sábado, janeiro 24, 2004

Parece que a última moda nesse amontoado de suplementos (dos quais se salva a Única e pouco mais) que dá pelo nome de Expresso é o Iberismo. O seu director, José António Saraiva, "hesita sobre se valerá a pena o país continuar a existir". Um dos entrevistados da semana, José Manuel de Mello, afirma peremptoriamente: "Façamos a Ibéria". Ou seja, tudo conjugado para a mui temida união com as Espanhas.
O Arquitecto Saraiva, por exemplo, argumenta com a "queda do império, a abertura de fronteiras, a perda da moeda nacional e a revolução". Perante este cenário Dantesco qual é a melhor solução? Pois, a União Ibérica, porque "ser português é muito perigoso" (que o digam os iraquianos que lidam com os nossos GNR´s). Além disso, "nenhum país do Mundo em situação semelhante à nossa sofreu abalos tão fortes". A não ser, por exemplo,a Bélgica, que apanhou com tudo isso, embora no lugar da revolução tenha tido uma invasão nazi, que tem menos 700 anos que Portugal e que é um estado instrumental, tampão entre a França e a Holanda, ou então a República Checa, ou tantos outros estados que podiam recorrer a estas "fusões". "Porque", acrescenta o Arquitecto, "Portugal atravessa o pior período da sua história"; com esta declaração fica-se a saber que a crise de 1383-85, a ocupação de 1580-1640 e as Invasões Napoleónicas nunca existiram, e que até agora vivíamos no melhor dos mundos sem o sabermos.
Quanto ao empresário Mello, o senhor que andou a pedir esmolas ao governo para salvar a Lisnave e que acabou por levá-la à bancarrota, considera que a "Europa é um mito, "Cavaco foi expulso do PPD e acabou com os grupos económicos em Portugal," que de resto se deveria "juntar a Espanha porque o nosso futuro é de arrumadores e empregados de mesa". E a culpa "é dos empresários". Resumindo e concluíndo: este senhor não é empresário, ou então a culpa também é dele, Cavaco não passa de um comunista encapotado e quando as coisas não correm tão bem o que há a fazer é juntarmo-nos a Espanha. Um retrato lúcido da situação, não haja dúvida.

Numa democracia cada um é livre de dizer o que quiser, mesmo os maiores disparates. O que não acontecia em 1640, quando por isso mesmo Miguel de Vasconcelos saíu pela janela pelas suas opiniões iberistas. Mas ainda assim acho que os descendentes dos conjurados da época não achariam grande ideia à União Ibérica. O que nos vale é que eles são bastantes. Por isso, se lhes apetecer, o Arq. Saraiva e o ex-empresário Mello podem ir representar o seu papel a Espanha: por certo que terão reservados lugares de arrumadores de carros ou de empregados de mesa, como tanto anseiam.

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