já, pode dormir descansado.

Sem sofrer uma derrota catastrófica nos números, o PP não atingiu nenhum dos seus objectivos. A ideia de que nada tinham a ver com o desnorte do governo não pegou. Um Paulo Portas de desespero contido resolveu passar a outro ciclo, mas sinceramente não se imagina quem lhe possa suceder. O PP, como a sigla indica, é um one man party. Fora do poder, voltará aos tempos das feiras e da defesa da lavoura? Aproveitar-se-à do apoio do Independente, sempre disponível, voltando a ser um partido de combate? O futuro dos conservadores é talvez um dos assuntos mais interessantes a acompanhar nos próximos tempos.

BE: a maior subida do noite, em votos e mandatos. O movimento composto por neo-trotskistas (mas não só) consolidou-se na AR, e quase que conseguia um nono mandato por Braga. Mas a maioria absoluta do PS deve impedir muitas veleidades. Têm contudo razões para festejar.

Pequenos partidos: mais uma vez, nada.O Dr. Monteiro não faz mesmo a diferença. Garcia Pereira também não. Os únicos a rir foram o PPM e o MPT, depois de terem sido engolidos pelo PSD.
Gozo da noite: Alberto João Jardim, sentindo o peso da derrota (à última da hora, perdeu um deputado para o PS), vociferando contra "os poderes corporativos de Lisboa". Não lhe ocorreu que tivessem sido antes os poderes populares do país a correr com o seu partido.

Mau perder do dia: ver os posts de Paulo Pinto de Mascarenhas, Inês Teotónio Pereira e Jacinto Bettencourt no Acidental. A saída do poder provocou choro, ranger de dentes e sentimentos ressabiados. Discursos do tipo "somos os únicos com honra", ou "num país civilizado o CDS/PP tinha 100% dos votos" provam bem a falta de fair-play e de espírito democrático que por ali se instalou. E já que falam em não saber ganhar, relembro as palavras que Paulo Portas dedicou ao PS nas legislativas de 2002: "Perderam! É bem feito! Vão-se embora!" Apenas encontro paralelo na arrogância de certos elementos do BE, ao referir-se aos derrotados de agora. Só que atitudes destas acabam por ter um custo. Hoje aconteceu ao PP. Amanhã sucederá o mesmo ao BE. Sem a vantagem de ter passado pelo governo antes.

Adenda: tive de colocar umas palavras e corrigir alguns erros. Soube agora que Sanatana decidiu abandonar a liderança do partido. Tomou enfim uma decisão sensata.

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