segunda-feira, março 22, 2004

Depois de tudo o que li na semana que passou sobre os efeitos das eleições em Espanha, sobretudo na blogoesfera, apetecia-me fazer um longo e esclarecedor post. Mas como é tarde e não estou para isso, apenas direi o seguinte:

- a posição de Zapatero é realmente precipitada. É certo que a guerra do Iraque é ilegítima, perigosa e obscura. Mas retirar as tropas estacionadas sem mais não é razoável. Agora que o mal está feito, há que levar a difícil empresa até ao fim. Posso admitir é que o próximo Presidente do Governo espanhol tenha dito isso para justificar uma futura presença da ONU na região.

-pior do que isso só a posição de Mário Soares, quanto a "negociar com os terroristas". É tristemente espantoso verificar como o "Bochechas", hábil animal político por natureza, possa ter proferido uma afirmação dessas em relação a um grupo de assassinos raivosos como é a Al-Qaeda. Ou confundi-la com os movimentos de libertação africanos, cujos objectivos eram até justificáveis. É que pode-se negociar com a UNITA, MPLA ou FRELIMO. Pode-se negociar com as FARC, os Tigres Tâmil ou o IRA. No limite, de estômago agoniado, talvez até com o Hamas e a ETA. Mas nunca, em ocasião alguma, com a Al-Qaeda.
Soluções contra o terrorismo? Já o disse atrás: acabar com as madrassas Wahaabitas, congelar os fundos das organizações terroristas, e, claro, continuar com a vertente armada no Afeganistão/Paquistão. A luta anti-terrorista também passa por aí, quer queiramos quer não. Quanto ao resto, lamento, mas já o disse no post anterior.

Ontem passou um ano que começou a guerra. Nessa altura estava mais próximo do Iraque que de Portugal; mais precisamente na Grécia. Na madrugada em que começaram os bombardeamentos assisti a uma manifestação de iraquianos em frente à embaixada americana em Atenas. De carácter muito pouco religioso, diga-se, antes nacionalista, mas que não era exactamente um agradecimento aos EUA pela "libertação". Durante esses dias, aliás, os helenos também se mostraram muito cépticos quanto ao empreendimento da guerra, governo incluído. As manifestações no dia 21 foram de tal ordem que Atenas ficou completamente em estado de sítio.
Por isso mesmo, aproveitei a oportunidade que os protestos me concederam para dar um salto ao Cabo Sunion (cujas impressões publicarei num post vindouro). Nesse promontório abrupto sobre o azul do Egeu, à sombra das colunas de Poseidon, sob sol helénico, consegui não me lembrar em momento algum do conflito que se começava a travar em terras da Mesopotâmia, a mil e tal kms dali. Como se sentisse toda a inspiração, todo o magnífico ideal que originou a Democracia ateniense. Como seria desejável que Saddams, Osamas ou Sharons sentissem igualmente. Mas pelo menos uma convicção inabalável: há na realidade lugares que tocam e influenciam um ser. Percebe-se como pôde Péricles vir dali. E a Ágora também.


Certos blogs, que à partida pareciam de um humor e qualidade exepcionais, revelam-se amargas desilusões. É o caso paradigmático do Homem-a-dias, que me começa a irritar solenemente. Para além do tom arrogante e até grosseiro que por vezes usa, deu-lhe não só para argumentar que os palestinianos sâo um povo fictício (não hesitando em pôr-lhes aspas para os nomear) como acha inclusivamente que o Paquistão, Marrocos e Jordânia não são sequer países! Embora eu não aprecie grandemente a Indonésia e a Coreia do Norte, não é por isso que lhes deixo de reconhecer efectividade. Tendo em conta que o estado de Israel, que o dilecto blogger tanto aprecia, é mais jovem que dois dos referidos estados, podia já agora negar-lhe a existência, não? Ou tudo isto não passará de um enormíssimo sentimento anti-árabe?

Por outro lado, há blogs que são iguais a si mesmos e que quando acabam deixam infindáveis saudades. Pois é; o Desejo Casar, talvez o meu blog favorito (ex-aqeo com mais dois ou três), despede-se de nós. Não necessariamente os seus autores, mas o espaço em si, portador das melhores páginas que foram escritas "online" em Portugal. A mim deixa-me saudades, não só por isso mas por ter sido aquele que me levou a interessar pelo maravilhoso mundo dos blogs, e a criar o meu próprio. Por isso, e por tantas outras razões inexprimíveis, espero que os seus autores não o apaguem, conservando o pequeno tesouro que é, e que oportunamente dêem o nó, enfim.
Até sempre, DC. A Ágora está-lhes infinitamente grata.

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