quinta-feira, julho 15, 2004

14 Juillet

Muitos não se lembraram, mas hoje é 14 de Julho. Há exactamente 215 anos caía a Bastilha, e tinha início um movimento que mudaria a Europa e o Mundo.
Apesar da minha posição de regime não coincidir totalmente com as utopias dos revolucionários (ver a razão no subtítulo do blog), é inegável a importância de tal acontecimento. É certo que um enraizado anti-francesismo, assinalável não só nos países anglo-saxónicos mas também noutros pontos, como Portugal, tende a menorizar a Revolução, fazendo sobressair apenas os aspectos mais Jacobinos e sangrentos, ou seja, o Terror. Num post recente,
O Acidental dizia isso mesmo nas entrelinhas, tentando sobrepôr-lhe as Revoluções Americana e Inglesa. Mas comparar a importância de tais movimentos com a da "Revolution" é um exercício impossível de se fazer, a não ser que se usem argumentos falacciosos.
A Glorious Revolution inglesa do séc. XVII teve sem dúvida o mérito de instalar definitivamente o parlamentarismo em Inglaterra; mas colocou também no poder um ditador puritano, Crommwell, que não hesitou em anexar a católica Irlanda e liquidar todos quantos se lhe opunham. Os ingleses apreciaram tanto a sua governação que depois da sua morte reinstalaram a Monarquia, ficando para todo o sempre vacinados contra a república. As suas ideias de parlamentarismo ficaram isoladas na ilha inglesa e não atravessaram o Canal da Mancha.
A Revolução Americana teve mais genuinidade, para além de um real desejo de liberdade não só do ponto de vista da independência nacional mas também de direitos dos cidadãos. A Constituição Americana é um documento notável para a sua época, que em parte resistiu ao tempo. Os seus ideais tiveram inspiração directa no iluminismo europeu, através das relações que homens como Jefferson e Franklin tiveram com os filósofos franceses. Por sua vez, os gauleses que participaram na Guerra da Independêcia Americana reexportaram esses mesmos ideais. O resultado verificou-se alguns anos depois, no dia que hoje se comemora.
A Revolução Francesa mudou um país de forma violenta e meteórica. O tipo de regime que durante séculos vigorara, inquebrantável e omnipotente, caíu com estrondo perante um povo sedento de vingança comandado por uma burguesia ainda mais sedenta de poder. Um cocktail incendiário, que quando acalmou produziu um déspota, Napoleão, que nos seus sonhos de união europeia (bem diferente da actual) acabou por espalhar a semente da Revolução. Nos 40 anos que se seguiram o continente tremeu com as alterações político-sociais que se verificaram - em Portugal com a Revolução Liberal - ou com as novas revoluções que surgiram (particularmente em 1848), e ainda com as alterações geográficas que levaram à criação de novos e poderosos estados, com destaque para a Itália e a Alemanha. A influência revolucionária atravessou os mares e contaminou a América do Sul, com os novos estados que aí surgiram em catadupa.
O legado da Revolução Francesa é extraordinário e de uma força impressionante, pese a violência que produziu. Deu também origem, em parte, à Revolução Russa de 1917 (ando so son...) Os efeitos são hoje bem conhecidos. E foram sem dúvida muito mais influentes e sentidos no mundo que os produzidos pelas revoluções anglo-saxónicas.
Atempadamente farei um post sobre o anti-francesismo.

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