terça-feira, dezembro 28, 2004

A colheita best-of 2004

O Natal já passou, mas nunca me importo de dissertar sobre as prendas mais previsíveis, e que por isso mesmo não surpreenderam ninguém pela sua atribuição. Falo não só dos clássicos e eternos pares de meias, de lenços e chocolates, mas sim de uma categoria discográfica muito vilipendiada pela crítica, mas extremamente apreciada pelo público (com este vosso escriba incluído, claro): os best-of, greatest hits, collections, enfim, as colectâneas musicais.
Alguns houve que já eram esperados mais dia menos dia: o de Robbie Williams, por exemplo, um aguardado sucesso de vendas. Também na teen-pop, Britney Spears não esperou por anos mais "maduros" e vá de lançar a sua primeira compilação, de capa a condizer, com minissaia e look presumivelmente sexy. Mas como não prestei grande atenção a este capítulo, deixo a contagem dos demais best-teen aos entendidos.
Durante o ano surgiram algumas colectâneas de grupos interessantes que passaram despercebidas. A dos Tinderstiks, por exemplo, um grupo tão apreciado em Portugal e que colocou as suas melhores canções num álbum que ostentava na capa, pela centésima vez, um burro. Todavia, como o simpático animal já é presença constante entre a banda de Stuart Staples, é justo que figure no respectivo best of. A aproveitar a boleia do Super-Bock-SuperRock (onde desgraçadamente não estive, como lhes dei conta na altura), os Pixies lançaram também a sua mostrazinha de melhores temas, dando-lhe o nome de um dos deles: Wave of Mutilation. Seria presença confirmada na minha discografia não fosse dar-se o caso de já lá constar o mais velhinho Death to the Pixies, que além do mais traz um cd-bónus de um concerto ao vivo na Holanda, em 1990. A registar ainda outros best-of saídos ou no fim do ano passado ou no princípio deste, como o dos Stone Temple Pilots, ou dos Spain.
Já mais cá para o fim de 2004, ou seja, na altura do costume, próximo do Natal, outras bandas semi-esquecidas revelaram o seu melhor. Caso dos The Verve, que para quem não se lembra andaram meses nos tops e nas rádios com o sublime Urban Hymns (um disco que me raz óptimas recordações), e dos Supergrass, uns ingleses não muito mediáticos mas que conseguem ser histriónicos - e divertidos- q. b.
Quem também não resistiu a editar a colecção foram os profetas do moderno glam-rock, os Placebo. O trio de Brian Molko só leva quatro originais na bagagem, fora um excelente DVD ao vivo, e estava em ampla ascensão para se tornar uma das maiores bandas do Mundo. Esta edição é como que uma interrupção do seu trabalho, mas nunca se sabe se os andróginos rapazes se fartaram uns dos outros, ou se pretendem dar novo rumo à banda. Ou se simplesmente a editora quis ganhar uns trocos a mais no Natal com a edição do CD, o que também não me espantaria. Apesar de tudo, o álbum, que até é duplo, aconselha-se a quem esteja em branco na discografia dos Placebo. Não esquecer They don´t care about us e Slave to the Wage, a minha favorita.
Registo semelhante tiveram os Guano Apes, banda alemã de nu-metal, com uma legião de fãs aqui na Pátria, sem dúvida devido à potência sónica da sua vocalista (coisa que já pude constatar de perto), e que depois de três lançamentos lançaram também o greatest da praxe. Provavelmente a rapariga resolveu enveredar por algo a solo, daí a edição do CD. Mas continuo a achar estranho como é que artistas ainda com repertório tão curto, de que estes Apes são bem o exemplo, possam já falar dos seus Greatest Hits. É que uma banda assim ainda não devia ter chegado a essa idade, deveria falar apenas dos seus Hits, sem espaço para que houvesse Greatest. E o mesmo se aplica aos extintos rock-evangélicos Creed, também eles alvo da homenagem best-of.
Quem amplamente merece essa distinção são os Pearl Jam. A banda de Seattle pode não ser a obra mais genial do rock, mas merece o respeito não só de ser a última resistente do Grunge mas também de se estar a marimbar para as campanhas promocionais e preços dos discos, além de que a voz d Eddie Veder é algo de incomparável. Com Kilos de puro rock, original ou ao vivo, mais melódico ou mais ruidoso, mas sem nunca envergonhar, o seu duplo Rearview Mirror é um testemunho de uma sólida e bem sucedida carreira, a merecer mais do que uma nota de rodapé na história da múscia contemporânea.
Ao que parece, também o diabólico Marilyn Manson e os raivosos Korn editaram as respectivas colectâneas. Não serão propriamente as hipóteses mais católicas para pôr no sapatinho, mas há gostos para tudo. Mais calmas e relaxantes são as propostas de Seal e de outra banda de culto em Portugal, os Lamb, também em estado de desagregação.
O post já vai adiantado, bem como a hora, e à memória já não me chegam mais lançamentos do tipo. Se alguém se lembrar de alguma colectânea portuguesa ( sem ser o disco ao vivo dos Silence 4) deste ano que avise. Até amanhã.

PS: lembrei-me de mais dois greatest-lançamentos deste ano: o dos melancólicos Travis e o dos pseudo-alternativos 10.000 Maniacs. A merecer também a sua pequena audição.

Os dias da catástrofe

Os dias de fim de ano estão decididamente a tornar-se apocalípticos: há um ano houve aquele terrível terramoto no Irão, que destruíu a cidade de Bam e matou dezenas de milhares de pessoas. Agora, a um sismo juntou-se um tsunami de efeitos dantescos, que varreu tanto o sudoeste asiático como parte da costa da África Oriental. Estamos sempre a pensar nos malefícios dos homens, mas a Mãe-Natureza encarrega-se sempre de os desvalorizar um pouco.

sexta-feira, dezembro 24, 2004

Natal em branco

Confesso: cada vez mais o Natal me aborrece. O período mágico da quadra, na infância, varreu-se. Os natais passados em Vila Real (onde era "mais Natal", ou mais autêntico) já lá vão, e duvido mesmo se lá voltarei a comemorá-lo, ao menos nos tempos mais próximos. O que vejo nos dias que correm são pessoas apressadas, filas e filas de trânsito, uma oferta consumista que raia a loucura, os sempiternos anúncios de brinquedos parvos na TV, pais natais por toda a parte. A propósito, gostava de saber porque é que em todos os programinhas natalícios perguntam sempre ás criancinhas "o que é que pediste ao Pai-Natal?". Mas quem é que lhes disse que acreditavam nele? E porque é que lhes têm de impingir à força a existência do ancião de vermelho? E já agora, porque é que não perguntam antes aos miúdos se sabem porque é que há Natal?
Eis a questão principal, afastada das bocas do mundo. A razão do Natal, o nascimento de Jesus, é o mais invisível traço alusivo à quadra, excepto nalguns presépios artísticos, ou na Missa do Galo. Fora disso, a recordação do nascimento de Cristo passa quase despercebida, face à torrente de "Péres-Noëls", grinaldas, embrulhos e pinheiros (de que até gosto muito) que por toda a parte pululam. Para uma pessoa que, como eu, jamais na sua infância acreditou no Pai Natal mas sim no Menino Jesus - coisa que me causava certa confusão, como a dificuldade do Menino andar por aí a comprar prendas- é uma ideia penosa. A sensação é a de que o Natal materialista usurpou o sentido espiritual da época, inspirado por Cristo.
É claro que há aspectos mais comezinhos, como o de não gostar de um único prato ou doce de Natal, ou de não o ter vivido com neve, como seria desejável. A neve, seja em horizontes a perder de vista, seja numa grande cidade, nunca deixou de me encantar e de me dar uma enorme sensação de paz. Infelizmente, os ares do Atlântico afastam-na daqui. O espírito de
Natal está vivo? Talvez, para os mais novos. Para os outros, creio que se lhes varreu no fundo da alma, apesar de externamente demonstrarem o contrário. A não ser que a inspiração de Cristo o tenha mantido. Para mim, o Natal ficou perdido algures em Trás-os-Montes.
De qualquer modo, um Santo e Feliz Natal para todos, na medida do possível.

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Edificante...

... a troca de piropos entre Alberto João Jardim e Pinto da Costa. O ditador da Madeira, habitual participante de corsos carnavalescos, e conhecida sanguessuga dos fundos do Estado, em alegre recepção ao tiranozinho do FCP, amigo de tudo quanto é cacique regional e igualmente uma sanguessuga, mas da Câmara Municipal do Porto. Perante semelhante parelha não resta muito a dizer.

domingo, dezembro 19, 2004

The kids arent ´t alright (in the church)

Se há coisa que me irrita profundamente são as criancinhas aos berros na missa. Por mais que se tente escutar cristãmente a homilia - coisa que já de si nem sempre é assim tão fácil - a creche que nos cerca encarrega-se de nos tirar a pouca atenção. Ele é berros, choros, corridas pelas coxias, saltos para cima do banco, perguntas indiscretas a meio da consagração, e tudo isto sob o olhar aparentemente complacente dos paizinhos, que se limitam a um pobre sinal para se calarem. Ah, as vezes que me dá de lhes aplicar um valente tabefe...
Bem sei que Cristo disse "Deixai vir as minhas as criancinhas, pois é delas o Reino dos Céus". O que se passa é que o Salvador com certeza não teve de aturar tamanhos "terroristas" de palmo e meio; caso contrário, pedir-lhes-ia encarecidamente que não viessem, ou dir-lhes-ia que nos Céus se tinham de comportar. Se não O ouvissem, quem as aturasse, dada a santa paciência, teria garantido, sem a menor margem para dúvidas, o Seu Reino,

sexta-feira, dezembro 17, 2004

O sétimo céu basco

Peço desculpa pela futebolização momentânea dos posts, mas não posso deixar de referir este estrondoso resultado da Taça UEFA : o Athletic Bilbao, mítico clube basco, esmagou esta noite o Standart de Liége (cujo manager é o nosso saudoso Preud ´Homme), no terreno deste, por 7-1! com este triunfo, os jogadores euskadi conseguiram o primeiro lugar do seu grupo, e atiraram o Liége para fora da competição.
Perguntar-me-ão: mas o que vem aqui fazer o Bilbao a esta hora da noite? Responderei que o Athletic é um dos clubes estrangeiros que mais aprecio, que o facto de lá só jogarem jogadores bascos lembra-me o Benfica apenas com portugueses, que tal como o clube da Luz já voou mais alto, e que é um símbolo da cultura basca. Mas há uma outra razão, mais materialista: é o único clube do qual eu tenho uma camisola (na realidade, uma t-shirt não oficial com os símbolos e os campeonatos conquistados), adquirida numa pequena loja nas imediações do Estádio de San Mamés, verdadeira catedral do futebol basco, onde Guerreros, Exteberrias e Urzaizs são usualmente aclamados pelos seus indfectíveis adeptos. Sim, é verdade, não tenho nenhuma camisola do SLB, nem dos caríssimos vizinhos do Bessa, nem do Sport Clube Vila Real, ao qual antepassados meus presidiram - algo relutantemente. A única que possuo e que amiudadas vezes utilizo na prática desportiva ou no Verão é mesmo essa t-shirt basca com os dizeres Za zura nagusia. Não me lembro textualmente do seu significado mas quer dizer algo como um incitamento à glória, como a que tiveram esta noite, nos frios relvados da Valónia.

quinta-feira, dezembro 16, 2004

Esclarecimentos da bola

Alguém se admirou com a goleada que o SLB sofreu em Belém? eu não. Não tanto porque a equipa está desmoralizada, ou porque não tem qualidade, mas tão somente porque tinha toda a defesa principal lesionada, sem contar com as ausências de Nuno Gomes e Manuel Fernandes, e com os regressos de um Petit e de um Carlitos ainda sem ritmo. Claro que desatou tudo a caír sobre nós, inclusivé os próprios adeptos. Mas o que eu pergunto é: qual era a equipa portuguesa que, nas mesmas condições, com tão grande vaga de lesões, não sofreria um resultado idêntico?Resposta: nenhuma. E daqui a dias, com o Penafiel, há que temer novo desaire. É que a questão não tem a ver sequer com a qualidade de quem joga, mas com a quantidade. Ao que parece, não há jogadores em número suficiente para formar o meio-campo. Assim, se não perdermos podemos sempre ter esperança. Se perdermos, adeus temporada 2004-2005.

PS: no artigo futebolístico de Sousa Tavares desta semana pode-se ver como certas pessoas por vezes deliram quando falam de futebol. A habitual história do "nós contra todos", o achar que a detenção de Pinto da Costa é puro "show-off", que é tudo uma cabala para fazer o Porto ruír, "calúnias, difamações, falsificações históricas grosseiras", e que o "Porto é mais do que um homem" (mas não é ele o "Papa"?) é uma lengalenga a que já nos habituámos. O que eu não sabia é que o Poto tinha levado de vencida tantos clubes como "Real Madrid, Arsenal, Barcelona, Juventus," etc, e pasme-se, Valência e Milan! Alguém podia dizer-lhe que o Porto perdeu as Supertaças com estes últimos clubes? Agradecia-se o favor, embora não deva ser fácil.
Ah, e para que dúvidas fiquem esclarecidas, o Porto ganhou a Intercontinental (mau seria, contra o Once Caldas), mas isso não faz dele o "Campeão do Mundo". Para já porque não existem outros continentes à disputa, e depois porque o único verdadeiro Campeão do Mundo de clubes é o Corinthians de S. Paulo

quinta-feira, dezembro 09, 2004

Há um ano

Observei há pouco o Papa na televisão, rezando missa pela dia da Imaculada Conceição. Lembrei-me que o vi precisamente há um ano, quando ele se dirigia para essa mesma celebração em Roma, na Piazza di Spagna (o mais bonito local daquela cidade!), e passou à minha frente, na apinhada Via Condotti. Pude enfim mirá-lo num momento repentino, por entre a alegre multidão que o saudava, antes do papamóvel parar para os costumeiros cumprimentos a crianças, em que se divisava uma manga branca acenando. O público, que incluía o "sindaco" Weltroni, não arredava pé nem olhares. O fim daquela luminosa tarde estava frio, mas os estados de espírito estavam sem dúvida calorosos.

Ainda o Apito


Como pensei, Miguel Sousa Tavares não resistiu a cravar a sua farpazinha no processo "Apito Dourado", alegando que quando estudou Processo Penal "Portugal era ainda um Estado de Direito". Ora eu estudei-o mais recentemente e, apesar dos atrasos, conclusões pouco práticas e contradições que o Direito Processual Penal possa trazer em certos casos, o certo é que se continua a reger pelo método acusatório, básico em qualquer democracia avançada, o que esbate essa dúvida sobre se há ou não um "Estado de Direito". Terá razão nos casos em que se refere que alguns detidos que foram chamados a depôr, caso de Valentim Loureiro, ficaram mais tempo em interrogatório do que aquilo que a Lei permite. Certo. Havia motivo para que se anulasse os tais interrogatórios. Mas o mesmo não aconteceu com o objecto da sua apologia, Pinto da Costa, que se apresentou quando quis, saindo em liberdade sob caução. Assim, não vejo porque é que os casos serão extrapoláveis. Apenas penso que Sousa Tavares está obviamente enervado com o processo e atira-se a ele. Não é o único.
Como já disse dois posts abaixo, produziram-se algumas estranhas reacções à detenção do presidente portista, como aquelas em que alguns adeptos mais exaltados vociferaram que "era o resultado da conversa do Benfica com o ministro" (que por sinal já se tinha demitido), ou "é tudo boatos". Convém notar que situações destas são normais no nosso país. O que se passa é que são sentimentos que desta vez se camuflam com a camisola portista. Mas já os vimos antes: com Fátima Felgueiras, com Carlos Cruz no actual processo Casa Pia, com Vale e Azevedo e a sua meia dúzia de indefectíveis, e, num plano diferente, com casos como o de Canas de Senhorim. o que se passa é que, como sempre, certas pessoas bradam contra "os poderosos". Mas quando se trata dos seus "poderosos", é um "Ai Jesus" que tolera qualquer impunidade. Sim, é um sentimento genuína e abundantemente português, este que presenciamos à porta do Tribunal de Gondomar ou do Estádio do Dragão.

quarta-feira, dezembro 08, 2004

Parabéns, Soares

...por oitenta anos de luta pela Democracia. Apesar de ser laico, republicano e socialista, este blog católico, monárquico e preferencialmente social-democrata dá-lhe os parabéns. Por muito que isso irrite a esquerda radical e comunista ou a direita saudosista do 24 de Abril, a instalação da Democracia em portugal e entrada na CEE em 86 devem-se a este homem, sempre interventivo e não raras vezes cáustico. Que conte muitos mais, Dr. Soares.

terça-feira, dezembro 07, 2004

O apito em marcha

A propósito do post de ontem: as bocas do mundo andam agora com um amigo de Luís Filipe Menezes, também conhecido como Presidente (Papa, para os indefectíveis) do FCP. Aquilo que se dizia baixo durante anos aparece escarrapachado nos jornais. Sórdidas histórias envolvendo árbitros, empresários, mulheres de "vida fácil" e o diabo a quatro. Sinais de que pode vir aí uma barrela ao futebol português. Era de esperar que um dia acontecesse: em relação a Espanha e Itália já estamos atrasados vinte anos.
Quanto aos adeptos do FCPorto, é natural que estejam nervosos e queiram demonstrar solidariedade com o seu presidente no pior momento. O que não podem alguns exacerbados dizer é que é tudo uma "Cavala", ou que "é só para desviar as atenções de outras coisas piores", ou ainda, e este é o argumento mais grotesco, "se ele está há mais de vinte anos no futebol, como é que só agora vêm investigá-lo?" Alguém devia responder ao atónito comentador que quanto mais tempo se está ligado ao dirigismo futebolístico maiores são as probabilidades de se dar passos em falso. De qualquer forma, os nervos instalam-se -alguns sustentados por aquele bando de simpáticos rapazes conhecidos como Super Dragões, que aliás formaram guarda ao tribunal de Gondomar para que o "Papa" (Cruz, Credo!) entrasse. Fico à espera para ver o que escreve Miguel Sousa Tavares amanhã.
Mas já que se quer fazer uma limpeza a fundo, que se faça a tudo. Sejam quais forem os clubes. Para que as dúvidas se dissipem.

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Campeão da incoerência

O incoerente-mor da política portuguesa voltou a atacar. Luís Filipe Menezes, o autarca de Gaia que é "do Sporting pelo coração e do Porto pela razão" (percebe-se a ideia), ainda há três semanas tinha afirmado que não se voltaria a candidatar pelo concelho da margem Sul, com um vocabulário estilo "Mourinho", que envolvia termos como "Porto" e "Chelsea". Agora, como se previa, Menezes deu o dito por não dito e disse estar disponível para encabeçar nova candidatura à mesmíssima Gaia. Fê-lo, aliás, com um abraço ao seu adversário de sempre, ao seu ódio de estimação, Rui Rio, que, se fôr homem prudente, certamente estará à espera de ouvir cobras e lagartos de Menezes num futuro não muito longínquo.
Mas talvez nem tenha sido este o seu cúmulo da incoerência. Quem não se lembra das suas palavras, naquela noite autárquica de Dezembro de 2001, em que bramia que "se Guterres tivesse um pingo de vergonha pediria de imediato a demissão" (horas antes do mesmo Guterres fazer exactamente o que Menezes lhe exigia)? Pois bem, o sr. presidente da Câmara de Gaia deve ter mudado completamente de ideias. É que há uns tempos veio com a surpreendente afirmação de que "o eng. Guterres fugiu do governo e das suas responsabilidades". Ou Menezes acha que fugir ás responsabilidades é ter vergonha na cara ou então diz descaradamente o que mais lhe convém no momento. Parece-me que, pelos antecedentes, será esta a hipótese mais plausível. Não haja dúvidas, o edil da margem Sul é um autêntico campeão da incoerência.
Breve sumário da "queda do poder no regaço".

No Eixo do Mal de ontem mencionou-se de novo que "o poder caiu no regaço de x". A expressão não é nova na vida política portuguesa, mas é sistematicamente restaurada quando a cadeira do executivo muda de mãos. Diz-se isso a propósito de Santana e Guterres, mas a realidade, para os mais rigorosos, é bem diferente.
Pode-se dizer que, até 1985, a tal "queda" não tinha ainda feito a sua aparição - embora estivesse próxima disso, no Verão Quente, perante a ameaça da esquerda mais radical tomar o poder. O PS soarista (tanto o de 76 como o do Bloco Central) e a AD alcançaram o poder por si mesmos, e não por força das conjunturas. Mas em 85 o poder voa pela primeira vez. Com o Bloco Central no poço da impopularidade (de forma injusta e ingrata, reconheçamos), golpeando de forma mais dura o PS, e aproveitando a ascensão fugaz de um meteórico PRD, o PSD de Cavaco Silva lá conseguiu a sua primeira maioria, de menos de 30%, que lhe permitiu governar por dois anos, até o PRD e o PS cometerem a imprudência de votar uma moção de censura. As posteriores maiorias são já de total responsabilidade de Cavaco himself.
Dez anos mais tarde, com a chegada de Guterres ao poder, Marcelo Rebelo de Sousa diria que o mesmo lhe tinha caído no regaço por acaso. Nada mais precipitado: Guterres teve total merecimento na ascensão ao governo, pela forma como decorreu a sua campanha e como derrotou Fernando Nogueira, apenas com a ressalva do PSD estar naturalmente desgastado por 16 anos no poder.
Este voltou a cair no regaço de alguém, sim, de nome Durão Barroso, que tinha-se aguentado periclitantemente à frente do partido laranja, com as ameaças de Santana e Marques Mendes, mas que quando chegou a hora atingiu a maioria graças mais ao estertor do Guterrismo e à inabilidade de Ferro Rodrigues do que aos seus trunfos pessoais. Cumpriu-se assim a sua máxima "serei Primeiro-Ministro, só não sei em que dia". Algo em que poucos acreditavam.
Como hoje se sabe, Barroso deixou-se tentar por um cargo de inegável prestígio internacional - apesar de ser uma segunda escolha para o lugar - e impôs Santana Lopes no seu posto. O Partido, servilmente, acedeu, o Presidente concordou, e o autarca de Lisboa chegou assim ao cargo que nem os mais ferrenhos santanistas lhe vaticinavam: a chefia do Governo. Se algum exemplo de "queda no regaço" haveria a apresentar, ele aqui está, em todo o seu esplendor. A sorte saiu de forma avassaladora a Santana Lopes. Não procurou jamais este poder: ele encarregou-se de o encontrar.
Caído o desastrado (oso) executivo, com fim anunciado para Fevereiro, ainda que possa ser continuado, os ventos de mudança parecem agora acompanhar José Sócrates, o recentemente empossado líder do PS. Este certamente não esperaria ir a votos tão cedo, o que o vai obrigar a despachar a estratégia de combate e as anunciadas "Novas Fronteiras"- o regresso dos Estados Gerais, agora sob a mão hábil de Vitorino. Se, como se prevê, venha a ganhar as próximas Legislativas, poder-se-á dizer um pouco que também no regaço de Sócrates cairá o poder. Caber-lhe-á provar que o merece, e para isso pede-se-lhe que se deixe de evasivas e diga o que realmente pensa. É que para políticos a quem o poder inesperadamente aterra nas cabeças sem que tenham o menor mérito, já nos bastou Santana.

quinta-feira, dezembro 02, 2004

1 de Dezembro

Para todos os que não se lembram do autêntico dia da Liberdade.

PS: Alvíssaras! A RTP lembrou-se enfim que hoje era feriado. Nos últimos anos, a informação da TV pública parecia não se recordar de mais nada para dizer excepto que era o Dia Mundial Contra a SIDA (homenagem respeitável, apesar de tudo), e mostrar sempre uns generosos minutos da Gala dos Travestis, coordenada por Carlos Castro (isto sim, intolerável, se tivermos em conta que não dedicavam uns míseros segundos sequer para lembrar aos telespectadores porque é que era feriado).
O culpado

Inesperadamente, desafiaram-me ontem a ver a apresentação do DVD do Gato Fedorento, na FNAC de Stª Catarina. Depois de uma corrida por baixo de uma cortina de chuva, tive de aguentar longo tempo no calor próprio do recinto, entre a abafação reinante. O pior de tudo é que, por supostas razões técnicas, não houve lugar à projecção de "sketches" do DVD, pelo que a sessão se resumiu a um discurso de ocasião e à parte de perguntas e respostas, sempre temperada com o bom humor dos rapazes (com a ausência do Zé Diogo Quintela). A dada altura, do meio da turba, não resisti a perguntar se o blog do Gato - que no fim de contas deu início a este enorme sucesso mediático- tinha realmente acabado ou não. Resposta de Ricardo Araújo Pereira: que não, não tinha acabado, mas também não podia continuar, porque agora andavam muito ocupados com sessões como aquela, com motes de chatos como aqueles, e portanto a culpa da paragem do blog (e rematou-o com largo brado) "É TUA, MEU MENINO!"
E pronto. fiquei pois esclarecido. A culpa do blog dos Gatos estar vegetativo deve-se única e exclusivamente a mim. Aceito mails e comentários de indignação. Repreensões. Chibatadas com cinto ou pau de marmeleiro. Arremesso do DVD à cara. Só peço é que tão cedo não me ponham em novo compartimento Fnaciano tão abrasador como o de ontem.

terça-feira, novembro 30, 2004

Poesia na biblioteca

A apresentação das escolhas poéticas de Mário Soares, Freitas do Amaral, Miguel Veiga e Urbano Tavares Rodrigues (este ausente, quem sabe se para Almada), patrocinadas pelo Público, decorreu (na Biblioteca Almeida Garrett) num ambiente sem grandes multidões a acotovelar-se, ou jornalistas de microfone em riste procurando a última opinião política dos intervinientes. Não. Houve os discursos da praxe, uma peroração necessária, a declamação de alguns poemas por Alberto Serra e a costumeira sessão de autógrafos. Soares mais humorísitico, Veiga mais autêntico, Freitas mais emocionado (talvez a minha intervenção peferida), revelaram-nos as suas mais queridas recordações poéticas. Algumas eram belíssimas, mas causa-me estranheza que certas pessoas, mesmo antes de as ouvir, já se manifestem horrorizadas por apenas pertencerem áquelas personagens. Que as odeiem deliberadamente, é lá com eles, mas deixem a sensibilidade dos outros em paz.

segunda-feira, novembro 29, 2004

O governo, depois da saída de Henrique Chaves - e sobretudo, pelas razões apresentadas - podia tentar controlar o défice recorrendo a apostas; vai ou não durar até ao Natal? É até um favor que fazia aos portugueses: melhorava as receitas e ia gozar uma merecida reforma.
Lokomotiv

Ainda falando de futebol, o Sporting goleou o outrora temerário Dínamo de Tbilissi. O clube, representante do deprimido futebol georgiano, ostenta um nome muito comum em equipas do antigo bloco do leste, nas quais que avultam o já falado Zagreb ou o de Kiev, que continua a impôr respeito por essa Europa fora (agora também com o motivo acrescido do impasse eleitoral ucraniano), ou ainda os Minsk, Moscovo e Bucareste. Em termos de nomenclaturas pós-queda do muro temos também a categoria dos "Estrelas" - mais popularizada nas suas versões jugoslava ("Zvezda", aliada a "Crvena") e romena (Steaua); a dos CSKAs (Moscovo e Sófia), em tom marcial; os mais mecânicos Torpedos, Rotors, o estratosférico Zenit, o siderúrgico "Mettalurgs" ou os pretensiosos Sparta/Spartak. Mas a minha favorita é a classe dos "Lokomotiv". É uma designação poderosa, que nos lembra possantes máquinas rolando orgulhosamente sobre carris moldados no aço forjado do socialismo. Seria talvez esta a imagem que quereriam imprimir ao descuidado adversário, para além, claro, do mero facto destes clubes estarem sempre ligados ás respectivas instituições ferroviárias nacionais. O certo é que a denominação sugere mesmo o poder do vapor e lenha sobre carris - pelo menos a mim.
Lokomotivs há-os de várias proveniências: Moscovo, Plovdiv, Vitebsk, na Bielorrússia, e Tbilissi, cujo estádio é aquele mesmo onde os nossos "Lagartos" obtiveram a retumbante vitória. Tendo já tido momentos de glória, é justo que se diga que os tempos não correm de feição para as já enferrujadas máquinas futebolísticas. A exepção é exactamente o de Moscovo. À sombra das glórias dos seus vizinhos durante o período soviético, o Lokomotiv Moskva está hoje bem oleado, com um título russo conquistado há uma semana e sendo presença regular na Liga dos Campeões. É pois o único representante da classe dos "Lokos", chamemos-lhes assim, que continua a dar cartas por essa Europa - e essas estepes- fora. Quanto aos outros, resta-lhes, pelo menos por ora, manter as suas recordações do período rubro de setenta anos e sonhar com melhores dias, em que enfim os carris se libertarão das ervas ruins que os escondem e as máquinas de aço flamejante voltarão a cruzar as pradarias e os estádios, fazendo ouvir o som dos estridentes apitos e dos seus enrouquecidos adeptos.

sábado, novembro 27, 2004

Goleados na falésia

Tal como o Sporting (e talvez o Porto), o SLB quase garantiu a passagem à fase de eliminatórias da UEFA. Fê-lo sem grandes sustos perante o histórico Dínamo de Zagreb, velha glória da Croácia, mas que aparenta estar longe dos melhores dias. A prova é que tinha acabado de realizar uma "chicotada psicológica" depois de uma copiosa derrota diante do Rijeka, num estádio que, segundo a imprensa desportiva, "se assemelhava ao de Braga". Por causa ficar rodeado de uma superfície rochosa.
Contudo, o tal recinto desportivo fica, em espaço físico, comodidade e beleza, anos-luz atrás do recinto bracarense. O mesmo não se poderá dizer da zona envolvente, em que avulta o azul do Adriático, que mete no bolso qualquer subúrbio da cidade dos Arcebispos. Nem os estádios do Restelo ou Barreiros têm hipóteses. Admire-se, pois.

PS: o sr. Pinto da Costa na semana passada tinha pronunciado a eloquente frase "quem se queixa das arbitragens é porque pretende esconder alguma coisa". Depois da derrota do seu clube frente ao Boavista, o senhor queixou-se das mesmas arbitragens, mas não explicou o que é que escondia (talvez um maço de cigarros para fumar subrepticiamente em recinto público). À partida para Moscovo, e a propósito da visita do Benfica ao Ministro Henrique Chaves, afirmou (ironicamente, dizem alguns) que "iria fazer queixa a Vladimir Putin pelas últimas arbitragens". Só que se esqueceu que o presidente russo encontrava-se não na gelada Moscóvia mas sim na sua tão odiada Lisboa. As piadinhas de Pinto da Costa já não têm a eficácia que tinham antes.
O táxi, o seu líder e as gravatas dele

Vai longa a discussão sobre o artigo de Pedro Mexia no DN, visando o PP (os partido e o seu mentor). A resposta que deu no Fora do Mundo à crítica do Acidental pôs muitos pontos nos is. As consequentes contra-respostas no referido blog deixaram-me algo elucidado. Luciano Amaral deu talvez a melhor delas todas, embora não concorde com parte da crítica que faz a Mexia. José Bourbon Ribeiro esmiúça umas defesas, mais ou menos formais, que acabam por ser mais superficiais do que a superficialidade que diz ser a substância do artigo de Pedro Mexia, acabando por se tornar num óbvio alvo do mesmo (sim, creio que era exactamente a pessoas destas a que o artigo se referia).
Vasco Rato dá igualmente uma resposta em que mostra que não entendeu (ou finge não enentender) o que é o verdadeiro PP actual: um reflexo político do seu líder, um grupo sustentado unicamente por Portas, que sem ele se esboroará inevitavelmente, a não ser que mude radicalmente de figurino...como Mexia prevê, e como refere que a cada novo ciclo aconteceu, para que o partido subsistisse. Raramente um partido se identificou tanto com o seu líder em Portugal - tirando Eanes e o seu PRD. Nunca uma sigla teve tanta razão de ser. Mas deste texto retive outra certeza: politicamente, não há nada que eu tenha em comum com Rato. Aquilo que lhe desgrada no PP (ou seja, a "perspectiva cristã" e a "agenda social") é precisamente o que mais aprecio no partido. Confirma-se assim que Rato é o autêntico "neo-con" lusitano.
E já que se fala no Acidental, aproveito para (mais uma vez) recomendar o post de Rodrigo Moita de Deus, intitulado "Uma pequena teimosia". decididamente, começa-se a tornar num hábito.

PS: até gosto dos fatos de Portas e restantes colaboradores. Que não seja nisso que concordo com Mexia.

quarta-feira, novembro 24, 2004

"Alhadas" no asfalto

Julgava que semelhantes situações só sucediam no cinema. Mas este fim-de-semana pude enfim descobrir que também é possível na vida real. Sobretudo quando o contador vermelho da gasolina está avariado, fazendo crer que ainda não se chegou à reserva. Assim, vi-me (não sozinho, ao menos) parado na berma de uma auto-estrada que nem conhecia, com uma placa indicando o nome da terra onde nos encontrávamos, que, para cúmulo, era um precioso indicador da situação : Alhadas. Mas pude ao menos satisfazer um desejo de infância, ou seja, experimentar um daqueles telefones SOS que comunicam directamente com a BRISA, para dali pedir socorro - e combustível. O que eu não sabia é que o pedido se fazia pressionando um simples botão e esperando a voz metálica da central; sempre pensei que fosse um telefone a sério, com uma despachada telefonista do outro lado. Enfim, sonhos de meninice desfeitos pela dura realidade dos meios de comunicação.
Basta dizer que uma vez atestado o veículo, o nosso destino surgiu à vista duas curvas depois. Ao menos os meus queridos vizinhos axadrezados encarregaram-se de me repôr a boa disposição.

sexta-feira, novembro 19, 2004

O insulto na blogoesfera

A blogoesfera está na realidade a passar por uma fase demasiado insultuosa para o meu gosto, ou de qualquer ser que se preze. Um dos exemplos mais visíveis é de alguns posts mais infelizes do Acidental, que parece atravessar um período mais quezilento e agressivo, o que infelizmente tolda o espírito e retira qualidade a muitos textos que seriam um bom motivo para uma discussão mais séria. Refira-se que quase todos esses posts têm como alvo o Barnabé (a propósito, de que falaria Paulo Pinto de Mascarenhas quando se referiu à "esquerda do acho extraordinário"), numa troca de tiros infantil e maçadora. apropósito, há que dar os parabéns pelo milhão de visitantes do citado blog de esquerda. Pena é que nas suas caixas de comentários continuem a surgir criaturas que, a coberto do anonimato, insultam da pior forma, e sem exprimir qualquer argumento, quem quer que seja que os contrarie. Eu próprio fui aí alvo das injúrias de um qualquer garoto suburbano a coberto de um pseudónimo supostamente nacionalista.
Mas a propósito desta questão dos insultos blogoesféricos (e creio mesmo que por causa de alguns dos casos atrás mencionados) Pedro Mexia escreve um magnífico texto, próprio da referência dos blogs que é, dissecando a questão, dando exemplos e deixando a sua marca moral, camuflada por um ligeiro tom blasé. Um post que devia ser obrigatório para todos os que blogam ou escrevem nas caixas de comentários, sob pena de se ficar sem acesso à net durante seis meses.

Adenda: não se pense que O Acidental está totalmente em pé de guerra; recorda também "coisas boas", como o demonstra o Rodrigo Moita de Deus.

quinta-feira, novembro 18, 2004

Ler as Cartas

Sobre os posts que escrevi acerca do anti-francesismo (um pouco abaixo) leia-se o que Bruno Cardoso Reis, do Cartas de Londres, pensa sobre o mesmo fenómeno (exepto que o nome que dá aqui é o de "francofobia", o que no caso também se adequa). E também a resposta e contra-respostas que dá a Diogo Belford Henriques a propósito da intervenção na Costa do Marfim, entre outras.

quarta-feira, novembro 17, 2004

Responsável: Pinto da Costa

No concurso Quem quer ser Milionário surgiu a pergunta "quem é o actual treinador espanhol do FC Porto"? A concorrente protamente deu a resposta, considerada como certa; não me espantou em demasia, já que as outras hipóteses eram Lili Caneças, Vítor Melícias e outra qualquer figura que não me vem à memória. Só que a resposta dada foi "Luis Fernandez", que como se sabe é um técnico francês, e com quem Pinto da costa confundiu o espanhol Victor, aquando da apresentação deste último. E fica assim resolvido mais um mistério televisivo: o responsável pelas questões do programa do horário nobre da RTP-1 é afinal de contas o presidente portista. Não haverá aqui um problema de incompatibilidades? Ou será que os tentáculos do "Sistema" já atingiram a RTP?

Ps: enfim um artigo de Miguel Sousa Tavares na Bola com o qual concordo em quase tudo.

terça-feira, novembro 16, 2004

Mais pactuantes com o terrorismo

O Irão vai suspender o seu programa de enriquecimento de urânio a partir do próximo dia 22 de Novembro. A Agência Internacional de Energia Atómica recebeu ontem uma notificação oficial de Teerão a confirmar que renuncia a esta técnica, vital para a construção de armas nucleares.

A Alemanha, a França e o Reino Unido tinham negociado há duas semanas com o irão um pacote de incentivos económicos e tecnológicos em troca da suspensão total do enriquecimento do urânio.

E pronto. Os suspeitos do costume a negociar com um elemento do Eixo do Mal. Deviam saber que estas coisas se resolvem com uma boa invasão, jamais com negociações. E nem ao menos tiveram a gentileza de falar primeiro como Presidente Bush!
51º Estado?

Descobri agora que o Valete Fratres! cessou a sua actividade. Devo confessar que o seu fim não me dá especial emoção. O blog auto-intitulava-se "neoliberal" (lá para o fim substituiu essa designação por "defensor da economia de mercado", mas o que fica na memória é mesmo o primeiro nome) e era um claro entusiasta do Sr. W. Bush. Houve também situações que não primaram pela elegância, como quando se referia aos "blogs comunas" sem usar os respectivos links. Era além disso um fervoroso católico, mas de um catolicismo em que não me revejo muito, mais fundado no Catecismo do que nos Evangelhos, no que se baseou, por exemplo, para defender a pena de morte e a "guerra preventiva" contra o Iraque (embora fossem duas matérias que o Compêndio da Doutrina Social da Igreja claramente condenava).
Tudo questões de opção ideológica ou doutrinária (excepto talvez a dos "blogs comunas") que apenas diziam respeito ao autor, embora as constantes copy paste de textos de referência - geralmente em inglês- do Valete o transformassem numa leitura um pouco para o entediante, o que me fez duvidar das suas capacidades de escrita em português (pronto, era apenas uma piada mázinha).
Mas no seu post final, e na frase que definitivamente encerra o blog, o autor (de seu nome João Noronha, se não me engano) deixa um desejo de que "talvez um dia a UE se converta no 51º estado federado...se eles (os americanos) nos aceitarem..."
Arrisco dizer que por trás desta ironia gulosa está um real desejo de se juntar de armas e bagagens aos States, sobretudo agora que George W. Bush ganhou o direito a mais quatro anos de
presidência. Não é o único: outros há que defendem um rumo na esteira das acções da actual Administração norte-americana, embora não exactamente a sua "junção". Mas parece-me que com o "cisma" de valores que tem dividido as duas grandes potências ocidentais, o sonho do "51º estado" é uma hipótese menos que remota. Lamento, meu caro Valete, mas a adopção da pena de morte, das Patriot Acts e do corte de todo e qualquer subsídio estatal não parece ser o futuro da UE. Mas descanse, que ao menos não teremos toda aquela profusão de Igrejas Evangélicas a dizer-nos em quem votar.

segunda-feira, novembro 15, 2004

La fausse colonisation

Noto que, no seguimento do meu último post, as suspeitas que lá descrevi se confirmaram, embora por razões diversas. Diogo Belford Henriques considera que "a França acaba de conquistar uma nova colónia (Costa do Marfim) e um novo protectorado (Palestina)". Querendo a todo o custo justificá-lo, este senhor vem corroborar porque, segundo ele, há palestinianos que dizem coisas como "Os Estados Unidos controlam Israel, mas por Chirac tenho muito respeito".
Ficamos todos a saber que respeito agora significa submissão. Que o facto se agradecer algo a determinado país faz com que imediatamente se seja transformado na subserviente condição de "protectorado" desse mesmo país. Se assim é, Israel há muito deve ser protectorado dos EUA, até pelas reacções contra "a Europa anti-semita", ou a atitude de justificação dos States quando o Estado Hebraico "combate o terrorismo" (isto é, quando invade campos de refugiados, destrói edifícios lançando famílias na rua, etc), e a forma como bloqueia resoluções no conselho de Segurança da ONU quando se trata condenações ao referido estado.
Mas e o que dizer da "nova colónia" francesa? Apenas isto: que para tentar travar, ou ao menos minimizar uma guerra civil que tende a contaminar os próprios vizinhos da Costa do Marfim, estabeleceu-se uma força de manutenção da paz para aquele território, composta maioritariamente por forças francesas, cuja destruição de parte da força aérea governamental deu origem aos motins que se observam. Esclareça-se desde já que tal força assenta, como é óbvio, nas Resoluções 1464, 1498, 1514, 1527 e 1528 do Conselho de Segurança (procurar aqui), aprovadas pelo CS, e não em supostas missões mesiânicas, nem tanpouco para derrubar o regime vigente. a mesma ONU que, não sendo nem tendo pretensões a ser perfeita, é o único resquício de ordem mundial existente, com regras aceites pelos seus integrantes.
Curioso é que o mesmo blogger que fala nesta suposta "colonização" é um apoiante da guerra contra o Iraque, que como se sabe se baseou num misto de mentiras sobre ADMs e "sentido de missão cristão" (Bush afirmou recentemente que "falava com Deus", mas provavelmente não levou a sério os conselhos do Altíssimo, nem do Papa) para lançar o caos no país; à frente do qual- ou de algumas partes do mesmo- está um governo nomeado pelos EUA, que por sua vez condiciona a reconstrução do Iraque ás empresas exclusivamente aprovadas por eles próprios. Para colonização, pode-se dizer que o exemplo americano é perfeito.
Bem sei que a política externa francesa é dúbia, oportunista e a maior parte das vezes hipócrita. Mas lançar estas acusações aprovando casos bem piores mostra apenas que se confirmam as minhas piores suspeitas. Por isso, nem estranho. O anti-francesismo já nem precisa de se insinuar: ele aí está, sem disfarces nem pudores.

sábado, novembro 13, 2004

Já estava mesmo à espera

Estou demasiado cansado para grandes posts agora, mas prometo que no fim-de-semana actualizarei devidamente o blog.
Mas gostava antes de deixar um pequeno comentário. Com toda a confusão que se gerou à volta da morte de Arafat, e tendo essa morte ocorrido em França, país que só por si atrai os ódios de meio mundo (a começar pelos adeptos de Mr. W. Bush & Co), não me admirava nada que viessem os suspeitos do costume acusar o Hexágono de "país anti-sionista", "amigo dos terroristas", "política internacional hipócrita" (aqui com certa razão), e outros disparates do gênero. Ao que parece, a caça ás bruxas francesas já começou, embora de forma tímida e desconfiada, com esta suspeita de apropriação de fundos levantada pelo Blasfémias. Não é muito, mas já é um começo.

quinta-feira, novembro 11, 2004

A dúvida

Ainda falando de figuras que atormentam o presente do diário de Notícias, lembro-me de uma passagem no novo programa da SIC-Notícias "Eixo do Mal", que conta com a participação de Nuno Artur Silva, cCara Ferreira Alves, José Júdice, Pedro Mexia e Daniel Oliveira. Tem uma certa piada, com um debate bem humorado mas esclarecido, embora se note que lhe falta alguma rodagem, mas nada que não possa ser corrigido com o decurso do tempo (e já agora, era bom que CFA perdesse um pouco aquele tom poseur, como quando esclarece qual o sentido de "nojo" naquele contexto).
Mas a parte que me interessa ( e que também está relacionado com o período de nojo de Clara) é esta: numa peça rápida, mostra-se Luís Delgado, com ar apressado, dizendo que "já fui Cavaquista, Barrosista, e agora sou Santanista". A declaração deu azo a comentários (sobretudo o de Daniel Oliveira, que afirmou ser Delgado "arraia-miúda da comunicação social"). Mas o que releva é o facto do Administrador da Lusomundo se dar com os líderes do PSD como Deus e os anjos (não por esta ordem). Não há nenhum que tenha sido PM e que ele infalivelmente não apoiasse. Mas fico cá com uma ideia: será que Luís Delgado, durante o executivo socialista, não teve uma fraqueza e metamorfoseou-se em dedicado Guterrista? Disso não fala ele, talvez por temor governamental. Há que investigar, há que investigar.

terça-feira, novembro 09, 2004

Os lunáticos

Já será um pouco tarde, e vários blogues já o divulgaram, mas não resisto a postar sobre um artigo de há uma semana do inenarrável António Ribeiro Ferreira, antigo guerrilheiro do MES, e actual funcionário do Governo, além de admirador incondicional de George W bush, como se poderá ver. Ah, e também sub-director do DN, essa referência jornalística posta agora numa situação lamentável.
No dito artigo, o colunista diz que "a Velha Europa" (expressão rumsfeldiana, que colheu bastantes entusiastas) odeia a América e inveja a sua democracia", "é falsamente pacifista, antiamericana sempre", "é anti-semita(...) está de alma e coração ao lado dos terroristas palestinianos", "soltou umas lágrimas de crocodilo com o 11 de Setembro, sonhou com um novo Vietname no Afeganistão, tentou tudo para evitar a libertação(!!!) do Iraque". Além destas barbaridades, Ribeiro Fereira acusa a "Velha Europa" de tudo e mais alguma coisa: anti-semita, como se disse, mas ainda nazi, fascista, terrorista, amiga dos soviéticos, etc.
Para quem fala em ódio, revela-o em demasia nestas linhas. O ódio a tudo quanto seja europeu e que resista ás tentações imperiais da América mais conservadora e ganaciosa. O ódio a uma civilização com raízes profundas, que viu nascer a Democracia, o Direito e o respeito pelos Direitos Humanos, não obstante uma luta sem tréguas para que tais objectivos fossem alcançados. Palavras de alguém que se atiraria da ponte abaixo se W. Bush assim o ordenasse, não se lembrando que a história não tem duzentos anos, que o anti-semitismo se pratica igulamente ás claras do outro lado do Atlântico, que há inúmeros soldados da "Velha Europa" no Afeganistão, e que na sua "cobardia capitulacionista" não permite infâmias como Abu Grahib a Guantanamo.
De certa forma não admira o estado a que o DN chegou, com gente desta à frente. Gente que chega a invocar Francisco Sousa Tavares, só para aborrecer o filho deste último, Miguel. O problema é que o homem do megafone não daria qulquer importância ao paranoico sub-director: dir-lhe-ia apenas que faz parte daquele tipo de pessoas que "comem à manjedoura do Estado", como deixou claro num dos seus últimos escritos em vida.

Mas as declarações lunáticas não se ficaram por aqui. Sabidos os resultados das eleições norte-americanas, João Pereira Coutinho, durante um debate televisivo com Azeredo Lopes (que tinha antes feito uma curiosa alusão à "institucionalização da boçalidade da Administração dos EUA"), comentou que, á semelhança do voto da Austrália, que pouco tempo antes reconduzira John Howard ao poder, não tinha ganha "o voto terrorista". Embora já me tenha habituado ás declarações explosivas do ex-Infame, não posso deixar de me espantar com a desilegância de tais declarações, apelidando todos os votantes de Kerry de terroristas. O mínimo que se pode dizer, para além de que este é um pensamento muito pouco democrático e tolerante, é que certas pessoas perderam a noção do ridículo e do aceitável, vogando num estado de paranóia latente, para quem todos os que não sigam à risca as suas ideias são perigosos assassinos, à espera de colocar uma bomba na próxima esquina.
E já que se falou em eleições dos EUA, dê-se uma olhada aos registos de Nuno Guerreiro nas mesas eleitorais de Los Angeles, sobretudo aos votos dos judeus russos, agora devidamente naturalizados. Um melting pot delicioso, superiormente registado no Rua da Judiaria (link atrás).

domingo, novembro 07, 2004

Ainda o Acidental

O que disse no post anterior não me impede de criticar o Acidental sempre que julgar oportuno. E o texto de Luciano Amaral (assim como o artigo acoplado do Independente) merece seriíssimos reparos. Não considero o autor "estúpido", "fascista" ou "nazi", epítetos demasiado simplistas e insultuosos, mas não se escapará sem que eu lhe diga que pratica uma boa dose de facciosismo.
Desde logo, quando acha que o "Ocidente tem de perder a vergonha de si mesmo" e que o "Vietname foi uma guerra justificada e militarmente ganha que se transformou, por obra e graça de gente como Kerry, no maior desastre militar da história americana". Quanto à vergonha do Ocidente acho muito bem que continue a tê-la, relativamente a certas acções: guerras escusadas, bombardeamentos injustificados, violação dos direitos humanos, factos como Guantanamo, Abu Grahib, conflitos coloniais, bombas atómicas sobre o Japão, apoio a ditaduras de rara bestialidade, creio que chega, não? O oposto de tudo isto é a arrogância e o não reconhecimento de tantas acções infames cometidas pelas nações europeias e americanas, cujo campeão máximo é o (desgraçadamente) reeleito W. Bush. É a crença de que o Ocidente é perfeito e não comete nunca erros, ao passo que todos os outros são os bárbaros que se devem submeter à nossa suma razão. Depois, claro, vêm os ódios, para espanto de W. e demais seguidores. Sobre o Vietname, não só não vejo qualquer justificação para o envio de centenas de milhares de soldados - quanto muito percebia-se algum apoio material ao Vietname do Sul - como acho que considerar que os EUA ganharam militarmente a guerra é puro delírio: não só perderam contra uma guerrilha mais tenaz e conhecedora do terreno como retiraram rapidamente, permitindo que o Vietname do Norte se apoderasse de todo o território, deixando atrás de si milhares de mortos e estropiados.

Onde é que Luciano Amaral vê a "vitória militar" dos EUA é que eu gostava de saber. Depois, atirar as culpas para a geração Kerry é uma tremenda fuga às reais causas da derrota. Acontece que os grandes apoiantes dessa guerra eram sobretudo aqueles que se safavam dela, e que não conheceram os horrores da luta na selva e nos pântanos, nem assistiram às crueis sevícias aí praticadas. Amaral diz no texto que as violações eram "fantasias". Sabe-se hoje que não só eram comuns, como comuns eram também as práticas de despejar napalm sobre simples aldeias inteiras, na esperança que lá estivessem vietcongs. Ao contrário do que o autor do texto nos diz, praticaram-se terríveis atentados aos direitos humanos durante essa guerra cruel e inútil, denunciados por pessoas como Kerry, que, como qualquer ser de bom senso, teve vergonha do seu país ao assistir a tamanhos actos. Mas Luciano Amaral nega-os ou não lhes liga importância. Abu Grahib também nunca existiu, não é verdade?

Haveria muito a dizer sobre esse texto, mas só queria referir mais este facto: a de que o autor considera que os vencedores da Guerra Fria foram Reagan e Tatcher. É natural, tiveram parte da fama e parte do proveito. Felizmente que a outra parte ficou para quem os merecia: aqueles que viveram do lado de lá da Cortina de Ferro, e que a rasgaram graças à sua acção firme e à sua coragem. Gente como Gorbatchov, Walesa, João Paulo II, Havel ou Dubcek. A eles se deve a queda do Bloco de Leste. Que haja gente que acredita que foram os dois títeres do neoliberalismo anglo-saxónico dos anos oitenta não me admira. Também há quem diga que quem causou o colapso do comunismo foram os Mujahedin. A opinião era de um certo Bin Laden, conhecem?

Para terminar, parece-me particularmente preocupante que o autor do texto ache que "em Bush reside a cura" e que a sua vitória "poderá dar à Europa um cunho reformador". Atirar o destino para os braços de um boçal como Bush é grave. Mas querer que a Europa siga como um cão de fila esta América fanática, ignorante e agressiva que os Republicanos criaram parece-me gravíssimo. Deus nos livre de algum dia o nosso continente, criador da Democracia e do Direito, voltar a aceitar a pena de morte e as prisões da tortura. Quem precisa de uma cura urgente são os EUA, visto que a sua Democracia está gravemente doente. Cada vez penso mais que ser europeu é um privilégio. E que se Luciano Amaral não quer ser tratado como um imbecil que não é, devia estar mais atento ao que escreve, procurando um mínimo de honestidade.
Mea culpa

Rodrigo Moita de Deus, do Acidental, mencionou o post da "Nega caprichosa"que está visível um pouco abaixo, brincando com o facto de o ter considerado o blog governamental por excelência, devido ao facto de não o ler. Leio-o, é certo, mas nem sempre dou a devida atenção a todos os posts, sendo que alguns se me escaparam. Mais atentamente pude constatar que as opiniões são mais heterogêneas do que supunha inicialmente (exemplo claro disso são os "Acidentais por Kerry"), e que talvez a designação que utilizei possa não ter sido a mais justa.
Por isso, as minhas desculpas ao Acidental, sobretudo ao Rodrigo.

terça-feira, novembro 02, 2004

Manifesto d´A Ágora

Estamos já a 2 de Novembro. Um dia que, como todos sabem, poderá ser decisivo não só para os Estados Unidos da América mas também para a Terra inteira, pela relevância que o país tem na actualidade, sobretudo numa época em que predominam o fanatismo e a psicose do terrorismo como nunca antes se viu.
Pela incompetência da actual Administração Americana em combater tal flagelo, desviando os esforços para uma guerra baseada não só em meros erros de cálculo mas também na mentira e em puras obsessões; pelo desprezo a que votou o Direito Internacional e a diplomacia; pelos ódios e fanatismos que tem ajudado a criar; pelas situações de total desrespeito pelos Direitos Humanos que sistematicamente demonstra, cujo exemplo máximo encontrar-se-á na infame base de Guantanamo; pelas políticas económicas e sociais que marginalizam os mais carenciados e fizeram com que o desemprego e a pobreza aumentassem em flecha nos últimos anos; pela forma parcial e interesseira com que trata a questão israelo-árabe, um problema fulcral para o futuro do Médio Oriente e da luta contra o terrorismo; pelas agressões cque se dispõem a fazer contra o ambiente, recusando desdenhosamente o Tratado de Quioto e ameaçando fazer explorações petrolíferas em reservas naturais, sem a menor intenção de apostar em novas formas de energia alternativas; enfim, por toda a arrogância com que encararam todas as questões que não fossem do seu interesse directo - sobretudo o económico - é absolutamente imperioso que John F. Kerry ganhe as eleições presidenciais, sem margem para dúvidas ou "votos desaparecidos". Graças a George W Bush, os EUA são hoje uma nação com uma Democracia degenerada e caótica. Que os eleitores americanos se lembrem de tudo o que atrás foi enunciado e retirem os Republicanos da Casa Branca. Se tal acontecer, haverá ainda alguma esperança para este planeta. Mas se a actual administração permanecer mais 4 anos no poder, esperam-nos negros tempos, sabendo nós que o Mundo não está para graças.
Que a verdadeira Democracia, a Verdade e a Tolerância voltem a fazer parte da América do Norte.

Wait and See
João XXIII

Ainda relacionado com o meu post de ontem, e como se fosse de propósito, a RTP emitiu hoje um telefilme sobre o Papa João XVIII. Deu para ver como serão as conspiraçõezinhas entre os cardeais no seio do Vaticano, e a exagerada influência que por vezes têm sobre o Sumo Pontífice (que poderá ser ainda mais significativa se o Papa estiver debilitado, como é o caso de João Paulo II), para não falar dos interesses políticos que muitos mantêm - embora na época em questão, em que a Itália era governada por uma Democracia Cristã ameaçada por um poderoso PCI, pudessem ser ainda mais relevantes.
João XXIII era sem dúvida o tipo de homem que os tradicionalistas a que aludi ontem jamais gostariam de ver no Trono de Pedro, ou não fossem furiosos opositores do Concílio do Vaticano II e de todas as consequências que dele se retiraram. Ainda hoje se batem pelo regresso aos velhos ritos que perduraram até aos anos 60. E a sua força não será assim tão dispicienda: afinal, quem é que me explica por que razão o último Imperador Austro-Húngaro está já beatificado (por razões insuficientes, a meu ver, embora fosse de uma bom senso irrepreensível), ou o taciturno Escrivá de Balaguer foi em tão pouco tempo canonizado, e o processo de canonização (pese a sua beatificação, há 4 anos) do Papa do "aggiornamento" continua parado? Por falta de milagres? Se a razão é essa, não se preocupem: haverá sem dúvida neste Mundo inúmeros seres que se curaram das suas maleitas depois de umas rezas que incluíram o simpático mas atento Angelo Roncalli. Se até ao Imperador Carlos da Áustria se reza...
Mas talvez a explicação seja mais de ordem cinéfila que teológica ou moral. É que o actor que encarna João XXIII na produção, Bob Hoskins, também já representou figuras mais controversas, como Nikita Khrushchev, que era aliás o líder soviético por alturas do Vaticano II. Coincidência ou não...

segunda-feira, novembro 01, 2004

Fundamentalismo religioso

Acho graça aos que apelidam o Papa e o demais figuras do Vaticano de "Fascistas Católicos". É óbvio que têm um conhecimento nulo do que é o catolicismo e seus princípios, além de ignorarem o que João Paulo II passou enquanto era Karol, ou seja, assistir à ascensão do Nazismo e do Comunismo com a sua Polónia por cenário. Mais ainda, não conseguem distinguir Conservadores de Tradicionalistas. Por muito rígidos que possam ser, o Cardeal Ratzinger e semelhantes clérigos fazem parte do primeiro grupo. O segundo, próximo do qual estará a franja mais extremada da Opus Dei (embora com prudência), é o representado pelo antigo Bispo Lefebvre, cujas acções anti-Vaticano II lhe valeram a excomunhão.
Não sem uma pontinha de paradoxo, é a França, país conhecido pelo seu laicismo militante, por vezes até demasiado (o que lhe vale por parte dos seus detractores epítetos como "país de Jacobinos"), que serve de base aos seguidores do controverso personagem. Ontem mesmo, durante uma celebração na Catedral de Notre-Dame, a propósito do Congresso Internacional para uma Nova Evangelização, um jovem "Lefebvrista" abordou D. José Policarpo, interrompendo-lhe a prédica e chamando-lhe "herético". O motivo devia-se aos encontros ecuménicos entre membros de diferentes créditos no Santuário de Fátima, que mereceram violentos ataques verbais de alguns grupos mais extremistas. Pelos vistos, das palavras passaram aos actos, espalhando propaganda contra a "heresia" dos não-católicos. Para esta rapaziada, todos os que não comungarem da fé católica são incapazes de alcançar a Salvação.
Não é preciso muito para perceber porque é que o Vaticano os exclui liminarmente, ou que o Sr. Le Pen já os tenha invocado. A comparação com os Salafitas muçulmanos ou a ortodoxia judaica é inevitável. O que aqui se prega é no fundo o ódio aos não-católicos (ou a quem não seguir as prédicas dos seus "clérigos"), a obediência cega, o retorno aos vetustos rituais, como a Missa em Latim, em suma, o retorno total à velha Igreja pré-Vaticano II, com tudo o que isso tem de castrador e reaccionário. Não lhes chamarei "fascistas", uma vez que o termo está gasto e a ideologia é diversa. Mas "miguelistas" é um nome que se lhes colaria muito bem. Sim, porque estes cavalheiros também clamam contra os pedreiros-livres, como faziam os frades em tempos do Senhor D. Miguel.
Semelhantes ideias tem um movimento brasileiro, o Tradição, Família e Propriedade, que em nome do seu "pacífico, laborioso e religioso povo" (podiam acrescentar em muitos casos "analfabeto", o que lhes devia dar imenso jeito, por causa de certas dúvidas algo incómodas) prega contra a "esquerda católica", que "articula os tentáculos da acção subversiva para encaminhar o país pelas sendas da miséria e da fome". A imensa hipocrisia das ideias desta sombria associação, que tem como princípios morais coisas como o sexo ter uma mera necessidade reprodutiva, ou a mulher não dever ser exposta à sociedade, advém do facto de, sem a tal "esquerda católica", a miséria e a fome a que fazem alusão nunca teria sido denunciada e combatida, nem teria havido uma maior ajuda ao próximo. Tais problemas sociais são fruto de uma desigualdade gritante contra a qual a dita Tradição e Etc nunca moveu uma palha, bem pelo contrário. As suas ideias ultramontanas são baseadas numa segregação social muito em voga durante os regimes absolutos , que ao que parece deixaram um punhado de saudosistas.
Algumas destas ideias que atrás descrevi sei-as porque as recebi num mail, há já uns tempos, que me enviaram não sei porquê nem a que título. O que é certo é que os ditos senhores não contam com o meu apoio nem para uma palestra, o mesmo se aplicando aos integristas franceses. Provavelmente não me conteria a acusá-los de todos os horrores que proclamam. Mas qual Ratzinger, quais Opus Dei qual quê! É gente desta, ainda mais radical que os seguidores de Escrivá de Balaguer, que contribui para o afastamento progressivo das pessoas do Catolicismo, distorcendo totalmente a mensagem de Cristo, pregando mesmo o seu oposto, exprimindo ódio em vez de Amor, submissão no lugar da Justiça, e privilegiando as trevas em detrimento da Vida. Tais pessoas são, na realidade, o rosto do fundamentalismo Católico. Longe, muito longe, de ser melhor que os restantes fundamentalismos.

quinta-feira, outubro 28, 2004

Excelente o artigo de Rui Moreira no Público de hoje. Recomendado a todos os Tocquevillianos que pretendem justificar qualquer acção externa dos EUA com os mais diversos tipos de argumentos, ou o seu inverso. Ou de como o maior entusiasta francófono dos Estados Unidos pode servir como um exemplo para os Americanos fazerem uma grande introspecção, há muito necessária.. Talvez cheguem à conclusão de que a sua Democracia tem degenerado há muito (e desnecessário) tempo, sobretudo por acção de algumas personalidades menos comprometidas com a ideia de liberdade que levou à união de 13 estados coloniais em 1776.

quarta-feira, outubro 27, 2004

Nega Caprichosa

Clara Ferreira alves não aceitou a mudança para o DN. Não abandonará, pois, a Casa Fernando Pessoa, nem a crónica "A Pluma Caprichosa". Os motivos para tal recusa, esses, são cristalinos, tal como se depreende das palavras da própria. Mas são igualmente preocupantes, pois apenas confirmam aquilo que no fundo já se sabia: a absoluta falta de isenção dos meios controlados pela PT Lusomundo, gerida pelo infeliz Luís Delgado, e a ausência de uma real liberdade de imprensa em matérias que possam estar de alguma forma ligadas ao Governo. Depois das "calinadas" desse pára-quedista governativo que é Gomes da Silva e das recriminações de José Eduardo Moniz, José Manuel Fernandes e José António Saraiva (não, não vou criticar os seus artigos, desta vez), bem como das declarações pouco felizes do Ministro Morais Sarmento sobre a programação da RTP, esta "nega" é mais um golpe na (pouca) credibilidade do Executivo e dos seus meios instrumentais, como a própria Lusomundo. Havia dúvidas? Não creio. Mas se alguém as tinha, elas ficaram esclarecidas.
Mas não se pense que o esclarecimento toca a todos. Há quem não tenha as menores dúvidas e continue, incompreensivelmente, a defender o grupo de Santana. Na blogoesfera há alguns exemplos. Este é talvez o protótipo do blog governamental, não se sabendo porque é que a PT Lusomundo ainda não procedeu à sua aquisição(até porque dele faz parte Vasco Rato, um dos indefectíveis de Luís Delgado). Críticas ao actual Governo? Jamais. Dali só se esperam floreados elogios e crónicas do "País das Maravilhas" (ou, como dizia hoje Morais Sarmento, fascínio por estes primeiros cem dias). Em alternativa, haverá sempre a exaltação da Administração Bush e a diabolização dos Democratas, como se certas questões, como a do Iraque, decorressem no melhor dos Mundos.

sábado, outubro 23, 2004

Links


A Cabala Involuntária: um texto hilariante e inderrogável de Eduardo Prado Coelho. Se Gomes da Silva leu isto, deve ter as orelhas de um vermelho explosivo.

Um exemplo da Turquia: um construtor civil condenado a 25 anos decadeia, por negligência na construção de um prédio, cujo desmoronamento aquando do terramoto de 1999 causou quase duzentas vítimas (via Janela para o Rio).
Em certos aspectos, os turcos até estão mais próximos da UE do que nós.
Aliás já ontem tinham aderido ao TPI. Nesse particular aspecto, estão mais próximos da civilização do que os EUA.
Quem quer fazer figura de urso?

Esta semana estive a ver o Programa "Quem quer ser Milionário", da RTP 1. Apresentava-se ás câmaras uma menina loura, de ar algo deslocado e gestos coquettes, com a intenção de ganhar uns trocos. Tinha a "paixão pelo mar e pelo surf", além de umas respostas de ocasião sobre quem era e o que fazia. Viu-se desde o início que não podia aspirar a muito mais. A ignorância que demonstrou do princípio ao fim transformou o concurso em programa de humor.
Pode parecer mentira, mas a não muito simpática rapariguinha disse coisas como "acho que a Guarda fica na região de Entre Douro e Minho", ou que as Maldivas ficavam nas Caraíbas, além de outra dúvida estapafúrdia que agora não me vem à cabeça. No fim, lá se safou com 500
Euritos, o que a livrou de um perfeito enxovalho (era notório que o próprio apresentador, Jorge Gabriel, gozava com a situação).
Ao contrário do que se poderia pensar à partida, a menina não tinha apenas a 4ª classe, nem andava a limpar escadas, sem habilitações para ir mais longe. Não. O chocante desta história toda é que era uma estudante de medicina que tinha entrado na faculdade com 19 valores de média!
Se alguém queria exemplo mais cabal da incultura entre estudantes universitários escusa de continuar à procura. Se ainda há quem ache que as boas notas são sinónimo de vastos conhecimentos, lamento desiludir a(s) pessoa(s) em questão. A moral da história está aí, e envolve palavras como marranço, cultura e triste figura (que nada tem a ver com o caballero da Mancha).

terça-feira, outubro 19, 2004

Enfim descoberto...

...o "Inimigo Público" da blogoesfera: o Irmã Lúcia

(Creio aliás que o autor, Luís Camilo alves, é um dos criativos de serviço do suplemento satírico do Público).

segunda-feira, outubro 18, 2004

Frase do dia

Mais uma vez poderia falar nas mais recentes loucuras de José António Saraiva e João Pereira Coutinho, nas suas colunas semanais do Expresso, mas seria bater no ceguinho, e sinceramente tais artigos fazem-me apenas menear a cabeça e soltar de quando em quando um ligeiro riso.
Vou cingir-me a mostrar este post do FNV do Mar Salgado, que quanto a mim contém um par de frases de antologia, tão incisivas quanto verdadeiras:


Quinhentos? Diria antes mil. Com sete cabeças e um fato como os do Conde de White Castle.
Razoável empate

Tanto o golo do McCarthy como o do Petit são dignos de nota.
Pena a falta de civismo dos dirigentes, mas não é nada a que não estejamos habituados.

quinta-feira, outubro 14, 2004

Posts sobre a bola

Como era previsível, à medida que se aproxima o clássico Benfica-Porto, lá teria de vir a polémica do costume, antes do próprio jogo. E para tristeza minha, o maior culpado é desta vez a direcção do meu clube, com uma atitude despropositada e pouco desportiva. As "razões de segurança" apresentadas são muito pouco convincentes, e o argumento de que a SAD do Porto só teria pedido os bilhetes por fax fora de horas, depois de os ter requerido verbalmente, mostra, apesar de alguma razão formal poder ser invocada, que a direcção "encarnada" agiu sem o menor bom senso numa questão que já de si era delicada -um SLB_Porto que, se não é decisivo, será sempre de grande importância em termos de contas para o campeonato. À última hora parece que afinal os adeptos do Porto que de uma forma ou de outra conseguiram ingresso ficarão juntos, embora me pareça um plano muito feito sobre o joelho. Até porque a maioria dos titulares de tais bilhetes são os tristemente célebres SD, um conjunto de delinquentes que se tem mostrado particularmente mediático nos últimos tempos e que exemplifica bem o que de pior há nas claques futebolísticas. Enfim, que venha o jogo. E que, sem problemas de segurança de maior, ganhe o melhor (isto é, o SLB).

Ainda relaccionado com o Benfica, um dos próximos jogos a ser travado nas competições europeias será em Estugarda, com a equipe local, por sinal uma das melhores da Alemanha, e onde se terá a oportunidade de reecontrar o ex-capitão Fernando Meira. O sorteio é bastante desfavorável, já que não só implica um jogo complicado face aos rapazes do grande Mathias Sammer como impede que se faça uma boa bilheteira em casa própria. Mas além dos aspectos desportivo e financeiro há ainda o aspecto supersticioso: é que se as pessoas, e particularmente os benfiquistas bem se lembram, foi precisamente no Daimler-Stadiom de Estugarda que o SLB perdeu aquela final da Taça dos Campeões nos penalties, face ao PSV. Sim, o jogo do penaltie do Veloso (desgraçado, que tal cruz carregas!). A sorte é que desta não há grandes penalidades no fim, Mas talvez uns livres directos a nosso favor ajudassem...

E falando em fantasmas, Alvalade voltou a reviver novo 7-1, desta vez da equipa nacional à Rússia. Depois do empate com o Liechenstein (trocaram os resultados?), nada melhor que a cabazada que os rapazes enfiaram aos abúlicos descendentes de Yashin. Com fogo nas sapatilhas, a Selecção não perdoou e foi ver bomba após bomba à baliza do pobre discípulo de Dassaev, que aliás, do su banco, ostentava um irónico sorriso de total resignação. Os herois voltaram. Pede-se-lhes é que continuem assim, para sempre.

quarta-feira, outubro 13, 2004

And Now for Something Completely Different

Na 2 regressaram os périplos de Michael Palin. Depois de uma carreira dedicada aos Monty Python e restantes comédias (quem não se lembra do seu papel de gago filo-piscícola em "A fish called Wanda"?), o incansável viajante deu a volta ao Pacífico de uma ponta à outra, atravessou o Sahara, e ei-lo agora a trepar avidamente os Himalaias a partir do sinuoso e temido passo de Khyber. Como sempre, metido em situações burlescas e inesperadas, como a da corrida de bois no Paquistão acompanhado por um princípe tribal de compridos bigodes, ou da visita ao dentista de Peshawar. A partir de hoje, premindo o botão correcto do zapping.

segunda-feira, outubro 11, 2004

Conversas em família

Tal como se esperava, a mensagem do Primeiro-Ministro ao país não passou de um comunicado soporífero, desfiando medidas promocionais do seu Governo, ou promessas a cumprir (algumas altamente contraditórias). Tudo soou a déja vu, palavras banais, auto-promoção, enfim, o esperado. Com a agravante de se ter dado durante e não depois dos noticiários, como seria regra, no que constituiu um certo "tiro no pé" para quem queria dar uma imagem diferente da de Gomes da Silva na passada semana. Tão previsível era que rapidamente me voltei a concentrar no pacato jantar em família, até me lembrar da mensagem de Sua Exª; era todavia tarde: tão interessantemente como falara, Santana Lopes desaparecera do ecrã para dar lugar ás costumadas e igualmente esperadas reacções políticas.
Mais uma pérola

O Arquitecto José António Saraiva, julgando-se como sempre um iluminado da imprensa, escreveu mais uma pérola na sua crónica do Expresso "Política à portuguesa" (link inacessível, desculpem). Segundo Saraiva, "numa sociedade de mercado em plena Europa, nenhum Governo tem a possibilidade de controlar a informação". Anda sem dúvida mal informado, o que é grave para um directo de um dos mais conhecidos semanários nacionais. É não reconhecer o poder que certos governos da UE têm sobre vastos orgãos da comunicação social, com especial (e escandalosa) incidência em Itália, ou de pressões feitas feitas em França, Reino Unido ou Espanha, como no caso da autoria dos massacres de 11 de Março, por exemplo.
A propósito, o colunista fala de "pressões e ameaças" como se isso constituísse uma situação minimamente normal num estado se direito; mas sim, para Saraiva "todos os comunicadores sofrem pressões", e "o problema não está nas pressões, mas no modo como se lhes reage". Edificante.
Para Saraiva, portanto, pode haver pressões , ameaças e o diabo a sete que fica tudo no melhor dos mundos. Mas o Arquitecto acha que "fazer disto um caso nacional só num país de opereta como Portugal se vai tornando. Um país que perdeu o sentido (...) do ridículo".
Fica-se pois a saber que o director do Expresso achou perfeitamente normal todo este caso, e que o facto de Marcelo saír da TVI é uma ligeira alteração no mercado da Comunicação Social. Não lhe ocorreu o grave que é vermos um Governo a ameaçar ferozmente uma opinião independente, com epítetos como "calúnias mentirosas" quando Marcelo criticou a ponte de 5 de Outubro, ou pressionar intoleravelmente a Alta Autoridade com a farsa do "dever de contraditório". Nem se lembrou da enorme audiência e ainda maiores efeitos que o Professor tinha num vasto número de cidadãos, cujo apagamento jamais seria sentido sem repercussões.Para ele tudo se resume a uma questão de mercado ou de oportunidade, e o caso deveria ter sido quase abafado. Mas é natural que "Portugal tenha perdido o sentido do ridículo", com fazedores de opinião deste calibre. Muitas vezes os colunistas revelam o que de pior há no país. Sobretudo os colunistas de opereta.
Será que Saraiva vai voltar a lançar o tema do Iberismo? É possível. De tal mente há que esperar tudo.

domingo, outubro 10, 2004

Empate com o Liechtenstein

Qual é a admiração? Eu também já perdi com uma equipa de gandulos da faculdade, e era quase tão bom "keeper" como o Ricardo. A Selecção até empatou fora. Nem é mau.

quinta-feira, outubro 07, 2004

C-E-N-S-U-R-A

O que se passou nos dois últimos dias é demasiado grave para omitir uma opinião. Já era mau que o Ministro Gomes da Silva (o "moço de fretes" favorito de Santana Lopes, e o primeiro nome que vem à cabeça quando se fala de "Santanistas") andasse a pressionar a AACS para aplicar o "princípio do contraditório", termo jurídico erroneamente chamado ao caso, relativamente aos comentários de Marcelo Rebelo de Sousa na TVI sobre a ponte de 4 de Outubro - comentários esses perfeitamente pertinentes sob o meu ponto de vista. Mas o facto de Marcelo se ter hoje desligado da sua actividade de comentador do canal privado sem mesmo dar a resposta dominical a Gomes da Silva, a falta de explicações de fundo para a saída, e para mais com as ulteriores críticas à actuação do governo por parte do marcelista Marques Mendes levam a crer, sem a menor dúvida, que as pressões governamentais deram resultado. Existe mesmo a desconfiança de uma possível "chantagem" negocial com o "patrão" da TVI, Paes do Amaral, personagem que, pelas declarações que proferiu, em especial numa entrevista dada ao Expresso, não hesitará em atirar para trás das costas certas regras de conduta em nome da eficácia negocial.
Se algum contraditório fosse desejável, o governo deveria utilizar os seus porta-vozes e os seus assessores para a comunicação social, e não manipular, de foma autoritária e ilegal, a Alta Autoridade. A única diferença entre o que se passou hoje e casos semelhantes nos tempos do Estado Novo é que agora há a possibilidade de se insurgir e reclamar contra tais arbitrariedades. Mas a conduta do governo tem um nome, e esse sabe-se bem qual é.

quarta-feira, outubro 06, 2004

Dia de Infâmia

5 de outubro.
Quando os orgãos públicos de comunicação social se voltarem a lembrar de referir o 1 de Dezembro, talvez deixe de ser tão contundente em relação à data.
E já agora, podiam recordar um pouco o 24 de Agosto (não é por serem os meus anos) de 1834, em que teve lugar a Revolução Liberal e uma nova mentalidade neste país.
Relativamente ao dia corrente, o melhor frase, da autoria de Pedro Mexia, é esta:

"Sou benfiquista 364 dias por ano. Mas neste dia sinto-me sempre azul e branco."

Faço minhas tão sensatas palavras.

segunda-feira, outubro 04, 2004

Opiniões sobre um estado crítico

Mais uma vez menciono João Pereira Coutinho, a propósito das suas visões, exprimidas este fim-de-semana no Expresso (sem link). Na sua crónica semanal, Estado Crítico, JPC discorre sobre a eleição de Sócrates para Secretário-Geral do PS, apontando não os seus méritos mas o "fim do prazo de validade " dos seus adversários, "desde 1989". Mas não se limitando ao passadismo de Soares e Alegre vai mais longe: "o ano de 1989 representa o fim de todo um ideal "igualitário", iniciado duzentos anos antes nas tropelias de Paris". Eis de novo a Revolução Francesa posta em causa por mais um colunista (não, não me esqueci do prometido post sobre o anti-francesismo, só que leva tempo), uma vez entre muitas. JPC, que se arroga de importantes estudos sobre os grandes movimentos sociais e políticos não devia cometer erros históricos tão apressados. Pesem todas as violências, prepotências e abusos cometidos pela Revolution, ninguém de bom senso pode apoucar a enormíssima importância social do acontecimento, e das consequências que trouxe para a Humanidade. Embora muitos queiram nomear a Revolução Americana (e a inglesa!) como pioneira dos modernos regimes democráticos, o certo é que as suas bases surgiram precisamente em 1789, com os fundamentais príncípios de "Liberté, Égalité, Fraternité" e o surgimento da política tal como a conhecemos hoje em dia, com as consequentes divisões esquerda/direita - embora este conceito esteja em crise.
A liberdade e o estado democrático em que vivemos foram, repito-o, directamente derivadas da França revolucionária, e relembro-lhes que é um monárquico quem escreve estas linhas. Por muito que isso custe a JPC, os seus efeitos não se esgotaram em 1989, ao contrário dos da Revolução Russa. Mudaram, irreversivelmente, a História e o Mundo, mesmo que nem sempre a prática seguisse a teoria. Não é preciso ser um seguidor de Robespierre para perceber isso.

A seguir, o ex-Infame refere a situação desesperada de Kenneth Bigley, refém do bárbaro grupo do famigerado Al-Zarqawi. Escreve JPC : "ninguém é capaz de parar com os actos criminosos de Al-Zarqawi (...)Segundo opinião geral, o drama (...) é responsabilidade imediata de Blair ou de Bush (...) Pior: se não houvesse ocupação do Iraque, o terrorismo estaria quieto e manso (...) As vozes de acusação só servem para ilibar os responsáveis objectivos." Pois bem, há que dizê-lo: apesar dos assassínios (e não execuções, como lhes chamam) serem perpetrados por criaturas da laia do dito jordano, Bush e Blair tiveram uma imensa culpa nisto tudo. Será demais repetir que ao invadir o iraque, sob argumentos falsos e jogos de bastidores, não só massacraram todo um país como permitiram o caos e a entrada de terroristas da pior espécie, que só esperavam pela guerra para fazer do Iraque o seu quartel-general? A mortandade diária e a anarquia que reinam na Mesopotâmia são da inteira responsabilidade de quem resolveu brincar ás guerras sem o menor projecto nem ideia de organização do território quando derrubasse o regime vigente; o resultado está á vista, com os culpados lavando as mãos na suposta "guerra contra o terrorismo". Como se tal insensatez não fosse um tremendo tiro no pé. A impotência dos ocupantes vê-se quando JPC afirma não ser possível parar Zarqawi. Se assim for é porque não estão minimamente preparados para uma operação de captura eficaz, salvo despejar bombas do ar. O cronista confessa-o, algo inconscientemente: as forças da coligação perderam todo o controlo da situação. E o demónio anda á solta no Iraque, destruíndo-o a cada dia que passa.

Por fim, e destoando da opinião que mantive sobre as anteriores partes da coluna de JPC, há que reconhecer a pertinência do que ficou escrito a propósito dos 100 anos do nascimento de Graham Greene e da sua opção pelo catolicismo, ainda na sua juventude. Diz-se então: "Escolher Deus é escolher também as suas desumanas exigências: a forma como o imperativo moral pende sobre as nossas patéticas carcaças, sempre dispostas à errância e à mundaneidade".
Aqui assino por baixo: a recusa do vazio para abraçar Deus é algo de francamente difícil, ainda que serenamente ponderado. Reconhecer os princípios que sabemos próprios do Criador, ou de uma crença que o represente, e estar consciente das nossas limitações como seres humanos, e portanto imperfeitos logo pecadores, mais pesado se torna. A opção de Greene, numa altura em que todos os totalitarismos se erguiam das sombras, é assim ainda mais admirável. Por isso, pode não ter sido um modelo de virtudes cristãs (teve mais de um caso extra-conjugal), mas tentou respeitar os seus mais fundos princípios, e mais que isso, transpô-los para os livros, que criou de forma admirável, embebidos ora num fundo de espionagem em paragens longínquas ora num clima de romantismo comovente, tão insuperável como as suas páginas.

domingo, outubro 03, 2004

Adenda

Lamentavelmente esqueci-me de colocar no post anterior outro "blog urbano", cujo nome evoca a solidez do granito portuense: o incansável Quartzo, Feldspato & Mica, que há bem pouco tempo completou um ano. O esquecimento está colmatado.
Todos os outros blogs do gênero que se revelem de igual interesse que me perdoem, mas ficarão para um post futuro.

sexta-feira, outubro 01, 2004

Os blogs urbanos

Apesar da minha simpatia pelo ambientalismo e ecologia, e de apreciar um bom passeio bucólico ou tão só uma tarde de inacção a apanhar raios de sol entre um prado ou uma vinha (perdoem-me a veia poético-lamechas), sou um incansável apreciador das paisagens e ambientes urbanos.
Sejam skylines, ícones, mitos ou atracções monumentais, as cidades são uma fonte inesgotável de interesse, com a sua história - e as suas estórias - e encontro de culturas, onde se misturam personagens bizarras, cidadãos anónimos e estranhos de passagem, enquadrados por pedras seculares, edifícios e betão ou elementos naturais que se imiscuem por entre a vida urbana.
Também a blogosfera se dedicou ao caso, relativamente a algumas cidades portuguesas. O Avenida dos Aliados é um óptimo representante da classe, desvendando mitos e histórias da cidade do Porto, exprimindo sensações, exibindo fotografias luminosas, apesar do granito, ou gravuras de um burgo do passado. Curioso é também o Bateria da Vitória, mais diversificado quanto aos assuntos, e que apresenta algumas ideias interessantes, embora discutíveis. Têm é aquele pequeno defeito de serem portistas indefectíveis, mas pronto.
Outro exemplo, agora Alfacinha, é O céu sobre Lisboa. No início um blog dedicado apenas aos aspectos mais fugidios e despercebidos da capital (e ao seu clima, fazendo jus ao nome), tem vindo ultimamente a divergir para outros pontos do país, nomeadamente ao sul. Também ele um excelente blog que nos revela segredos e curiosidades, contando também pequenas histórias do que melhor Lisboa tem para oferecer.
Esperam-se mais insignes blogs urbanos, sejam nacionais ou estrangeiros. O assunto é vasto, e matéria para escrita não faltará seguramente.

terça-feira, setembro 28, 2004

Quando uma mãe mata uma filha, e por "motivos fúteis", o que costuma acontecer ás pessoas minimamente normais é revolverem-se-lhes as entranhas. O sentimento é semelhante se vemos uma multidão em fúria, querendo fazer a todo o custo "justiça popular", por mais perverso que seja o criminoso.
É com este tipo de coisas que os nossos noticiários começam. Com isto ou com mais uma bomba no Iraque, que deixa atrás de si mais umas dezenas de mortos e estropiados.
Como é que uma pessoa, com tais cenários, não há de ficar mais atento ao futebol?
Onde é que eu já ouvi isto?

A guerra chegará "a toda a parte, a todos os cantos", avisa responsável de Telavive.

Por mais sinais de "civilização" que tentem dar, os fanáticos, sejam muçulmanos, judeus, cristãos ou ateus, usarão sempre os meios ao seu alcance para atingir os seus (por vezes sinistros) fins. E não raramente proferem declarações coincidentes. A frase "linkada" poderia ser facilmente atribuída a um membro da Al-Qaeda.
Agora impôe-se a questão: se assassinar alguém, mesmo que seja um dirigente de um grupo terrorista, recorrendo à técnica do carro armadilhado, numa capital estrangeira, não fôr ela mesmo uma acção de terrorismo, então o que será? Um "ataque preventivo"?

quinta-feira, setembro 23, 2004

Os dias da bola

O momento dos principais adversários do SLB é autêntica mas felizmente estranho. O habitual vizinho de Lisboa exibe performances assustadoras, mais que os próprios resultados, o que não deixa de me espantar, porque estava à espera de mais de José Peseiro. Quanto ao Porto, concretizam-se os meus vaticínios das discussões de Verão perante os meus encarniçados amigos portistas, que afirmavam que, com tal equipa, "o campeonato estava entregue". Esqueciam-se porém que não tinham uma equipa, mas tão somente um amontoado de jogadores talentosos, sem um verdadeiro fio de jogo ou noção de actuar em bloco. Provavelmente nunca uma declaração de Pinto da Costa terá sido tão infeliz como a "já desde dia 20 de Agosto que não ganhamos nada". Qual maldição desportiva, o FCP não voltou a ganhar nehum jogo desde então; talvez isso explique o silêncio actual do líder das Antas.
O SLB, por seu turno, segue tranquilamente o seu caminho. É ainda muito cedo para cantar embandeirar em arco, mas parece que esta equipa de Trapattoni é coesa, disciplinada e serena, coisas que faltaram ao futebol do SLB nos últimos anos. Os próximos jogos, de grande grau de dificuldade, confirmarão ou não isso mesmo. E não esquecer que uma das grandes virtudes do técnico transalpino é, a par do rigor táctico e da enorme experiência, a capacidade de transformar futebolistas medianos em grandes jogadores, graças ao qual a Juventus dominou a primeira metade dos anos 80 e a Itália constituiu a base da equipa campeã do mundo em 1982.
E que tal descer à capital para ver um joguinho no imenso anfiteatro da Luz?
Ou melhor ainda, ver o que se passa no fantástico campeonato da vizinha Espanha, onde o não menos fabulosos Valência aplicou chapa 5 ao Corunha, em pleno Riazor. Irresistível, não é?
Links e remissões

O tempo tem escasseado para posts mais profundos, por isso estou condenado a fazer links para o que de melhor se vai escrevendo na blogoesfera.
Desde já, a descoberta de um interessante blog, o Mescrita, que além de chamar a atenção para assuntos assaz relevantes, partilha duas características d ´A Ágora: é benfiquista e portuense, duas coisas que poderão aliás parecer algo divergentes para os mais incautos.

Não quero deixar ainda de assinalar:

- a chamada de atenção que o Barnabé faz para o centenário do nascimento de Graham Greene, quanto a mim um dos melhores (e mais interessantes escritores) do século XX, ao que parece algo infamemente esquecido, com referências ainda a obras como "O Americano Tranquilo" e a adaptações dos seus livros ao grande ecrã;

-o post no BdE, alusivo a um artigo de Mega Ferreira na Visão, sobre a verdadeira história do roubo dos frisos do Parténon por Lord Elgin, com pormenores que francamente desconhecia - embora quanto a mim omita as tentativas da grande Melina Mercouri para a sua devolução ao povo grego e ao local de onde nunca deviam ter saído;

-a típica situação descrita pelo meu homónimo do Esplanar; já, já me aconteceu: aliás, das coisas que mais me acontece é exactamente estar a ler um volumoso livro e, por qualquer inspiração, escrita ou não, divergir para uma infinidade de assuntos, até que, meia hora mais tarde, desperto e reparo que continuo a ler a mesma linha, qual disco riscado na grafonola.

quarta-feira, setembro 22, 2004

A ler...

...e a pensar, os posts de um dos mais criativos e originais blogs que por aí andam,
A Tasca da Cultura, intitulados "Survival". Ou de como as situações urbanas nos podem por vezes tornar indiferentes, cínicos ou simples sobreviventes da vida corrente.

domingo, setembro 19, 2004

Seguindo aquela máxima, com seu quê de infantil, é certo, que diz que "quando queremos, todos os nossos sonhos se podem tornar realidade", um dos desejos que exprimi neste mesmo blog vai-se tornar realidade: Gonçalo Cadilhe vai lançar, lá para Dezembro, um livro narrando a sua viagem à volta do mundo, e que semanalmente aparecia no Expresso. Disse-o ontem em entrevista à rádio, confirmando todas as minhas suspeitas. Um desejo prestes a ser concretizado, em suma. Não é exactamente o mesmo que ver o Benfica ser de novo campeão europeu, ou que a mulher dos nossos sonhos tornar-se a mulher da nossa vida ( conceitos diferentes, tantas vezes confundidos), mas será sempre grato imaginar as travessias dos EUA e Pacífico, ou nas dificuldades em passar-se o Passo de Khyber, ou ainda na beleza dos vales da Bulgária ou das barreiras de coral. (Quase) Tudo sem o recurso ao avião. Até lá, aguardemos fanaticamente, com alguma serenidade à mistura.

sexta-feira, setembro 17, 2004

Detenham-no que ele sabe alguma coisa!

Por esta é que ninguém esperava. Apesar do público e profundo conhecimento sobre as ideologias e os sistemas políticos de que João Pereira Coutinho faz gala em conhecer mais do qualquer outro mortal, não imaginava que o dito blogger e colunista tivesse relações pessoais com fundamentalistas islâmicos, daqueles que se regozijaram com o 11 de Setembro de 2001. Mas é o que ele diz aqui, preto no branco. Onde estão a CIA , o FBI ou o Mi-5 quando mais são precisos? É que neste caso impõem-se alguns interrogatórios...

quinta-feira, setembro 16, 2004

O Batman do triângulo cor-de-rosa

Há realmente campanhas de gosto duvidoso. Destacam-se entre estas algumas da Abraço, em especial as já afamadas "Galas Travestis", que não só me parecem profundamente inúteis como já chegaram a ocupar mais tempo nos noticiários do que o pricipal feriado nacional (nesse mesmo dia).
Uma das tais campanhas tem tanto de burlesco como de risível. Dirigida aos homossexuais (creio que um pioneirismo), mostra uns efeminados Batman e Robin, de mãos dadas e tons rosados, apelando ao uso do preservativo; mas o que mais há de estrambólico é o uso do famigerado triângulo rosa, uma memória dos Campos de Concentração nazis, para onde os homossexuais eram levados ostentando tal símbolo. Para quê, então, colocar esse sinal no anúncio? Será um qualquer desafio radical, com um argumento do tipo "os preconceitos da sociedade pouco evoluíram desde a 2ª Guerra", ou "sofremos uma discriminação pró-nazi"? Espero bem que tais ideias não passem senão nas mentes mais perversas, mas seria bom que justificassem a presença do triângulo de má memória no século XXI. É que também não me passa pela cabeça ver judeus usando na lapela aquelas Estrelas de David. E duvido que os gays façam passar melhor a sua mensagem com o recurso sistemático à provocação circense.

Os promotores das campanhas da Abraço, de resto, devem andar com as ideias sexuais algo desfocadas. Veja-se quem arranjaram atraír a população heterossexual masculina! É duvidoso que o Super-Homem sirva da melhor maneira tais propósitos. E que faz a candidata a Lara Croft (embora mais bisonha e menos sensual que Angelina Jolie) chamando a atenção da "população heterossexual feminina"? Estranho. Agradecia-se algum bom senso, no mínimo.