sábado, janeiro 17, 2004


Hoje voltei a Vila Real. Já não ia a Trás-os-Montes desde inícios de Setembro, tempo de vindimas, sol tépido e da quase extinta apanha da maçã ( e que saudades...!). Agora estava um frio seco mas suportável. Gostei de o voltar a sentir.
O mesmo não posso ao reparar nos habituais prédios de cor branca-alaranjada-rosa-verde tropa e azul bébé, umas em cima das outras. Ou de paredes forradas a tijoleira de quarto de banho, varandas redondas ou triangulares, cujo interior se imagina atormentado por manchas de humidade e infiltrações, um forno no Verão e gélido no Inverno. Toda essa paisagem-cogumelo eu já conhecia há uns anos para cá. Mas hoje dei sobretudo atenção à marginal do Corgo
O Corgo (ler-se "ó" e não "Ô") passa ao findo de uma estreita garganta rochosa e divide a parte "antiga" da cidade da mais recente, onde se inclui a UTAD. É talvez uma das mais belas imagens transmontanas, verdadeiro cartão-de-visita de Vila Real... ou talvez fosse noutras eras,uma vez que se tornou objecto de uma montra de atentados urbanísticos sem fim. Passando de carro pelas margens do "canyon", do lado da Vila velha, depara-se com uma autêntica muralha de betão ocre e amarelo, com umas torres em cima das outras, descendo abruptamente as margens do Corgo (que, como se imagina, está incógnito nesta situação). Não só o espectáculo é aberrante pelo que revela e simultaneamente esconde, como tudo aquilo tem um ar de precariedade, de feito em cima do joelho, de ideia que as construções entraram pela estrada dentro, que um ser com um mínimo de gosto pensará obrigatoriamente que todo aquele horror foi feito de propósito. Se não é, parece!
 
Quase no fim da garganta respira-se um pouco; do lado do rio desapareceram as construções, que se transferiram para a parte de lá da estrada, e, ainda que não perfeitos, ao menos com um ar bem mais civilizado e discreto, oferecendo a vista do Corgo aos seus utentes sem contudo a subtrair aos transeuntes.
A qualquer estudioso do moderno urbanismo nacional aconselho-o a dar um pulo até Vila Real; lá, poderá consultar esse verdadeiro manual de horrores que são as prédios aí construídos desde há 20/25 anos para cá: um autêntico exemplo de como estragar uma cidade e uma paisagem natural admirável, ou como resulta o facto dos autarcas se submeterem aos mandos dos construtores civis, ainda que os ameacem com as disposições legais. A quem lá passar, fica dado o aviso.

O Porto e Sporting ganharam folgadamente os respectivos desafios. Só espero que os queridos vizinhos aqui do Bessa sejam simpáticos amanhã quando pisarem a "Catedral", senão o fim-de-semana fica definitivamente estragado.

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