sábado, janeiro 29, 2005

A melhor homenagem



Há exactamente um ano, Miklos Fehér, escoltado pelo plantel do SLB e pelos seus conterrâneos e familiares, chegou à sua última morada.
Lembro-me bem desses dias. Dias de choque e tristeza. As notícias não falavam de outra coisa. Na Luz convergiam milhares de pessoas e de condolências pela trágica morte do jogador. Eu próprio postei longamente sobre o assunto, talvez mais do que o que seria desejável, mas de forma correspondente com o que sentia. Nessa semana choveu copiosamente, como se também do céu viessem choros profundos pela abrupta morte. E em Gyor, na pátria de Fehér, a neve espalhava-se até ao horizonte.

Um ano depois, e a seguir a uma humilhante derrota com o Beira-Mar(treinado por Luís Campos!), a Luz assistiu ao maior jogo do ano e ao melhor derbi desde o famoso 3-6 de Alvalade. Num desafio intenso, vibrante, com golos do outro mundo, jogadas fantásticas, expulsões, más decisões do juíz e resolução na lotaria dos penalties, o Benfica passou aos quartos-de-fianl da prova e ganhou o direito a sonhar em revalidar o troféu de que é detentor. Se quatro dias antes, e mesmo com o descerrar do busto de Fehér, a ocasião tinha sido estragada pelo péssimo jogo do SLB, é justo dizer agora que a grande homenagem ao jogador húngaro prestou-se no relvado do feérico e apinhado Estádio da Luz, ao longo de mais de cento e vinte minutos, com duas equipas a irem até ao limite dos seus esforços e a jamais aceitar a derrota, mesmo quando esta parecia inevitável. E que grandiosa, que fabulosa homenagem prestaram aqueles atletas ao seu companheiro, desaparecido no manto verde, onde, também ele, jogava à bola.



Para terminar com o assunto "Cate"



Acredita que é realmente uma Musa, Freddy, embora estejas pouco convencido.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Ainda em relação ao meu último post, outros houve que corroboraram na questão Blanchett como Musa do cinema, embora com diferentes pretextos. Inspiração aqui n ´A Ágora ou simples coincidência intuitiva?

PS: a Musa estará de novo nas telas, não apenas como Katherine Hepburn mas também em The Life Aquatic of Steve Zizou, com o extraordináriol Bill Murray.

terça-feira, janeiro 25, 2005

Heaven

Passei um serão mais para o televisivo, ontem, domingo, pensando em ver um blockbuster que a TVI anunciava para a noite, O Patriota, filme de Rolland Emerich com Mel Gibson, passado na Guerra da Independência Americana. Como tantas outras vezes, a TV de Paes do Amaral e Eduardo Moniz defraudou o seu público e mandou o filme ás malvas, em detrimento de um qualquer pós-quinta das celebridades, mostrando de novo os princípios que norteiam a sua programação. Levemente enfadado, pus-me a fazer zapping, acabando por me fixar no filme da Dois, que estava a principiar. Tinha ouvido vagamente falar na fita, de nome Heaven, na altura do seu lançamento, vai para dois anos, apesar de ser protagonizado por uma das minhas actrizes favoritas, Cate Blanchett, especialista em interpretar rainhas. Fiquei então a assistir ao desenrolar da história, a princípio algo confusa, mas que se tornou clara pouco depois. Uma professora inglesa a viver em Turim, Philippa Packard, tenta vingar a morte do marido (e de alguns alunos) pondo uma bomba na secretária do responsável, um empresário ( na realidade um traficante de droga), mas acidentalmente a explosão apenas provoca vítimas inocentes. Revelando o seu acto, Philippa é interrogada pela polícia e confessa as razões do atentado, perante a estupefacção das autoridades, metidas também no negócio dos estupefacientes, que a acusam de fazer parte de um grupo terrorista. Somente o jovem intérprete -a interrogada faz questão de responder em inglês- um sentimental Giovanni Ribisi (o fotógrafo workaholic, marido de Scarlett Johanson em Lost in Translation), acredita na sua versão, acabando por cair de amores por ela. Quebrando todas as regras, o polícia novato consegue pôr a prisioneira em fuga, na sua companhia, bem como a eliminar o causador da morte do seu marido, fugindo depois para uma pequena cidade na Toscana. Perseguidos por tudo quanto é autoridades judiciais, e depois de recusar a ajuda do pai do tradutor, encontram refúgio numa quinta, onde são no entanto detectados. O filme termina com a desaparição do casal num helicóptero, rumo aos céus.

Retirando uns pós de lamechice e abstraccionismo, o sentido do filme, que nem sempre é bem conseguido, vai sendo apanhado com o seu desenrolar, sobretudo já na fuga. O caminho de alguém que se sente perdido, sem sentido de vida nem esperança alguma no futuro, acompanhada por outrem que larga tudo para seguir um amor arrebatado, mas que nem por isso perde o sentido total da razão. Duas almas errantes, perdidas, ligadas por sentimentos recíprocos e com um destino mais que incerto, que calcorreiam as estradas poeirentas sem saber de todo o que fazer. Philippa sente que tem de pagar pelos seus crimes, mas não se atreve a entregar-se (notável a cena da sua confissão, numa igreja, ao seu acompanhante, qual sacerdote, até ao momento em que lhe declara o seu amor). A certa altura são como um mesmo ser, andando pelos campos toscanos com a mesma t-shirt gasta, os mesmos jeans, o mesmo cabelo rapado, na mesma direcção. Até os nomes, Philippa e Filippo, bem como a data de aniversário, comum aos dois, os confundem. A sua individualidade esbateu-se. O seu amor uniu-os. Doravante, aqueles dois seres entregues a si próprios não mais se poderão separar.
Ainda que contendo alguns momentos mortos, a ideia de redenção depois dos excessos, de um caminho até algo de mais sereno e transcendente, perceptível por mais do que uma vez no filme (não só a imagem final mas também o plano do comboio a aproximar-se da saída do túnel, e da consequente luz), é obtida de forma satisfatória. Ressalve-se talvez a excessiva "pureza" de Philippa em entregar-se conscientemente, depois dos seus assassinatos, que sabe não poder justificar face à lei. A opção de Filippo, atrás do objecto de seu amor, uma fugitiva perseguida por todos e sem qualquer outra pessoa em quem se apoiar, não só é tocante como também desenha o rumo de todo o filme. E para interpretar um anjo em queda, procurando em vão redimir os seus erros, não vejo muitos mais actores a conseguir fazê-lo para além de Cate Blanchett.

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Quando a hipocrisia bate à porta

Nem sempre concordo com Ana Sá Lopes, e muito menos com a sua insuportável e politicamente correcta Vanessa. Mas o seu artigo de hoje no Público (não sei porquê, mas não está "linkável"), onde opina sobre a infelicíssima tirada de Louçã, tem a minha total concordância. Mais ainda: a referência ás ainda mais atrozes declarações de Teixeira Lopes (recordemos: "há um limiar de hipocrisia muito forte da parte de Paulo Portas, que constrói uma fachada de conservador, de homem de Estado, mas que depois não a leva até ás últimas consequências" - como casar e formar família) é digna de registo. Porque Louçã ainda tem a desculpa de ter tido um mau momento, uma frase saída a quente. Mas o deputado portuense, falando no dia seguinte e depois de analisada a situação de forma - supostamente- mais racional, mostrou a face mais intolerante, totalitária, e, porque não, ignóbil, do BE. O mesmo movimento que defende as minorias, o direito à liberdade individual e o respeito absoluto pela reserva da vida privada pretende agora imiscuir-se na esfera íntima de alguém que defende ideias políticas e sociais diferentes. Será que para o BE essa mesma liberdade individual não é extensiva à "direita", ao "centro", e a todos os que não se revêm na cartilha neo-trotskista? Ou não deveria nesse caso Teixeira Lopes, para mostrar a força das suas convicções, andar a fazer "tags" e "graffitis" (como já defendeu), fumar cannabis em público ou"okupar" casas? A coerência vale para todos, não é?
Só me apetece apagar o último post, mas por pudor não o faço.
Esqueçam-no, por favor. Se conseguirem, agradeço.

sábado, janeiro 22, 2005

Continuar a senda Gloriosa

Depois da goleada aos meus vizinhos do Bessa, o SLB prepara-se para receber o Beira-Mar. o adversário parece fragilizado, mas é bom não esquecer que a rapaziada de Aveiro no ano passado nos estragou o primeiro jogo oficial na nova Catedral, e que já esta época fizeram uma gracinha semelhante no Cavalo-marinh...no Dragão (mas o Boavista também lhes ganhou aí, e no Domingo aconteceu o que se viu). De qualquer forma, há vantagens à partida: Luís Campos é o "mister" dos alvi-negros.
Aqui fica uma antevisão tendenciosa do jogo, num blog que doravante merecerá a minha atenção.

quinta-feira, janeiro 20, 2005

A lata II

No programa "Prós e Contras", da RTP, Mário Soares disse aquilo que já toda a gente está farta de saber: que há corrupção nas autarquias, que os licenciamentos das câmaras à construção civil passam por cima de todo e qualquer norma ambiental e de ordenamento do território, que há promiscuidade com o futebol, e alguns dos piores defeitos da classe política portuguesa tinham mesmo natureza local (como o caciquismo). Fingindo indignação, Fernando Ruas, presidente da ANMP e da Câmara Municipal de Viseu, responsável pela construção de 9549 rotundas em redor da cidade beirã, resolveu perguntar ao ex-PR "se sabia de exemplos de corrupção nas autarquias para poder se manifestar, insultando os autarcas deste país". Ora exemplos é o que há mais. A quantidade de edis locais que foram parar à cadeia, estão sob processos judiciais ou a ser investigados pela polícia, pelas mais diversas irregularidades, não é facilmente quantificável. Como mais mediáticos temos por exemplo o saco azul de Felgueiras, os incontáveis processos judiciais de Ferreira Torres, as ligações ao caso Apito Dourado ou as alterações abruptas dos PDMs. Aliás, as críticas do presidente da ANMP foram feitas no mesmo dia em que Nuno Cardoso acabou por ser formalmente constituído arguido do processo de revenda de uns terrenos no Porto, supostamente beneficiando o FCP, alimentando ainda mais as suspeitas que já havia. Ruas não podia mesmo ter escolhido pior altura para se indignar: todos os factos mostram que a posição dele é indefensável.
 
Já agora, note-se a costumeira lata de Cardoso, que afirmou que "tinha sido apenas convidado a ir à PJ prestar declarações", e que a polícia"apenas o tinha ido visitar a casa". E para quê, já agora, sr. engenheiro? Para lhe oferecer flores e chocolates?
Os benefícios a tirar disto tudo é que Nuno Cardoso já não deverá poder candidatar-se à Câmara do Porto. Por essa parte os portuenses já podem dormir descansados.
A lata I

Paulo Portas afirmou numa reunião informal que não quer permitir que o clientelismo se instale nos governos, e que os quadros competentes sejam afastados por razões de amizades políticas. e com razão. Sucede que Portas já o tinha dito na campanha para as anteriores legislativas, na sequência das quais levou o PP ao governo. E logo se chegaram à frente os "boys"populares, prontos a ocupar assessorias, direcções-gerais e secretarias de Estado, o que veio a suceder. Caso flagrante foi o de Teresa Caeiro, amiga pessoal do mesmo Portas, que, tendo sido anunciada como Secretária de Estado da Defesa, acabou por trocar à última da hora com a pasta das Artes e Espectáculos, provocando até atrasos na tomada de posse do Governo, perante a estupefacção do PR. Provou-se que devido a essa mesma amizade, não lhe faltaria nunca um qualquer cargo governamental. Eis um típico (e descarado) caso de clientelismo ao mais alto nível tecido pelo homem que vem agora amaldiçoar a sua prática. Imaginaria Frei Tomás que os seus discípulos continuariam assim tão activos?
Recuperado enfim dos festejos de aniversário, retorno a esta Ágora e ao convívio com os leitores. A propósito, já viram um filme chamado "Oceans Twelve"? Eu ainda não. Dizem os críticos - os do costume, essa classe tão insólita e abstracta- que é "um bom entretenimento". E não deveria ser o cinema sempre assim? Ou os irmãos Lumiére, quando se lembraram de o inventar, pretendiam retratar "a angústia e a dor como manifesto filosófico do ser humano"?

segunda-feira, janeiro 17, 2005

366 dias

Sim. Este dia tinha fatalmente de chegar. É o destino. Ou então, como não acredito em "destinos" pré-traçados, a marcha inexorável do tempo. Mas ele chegou, enfim. Aconteceu o que acontece a qualquer outro blog que se mantenha activo.
Pois é: este blog faz hoje um ano. Blogo desde 16 de Janeiro de 2004, quando lancei o meu pequeno texto introdutório - de que não faço o link, já que qualquer pessoa lá pode ir consultá-lo sem engano possível, visto que são os caracteres primordiais deste espaço- um aviso (inócuo) à navegação do que iria escrever, e um pequeno texto sobre a cidade de Vila Real e o caos urbanístico que a tomou, um problema que, longe de estar resolvido, conseguiu ao menos ser suavizado, com novos equipamentos revestindo novas concepções arquitectónicas.
Mas não interessa. O que conta é que este blog completa um ano e, para desgraça dos seus leitores, promete continuar. Durante o ano transacto várias vezes senti uma sensação de saciedade, de cansaço, que me levou a fazer curtas pausas na escrita. No entanto, o "bichinho" bloguístico conseguiu sempre reter-me e obrigar-me a prosseguir com a edição de posts. não há nada a fazer: não me consigo desligar da escrita blogoesférica. Quando muito, tirar umas ligeiras férias, nada mais. Se é certo que nunca consegui o galardão de "blog de referência", não é menos verdade que consegui chegar a alguns interessados, sem nunca mudar seriamente de "linha editorial", nem recorrer ao insulto fácil ou ao vernáculo, coisa que me incomoda seriamente colocar em versão escrita ( embora do vernáculo possa saír prosa genial).
De qualquer forma não haverá mudanças revolucionárias no blog. Excepto uma. Já várias pessoas se queixaram de não haver imagens e fotografias neste espaço. Concordo plenamente com elas. A estética é algo de indispensável à vida, à arte, e portanto também aos blogs. Simplesmente, tenho de confessar uma falha (uma vergonha!): só aprendi a postar imagens este fim-de- semana, daí a falta de côr. Mas essa situação vai-se alterar - e quero mandar um abraço de agradecimento ao Frederico Marchand, da Zona Franca, que me socorreu neste problema. Doravante, as imagens vão-se suceder neste blog. Fiquem com a primeira, que como não podia deixar de ser, é...




A Ágora (romana)

domingo, janeiro 16, 2005

Fumadoras de todo o mundo, uni-vos!

Ao que parece, a nova Lei anti-fumadores não será tão restritiva como se pensava de início. Se em locais de trabalho poucas veleidades serão permitidas, já nos bares, restaurantes e discotecas a proibição fica ao critério do proprietário. Parece-me razoável. Se esses espaços são privados, ao contrário do que andam a apregoar, não vejo porque há de haver uma lei a limitar uma liberdade individual.
No entanto, a tentativa mereceu forte oposição de diversas colunas de opinião, como dois ex-infames. No seu novo espaço além-Atlântico, João Pereira Coutinho refere políticas anti-fumo nazis, fanatismo próprio dos que se acham puros, e atira-nos com Lauren Bacall fumando. Já Pedro Mexia, no seu artigo semanal da GR (sem link) , fala-nos exactamente de como "tudo o que é bom faz mal( o contrário, o que é mau e faz bem, seria xarope, diz)", e pespega-nos também com as imagens clássicas do cinema, mais precisamente com Humphrey Bogart.
Como mero fumador ocasional e mundano de cigarrilhas, exprimo a minha plena concordância com os dois, na dura resistência contra o neo-puritanismo hostil ao fumo (desde que não seja directamente para a cara dos circunstantes, claro). E, embora não recorra aos mitos do cinema, pretendo deixar alguns modestos contributos. Como este, e este, ou ainda este. Espero que sirvam de incentivo à causa.

quinta-feira, janeiro 13, 2005

O essencial da gravidade

Não acho grave que o Ministro Morais Sarmento tenha tirado um dia para férias na sua deslocação a S. Tomé. Um dia não são dias, e os membros do Governo, ao contrário do que a imaginação popular apregoa, têm um trabalho intenso e exaustivo, até porque têm de prestar contas ao país inteiro. E depois, não me parece que a Pátria sucumbisse por dispensar o Ministro da Presidência por mais umas míseras vinte e quatro horas. O problema está em que Morais Sarmento resolveu ir para instalações de luxo, com a respectiva comitiva, pago pelo Estado com alguns milhares de Euros. Além de irresponsável dá um péssimo exemplo (mais um) de despesismo inútil e ostentatório, por muito que isso contrarie o infeliz Luís Delgado. Por aí se vê a cultura de responsabilidade destes senhores.
De qualquer maneira não julgo que Sarmento deva ser demitido. Seria uma redundância por antecipação, num governo a prazo. Mas antes da sua saída do executivo, devia ser obrigado a reembolsar o Estado a expensas próprias. Isto sim, talvez contribuísse para uma melhor ideia de competência e civismo governamental.

Antes dos REM



Acho que não mencionei no post anterior a 1ª parte do concerto de Joseph Arthur, mas realmente não o vi (excepto quando se juntou à banda de Athens). Alguns acharão grave o facto de ter falhado a prestação do singer-songwriter parecido com John Lennon, só que além de mal ter ouvido falar dele, disseram-me que tinha sido um arraial de desafinação. Assim sendo, não lamento o tempo que perdi antes, a degustar qualquer coisa. Mas o mesmo não diria da 1ª parte do concerto de 99, a cargo do glam-rock dos saudosos Suede.

quarta-feira, janeiro 12, 2005

It´s not the end of REM as we know them (and I feel fine)


Aqui há poucos meses, Miguel Esteves Cardoso falava, na sua crónica semanal na Blitz, à qual em boa hora regressou, das bandas "que já não se podem aturar"( não era bem assim mas anda lá perto). O exemplo que dava era o dos REM, mais concretamente do seu último álbum, Around the Sun. MEC considerou o disco "uma seca", opinando que o grupo de Athens devia terminar. Não me lembro de tudo textualmente, mas deu para ver que o ex-líder do PPM ten um pequeno ódio de estimação pela banda. De qualquer forma, provou-se que, apesar de ainda lançar de quando em vez uma prosa interessante, e de estar atento ao mundo da música. MEC está muito longe daquilo que era, ou seja, a grande referência para inúmeros colunistas, escritores e especialistas no pop-rock.
Confesso que não ouvi ainda bem Around the Sun, à parte o single Leaving New York e pouco mais. Tive essa oportunidade na Sexta, dia 7, no Pavilhão Atlântico, onde pela segunda vez a banda se deslocou, e em que pela segunda vez a pude ver ao vivo.
Ao contrário da opinião reinante não desgostei do espectáculo a que assisti em Junho de 99. Ouvi críticas como "desafinados", "retorcidos", barrocos", "desarticulados", mas quanto a mim apenas pude ver uma banda que se estreava em palcos lusos, com uma decoração que nomeava as outras cidades da digressão, à mistura com motivos do álbum Up, e um desfilar de canções que circulava entre os clássicos e as nóveis (e por isso mesmo mais desconhecidas). O público, já se sabe, quer festejar ante o que já conhece, pelo qual pagou o bilhete, e não fica muito convencido ainda que lhe digam que a digressão tem exactamente como objectivo promover o álbum que traz na bagagem.



Mas as críticas ao grupo de Athens (Geórgia) não se ficam pela sua performance em palco. São acusados de estarem pouco imaginativos, alheados, cansados, ou , como diz o MEC, "já não se poderem aturar". Posso até nem apreciar tanto as últimas criações dos REM, mas acho perfeitamente injustas as condenações por falta de criatividade e imaginação. Se há coisa que Michael Stipe e sus muchachos sempre tiveram foi capacidade para se auto-reinventar e mudar de estilo de um álbum para o outro, sem contudo perder os princípios essenciais que norteiam o bom pop-rock. A sua rica história prova isso mesmo. Recorde-se que os REM eram no início uma banda de universitários, que produziam uma mistura de punk/country que os transformou num fenómeno de culto, para além de terem uma militância política fortemente anti-Republicana ( no caso, anti-Reagan). A sua música "alternativa" começou a chegar ás massas com Document (que incluía hinos como "One I Love" e "It´s the End of the World as We Know It") e Green. Abandonaram então a sua pequena editora e assinaram por uma "major". Seguiu-se Out of Time e a banda explodiu a nível mundial, com singles como "Shinny Happy People" e, sobretudo, a (permitam-me) inimitável, intemporal e esmagadora "Losing my Religion". Mas apesar de todo o êxito, não hesitaram -lá está- em seguir com uma total alteração de estilo, numa aposta arriscada mas triunfante. Depois do rock FM com laivos de country de Out of Time, Automatic for the People era um disco mais acústico, mais doce e introspectivo (inclui "Man on the Moon e Everybody Hurts"), mas nem por isso deixou de ter um sucesso comercial semelhante. Com Monster passaram depois para um tipo mais rocker, próximo do Grunge que dava os últimos suspiros, naquele ano da morte de Kobain. Nessa altura, os REM eram a maior banda do Mundo, e só não vieram a Portugal porque uma carga de maleitas os apanhou a meio de uma digressão mundial. De qualquer forma, o álbum seguinte, New Adventures in Hi-Fi (o meu primeiro!) era constituído por músicas derivando entre a balada mais doce e o rock mais mexido, mas que, como dizia a Grande Reportagem da altura, podiam formar a banda sonora perfeita para uma travessia da América de carro, sobretudo na passagem pelo Oeste. Não admira: o disco foi criado e gravado na estrada, entre um e outro concerto em diversas cidades dos EUA. New Adventures não teve tanto sucesso com o público, talvez por não ser de uma facilidade imediata, mas tem um reportório irrepreensível de magníficas músicas - estou neste momento a ouvir uma belíssima: "New test Lepper".


O baterista Bill Berry, que sofrera um aneurisma, deixou a banda, que regressou com o mais electrónico, nebuloso e introvertido Up, também ele um álbum difícil (e com o consequente insucesso comercial), mas com argumentos válidos, depois de nele se entrar; o cartão de visita Daysleeper é das minhas favoritas da banda, mas aconselho outras, como a despercebida Falls to Climb, a última faixa do álbum.



Tendo feito a tournée mundial, com o tal primeiro concerto em Lisboa (onde apresentaram, em estreia mundial, a música Great Beyond, da banda sonora de Man on the Moon, filme de Milos Forman, com um videoclip em que a banda atirava dardos a Jim Carrey) os REM descansaram um pouco até editar Reveal, um disco mais "de Verão", mais açucarado e alegre, onde os raios de sol trespassavam o negrume anterior. O single principal, Imitation of Life, era prova disso mesmo, e a banda voltou aos tops. Como exemplo de balada menos colorida temos outro single, a belíssima "I´ll Take the Rain", uma das melhores músicas do disco. Seguiu-se o inevitável Best Of de fim do ano e o tal Around the Sun, disco que, como disse no início deste já longo post, ainda não ouvi nas melhores condições.
Tive pois essa oportunidade no concerto de dia 7. Ouve outros ecos nos blogs, ora entusiásticos, como o Nuno Peralta, ora desiludidos, como o Pedro Mexia (pela segunda vez), sobre a exibição dos rapazes. Mas, embora tenha gostado mais da decoração do palco e das imagens emitidas, não fiquei mais entusiasmado com este concerto do que com o de há cinco anos e meio atrás. Talvez por ser Inverno e no outro Verão, ou, mais importante, já não ter o entusiasmo de principiante que me levou a Lisboa de saco de viagem ás costas, a meio da época de exames da faculdade (que me correram bem, graças a Deus), com a alegria própria da novidade. Não. Desta vez sabia um pouco o que me esperava (como o facto de em nenhum concerto dos REM eles se esquecerem da Losing), revi algumas canções que já ouvira ali mesmo, e julgo mesmo que o público era mais "controlado" e menos juvenil do que em 99; provavelmente para muitos deles seria também a repetição. Confesso aliás que se um grupo grande de amigos não me tivesse desafiado para lá ir talvez nem me tivese dado ao trabalho de nova ida ao Atlântico. Mas também não fiz nenhum sacrifício, e pude mesmo ouvir a grande ausente de há cinco anos (Everybody Hurts), fiquei com uma melhor ideia do novo álbum e o concerto proporcionou um convívio agradável e um ambiente simpático. Não o faria por muitas mais bandas além dos REM. Michael Stipe, Mike Mills, Peter Buck & Cª merecem-no. E depois, nenhuma deslocação que permita ver ao vivo a performance de Losing my Religion se pode dar por inútil, seja qual fôr o valor do bilhete. Foi talvez o grande momento de comoção que senti naquele concerto; sentir que talvez nunca mais fosse ver aquela música a ser tocada ao vivo. E só por isso já valeu a pena ir ao Pavilhão Atlântico, numa fria noite de Janeiro de 2005.

Se quiserem ouvir algumas das minhas propostas, podem fazê-lo aqui

terça-feira, janeiro 11, 2005

Derbi (é assim que se escreve agora)

Alguns assistiram ao derbi servindo-se de pantagruélicas refeições. Eu contentei-me com comida indiana (deixando mesmo caír o caril aquando do golo do Nuno Gomes), mas a exibição do SLB deixou-me com o estômago mais vazio - até porque não comi sobremesa. Parece que quando vou a Lisboa em dia de derbi as coisas corem pior para as nossas cores. Para a próxima não me apanham lá. Sempre evito os grupinhos de pretensiosos que até para a noite levam o seu esverdeado cachecol. Provavelmente porque um resultado destes só aparece de quando em quando. De resto, é dífícil recordar a anterior derrota do SLB em Alvalade. E no novo, só a recordação do golaço de Geovanni.
Mas haja esperança. É certo que Liedson resolveu, mas Nuno marcou o nº 100 e Mantorras está de regresso, mais as suas fintas inimitáveis! Será que também ele resolve?

PS: a título de curiosidade, este fim-de-semana estava reservado para os derbis ibéricos; também o Real e o Atlético se defrontaram; e, indo mais longe, ainda encontrávamos um AEK-Panathinaikos e um Celtic-Rangers.

sexta-feira, janeiro 07, 2005

Cinco anos e meio depois

Cinco anos depois da quente noite de 17 de Junho de 1999, os REM voltam a Portugal. É razão para revê-los, mesmo que, ao contrário da maioria, até tenha gostado desse concerto? É.
In memorian - o rosto da Palestina (post em atraso)

Este é um post que estava em banho-maria desde há dois meses, e que por esquecimento, inércia, impossibilidade temporária ou simples preguiça blogoesférica ainda não tinha publicado. é certo que a morte de Arafat já lá vai, mas aproximam-se as eleições palestinianas, que porão Mazen ou Bargouthi no poder, e que ditarão parte do futuro do Médio Oriente. Por isso mesmo, convém recordar o desparecimento do homem que despoletou estes movimentos. Até porque a situação no terreno está longe de estar mais calma.

Yasser Arafat morreu enfim, depois de uma data de falsas declarações obituárias. Choveram logo as habituais condolências, lamentos, regozijos. E expectativas quanto ao futuro do Médio-oriente, agora sem uma das suas mais marcantes figuras das últimas décadas.
Desde pequeno que me lembro de ver o homem e o seu kaffyeh, como se de um apêndice se se tratasse -para além dos indispensáveis óculos escuros (que entretanto pôs de lado), a tal ponto que cheguei a pensar que fosse cego. O nome Arafat é pois um dos marcos da política internacional mais longevos, pelo menos para a minha pessoa.
Convém desde já que fique clara uma coisa: o chairman palestiniano era intrasigente, obcecado, e porventura ultrapassado, mas não creio que fosse "o obstáculo" à paz. Há que lembrar que a agonia dos acordos de Oslo iniciou-se com o assasinato de Rabin por um radical judeu, a que se seguiram o governo do truculento "Bibi" Netanyahu, os ambíguos desígnios de Barak, que prometeu um estado palestiniano mas não cessou a construção de colonatos, o passeio de Sharon no pátio das Mesquitas, que desencadeou a 2ª Intifada, e o cerco de Arafat no seu QG em escombros.
Daí lhe exigiram o controlo do terrorismo e a convocação de eleições. Seriam justas exigência se outras fossem as condições de "Abu Ammar", ameaçado de morte por Israel. A verdade, porém, é que nenhum dos intervinientes se portou à altura: nem Arafat, com posições de animal acossado e a fortuna que juntou; nem Sharon, que jamais demonstrou real interesse numa paz mútua, e muito menos Bush, pouco interessado em conceder a mínima condição aos palestinianos.
Agora, um dos lados do triângulo, perto do qual vogam outras figuras duvidosas, desapareceu; o futuro é uma incógnita, não se antevendo melhor nem pior numa zona que gritantemente precisa de paz. E, apesar dos defeitos que se lhe possam apontar, é justo reconhecer Arafat como o rosto do nacionalismo palestiniano, tal como Ben Gurion o era para Israel, ou Nasser para o Egipto. Todos eles cometeram erros e tiveram as suas fases mais obscuras. Mas tiveram sempre como maior objectivo das suas existências a libertação e/ou completa autonomia dos seus povos. Arafat cabe dentro destes pressupostos, já que toda a sua vida, mesmo que por caminhos perigosos ou errados, foi dedicada ao seu povo, até ao fim. Por isso mesmo merecerá o repouso e a admiração dos seus, seja na Muqata ou em Jerusalém.


terça-feira, janeiro 04, 2005

Cidades e concelhos...exemplos de sub-desenvolvimento?

Um dos maiores provincianismos a que se assiste cá na pátria é o de qualquer povoação, vila ou subúrbio querer ser cidade a toda a força. O estatuto de cidade cai bem, dá uma ressonância mais cosmopolita e sofisticada, e permite que qualquer habitante de uma ex-vila possa agora olhar nos olhos para um qualquer morador de um burgo de estatuto mais antigo, e, com ar de quem chegou à festa há pouco, afirmar: "sou da cidade de tal".
Por essa mesma razão é que temos verificado uma avalanche de "promoções" de vilas a cidades, ou de aldeias a vilas, sem par na nossa história administrativa. A quantidade de cidades-freguesia é incalculável. São por norma subúrbios que, por via de um desmesurado crescimento demográfico, alcançam a categoria de cidade. No entanto, não são mais do que dormitórios sem um centro urbano digno, nem infra-estruturas adequadas, ou equipamentos que permitam qualidade de vida minimamente aceitável. Exemplos cabais são Ermesinde, Cacém, Rio Tinto, Sacavém, Gafanha, e outras numerosas localidades. Outro caso é o de vilas do interior que, atravessando uma fase de maior fulgor, pretendem (e conseguem-no) ser promovidas. Já não percebia porque raio é que Vila Nova de Foz-Côa ou Oliveira do Bairro eram cidades - já o caso de Miranda tem por trás razões históricas. Mas há pouco tempo houve nova fornada de burgos, entre os quais avultavam dormitórios (Valbom, Caparica) e vilas do interior, como Trancoso, Sabugal, Reguengos de Monsaraz, e -ó completa falta de juízo- Tarouca! Que me perdoem todos os naturais da localidade a Sul de Lamego (essa sim, uma antiga cidade com dimensões de capital de distrito), que nada tenho contra eles, mas convém elucidar as pessoas: Tarouca é uma vilazinha, inserida nas "Terras do Demo", com um ou outro edifício administrativo, algumas dezena de casas numas poucas ruelas, tudo facilmente contabilizável do alto de uma pequena colina com uma umas alminhas em cima, no centro da povoação. Mais uma vez peço desculpa, mas pensar que está ali uma cidade pode levar a diversas reacções, desde largar a rir à gargalhada até iniciar um estudo sociológico para investigar certas pretensões estranhas dos portugueses. Valha-nos que ainda há pessoas que não alimentam tais vanglórias, como os naturais de Ponte de Lima, Cascais ou Sintra, preferindo ser vilas conhecidas a cidades anónimas. Até porque não precisam.

Outro provincianismo que tal é o de haver uma data de freguesias a querer ser concelho (e, claro está, cidade). Certos casos eram compreensíveis por razões administrativas, como Trofa, Odivelas ou até Vizela. Todas são localidades com alguma dimensão, sobretudo a primeira, e todas ficam situadas em áreas de forte densidade populacional. Situações diferentes passam-se com a Tocha, Samora Correia, Vila Praia de Âncora, e, evidentemente, o mais mediático: Canas de Senhorim. Neste último, como se sabe, reina a loucura. Volta e meia os populares desatam aos berros, a agitar bandeiras, a vociferar contra o Presidente e contra Nelas, a bloquear as vias de comunicação, com exclamações de que "não votamos", "isto parece Timor", ou "só lhes falta matarem-nos". Todas as razões são usadas, mesmo as da saúde pública, como a remoção de urânio, para exigir a pretensão concelhia. Note-se que as forças de segurança têm tido uma paciência de chinês com os locais, caso contrário já teriam lançado umas quantas cargas de bastonada sobre os manifestantes, tamanhos são os impropérios que estes lhes lançam. O ridículo de toda esta situação, para além dos exacerbados protestos dos canenses, é que se conseguissem realmente alcançar o estatuto que pretendem, dividir-se-ia um concelho já de si pouco populoso, Nelas, para formar dois pequenos municípios, e em que o de Canas pouco ultrapassaria os cinco mil habitantes. Há que relembrar aos cidadãos que nos primórdios do liberalismo ocorreram importantes reformas, pelas mãos de Mouzinho da Silveira, que reduziram os concelhos (alguns deles minúsculos) de mais de 800 para cerca de 300, e que recriá-los seria regredir quase duzentos anos. No extremo, podíamos chegar ao insólito de restaurar municípios como Ucanha, com cerca de trezentos habitantes, ou S. João da Foz, hoje inserida de pleno direito no Porto, se bem que ainda hoje o costume de lá se dizer "vou ao Porto". Por isso mesmo é que Mouzinho deve estar a dar voltas no túmulo, ao ouvir os berros dos canenses e semelhantes. Não esperava que tanto tempo depois lhe viessem contestar a sua obra, como num estranho regresso ao passado absolutista. Mas talvez o povo português não tenha mudado assim tanto.

segunda-feira, janeiro 03, 2005

Não faço juras, mas parece-me que João Pereira Coutinho andou a ler este blog nos últimos dias (em especial os posts que falavam do Natal, do Ano Novo e do maremoto); leu, e não parece ter apreciado por aí além.


Um novo ano que começa

sábado, janeiro 01, 2005

Fim de ano

Agora que o ano chega ao fim observa-se outra tradição sazonal: a da recapitulação dos acontecimentos ao longo dos doze meses. Não o farei aqui n ´A Ágora por respeito aos leitores, já que escreveria linhas e linhas (mais do que no post anterior) para os relembrar. O que se pode dizer é que foi um ano atribulado, com mudanças políticas abruptas e confusas, euforias e depressões de mão dada, protestos, histerismos e discussões em fim. Tudo inserido num mundo em que o terrorismo é mais do que nunca uma ameaça global, os sistemas políticos e internacionais passam de prazo a olhos vistos, os acordos e tratados sucedem-se perante a desconfiança da opinião pública, e o mundo volta a perceber, neste penoso final de 2004, que a Natureza continua a ter a palavra mais forte.
No meio disto tudo, destacarei apenas os loucos dias do EURO-2004, em que Portugal saíu ás ruas em apoio da sua Selecção e na recepção a todos os alegres estrangeiros que nos "invadiram". Um início de Verão decorado com bandeiras nacionais, ao som de Nelly furtado e das músicas do EURO, regado a cerveja, colorido com as bandeiras da Europa, com as cidades portuguesas como fundo e os novos estádios por palco. Chamaram-lhe boçal, despesista, tudo o que fosse censura serviu denegrir o evento. Aqueles que passam parte do tempo a falar da "depressão" e da "tristeza" dos portugueses viraram baterias para a "euforia" dos lusos. Talvez tivessem razão. Talvez. O que eu sei é que dificilmente se viveu um momento colectivo tão alegre como o EURO, ou em que Portugal e o seu povo tivessem sido tão bem visto no resto da Europa como nesses tempos. Contra todos os denunciantes do "Fado", eles próprios emersos num trágico pessimismo que lhes revela as raízes lusitanas. Muitas saudades teremos (já não temos?) dos bons dias que vivemos durante o EURO-2004.

Ah, e vale a pena lembrar que em 2004 nasceu A Ágora!

Um óptimo 2005 para todos, e que as desventuras do ano que acaba sejam ultrapassadas.