quinta-feira, junho 10, 2004

António Luciano Pacheco de Sousa Franco 1942-2004

Hoje pude dormir até tarde. Estava realmente precisado. Mas o dia não começaria nada bem, infelizmente. A minha mãe, que se encontrava em Matosinhos, onde trabalha, telefonou a dar a notícia que por toda a parte circulava: a morte repentina de Sousa Franco, cabeça de lista do PS ás Europeias de Domingo próximo.
Seguiu-se a incredulidade e consternação da praxe. Na televisão, todos os quadrantes políticos, mesmo os que lhe eram mais hostis. lamentavam a sua morte. Julgo que todos eram mais ou menos sinceros, já que ninguém fica indiferente a um acontecimento abrupto destes. Mas foi impossível não pensar nos acontecimentos dos últimos dias.
Nesta campanha patética e surreal, houve quem mimoseasse o lente de finanças públicas com ataques absolutamente gratuitos e despropositados. Sousa Franco reagiu com algum fervor mas nunca baixando ao nível dos que o insultaram. Propôs mesmo a Deus Pinheiro, que manteve sempre a compostura, um pacto anti-insultos. Só que poucos foram aqueles que o cumpriram. No meio disto tudo, só se ouviu falar verdadeiramente de ideias num debate entre os dois principais candidatos.
Há que recordar ainda que Sousa Franco conseguiu, graças ás suas políticas de covergência, trazer a moeda única, esse mesmo Euro que usamos diariamente, para o nosso país. Ao contrário do que tentaram apregoar, realizou um trabalho de grande valor para pôr as contas do Estado em ordem; com a sua saída, a situação financeira começou a resvalar.
Apesar de cultivar a independência, uma das suas características mais visíveis e que o tinham feito "vagabundear" pelo espectro partidário de centro-esquerda, o PS chamou-o agora para uma missão no Parlamento Europeu. Sousa Franco entregou-se a este objectivo com um vigor e uma alegria que não se lhe conheciam, onde até houve quem o considerasse um bom candidato presidencial. Começava no entanto a denotar sinais de cansaço, como se viu na indispensável visita à lota de Matosinhos, onde estalou o conflito entre as comadres Narciso/Seabra. Pouco depois sucumbia a um ataque de coração; ao que parece, já tinha algumas mazelas cardíacas; o cansaço e a tensão dos úçtimos momentos terão completado a sinistra obra...
É pois um momento de luto para o país; perdeu-se um universitário ilutre, um político com elevação, um homem com frontalidade, humanismo e bonomia. Todos eles contribuíram para que fosse O MELHOR MINISTRO DAS FINANÇAS PORTUGUÊS DA ÚLTIMA DÉCADA. Pela perda enorme, de um político que tanto tinha ainda para dar a Portugal e à Europa, sinto-me realmente amargurado. De onde quer que ele esteja, espero que ouça o imenso obrigado que tantos e tantos portugueses como eu lhe devem.

PS: faço um ligeiro aditamento ao post; primeiro, para lamentar outro desaparecimento, desta vez de Lino de Carvalho, deputado do PCP, a quem, embora esteja politicamente muito afastado, reconheço uma combatividade e convicção notórias pela forma como tomava a palavra em S. Bento; segundo, pelo enorme galo que tive hoje quando almoçei em Matosinhos; inevitavelmente, pensava em Sousa Franco, sucumbido um dia antes na avenida contígua, quando entrou no restaurante onde me encontrava uma das "comadres" das querelas na lota: Narciso Miranda, o eterno cacique socialista; com os acontecimentos do dia anterior ainda frescos, é realmente penoso dar-se de caras com um dos protagonistas daqueles fatídicos momentos. O que só conseguiu turvar ainda mais os meus pensamentos.

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